Por Johann Heyss
Caro leitor (a), com este artigo tenho o prazer de iniciar uma série de muitos outros sobre numerologia e assuntos correlatos no site Vya Estelar. A ideia é esclarecer dúvidas e mitos sobre este conhecimento esotérico, apresentar novos enfoques e também responder a questões apresentadas pelos nossos leitores.
Nesta estréia, acho interessante abordar um tema conhecido, na maioria das vezes de maneira incorreta, que é a relação entre o filósofo grego Pitágoras de Samos, que viveu há cerca de 2600 anos, e a numerologia.
Pitágoras foi, além de filósofo e matemático, um místico, estudioso das leis naturais e esotéricas. Muitos se lembram de Pitágoras com terror, devido a seu famoso Teorema. Mas estudiosos de esoterismo associam seu nome às técnicas numerológicas conhecidas. Desta forma, criou-se inclusive a denominação "numerologia pitagórica".
Antes de avançarmos neste assunto, questiono: seria a numerologia e o esoterismo, como um todo, uma mera superstição? Se fosse, não seria necessário estudar, ler ou se informar sobre estes assuntos, já que a superstição nasce da ignorância sobre um determinado tema. A superstição é uma armadilha irracional que aprisiona o bom senso humano e perpetra inverdades. Quando evitamos um gato preto ou tememos o número 13, estamos nos rendendo a um primitivismo antievolutivo, que só pode ser totalmente indesejável. A numerologia, e o esoterismo como um todo, são muito mais do que isso.
Todo conhecimento humano, seja científico (passível de provas mecânicas e irrefutáveis em laboratório ou empiricamente), artístico, filosófico ou técnico, deve estar sempre em constante evolução, em constante reforma. A medicina ainda hoje rende homenagens a Hipócrates, também grego, considerado o pai da medicina. Entretanto, seria insano manter as diretrizes e práticas de Hipócrates. Se fosse assim, a medicina não teria dado os seus incontáveis saltos. Da mesma forma, a arte e a filosofia estão sempre em marcha evolutiva, se adaptando e revendo seus códigos.
Esoterismo: tênue linha entre ciência e arte
O mesmo deveria acontecer com o esoterismo, ramo de conhecimento humano. Apesar de não ser exatamente ciência nem arte, o esoterismo se encontra entre estas duas linhas do saber. E não há razão pela qual os sistemas esotéricos não possam ou não devam ser constantemente revistos, atualizados e expandidos. Se isto não for assim, cai-se no vácuo da superstição e da religião, posto que ambas – cada uma à sua maneira – lidam com dogmas, conceitos absolutos e imutáveis ou inquestionáveis.
Lamentavelmente, é comum encontrar o estudo esotérico ligado a "canalizações", "tradições" e outras modalidades de cristalização e atrofiamento de conhecimento que são impossíveis de provar, questionar, demonstrar ou discutir. Contudo, o estudo esotérico nasceu e deve continuar se desenvolvendo rumo ao saber, à busca de caminhos, e não rumo à auto-indulgência e a estradas fechadas que levam à estagnação.
Não devemos ter medo de pesquisar, de procurar por respostas verdadeiras. Não devemos ter idéias pré-concebidas, nem considerar o estudo esotérico como algo "sagrado" e intocável. A humanidade como um todo parece concordar que a vida humana é o que há de mais sagrado, e a medicina sempre foi e continua sendo pragmática ao lidar com estas vidas humanas. Não vivemos mais na época em que a Igreja determinava aquilo que as ciências, artes e filosofias poderiam ou não veicular. Portanto, para que o esoterismo, e no caso aqui em questão, a numerologia, possam ser de real valia, é fundamental uma abordagem prática e objetiva da mesma, sem crendices ou "tradições" inócuas.
O que é a 'numerologia pitagórica'?
A resposta é uma só: não existe, nem nunca existiu, tal coisa. Vejamos: a numerologia é uma disciplina ou conhecimento esotérico cujas bases são o alfabeto latino/romano, sendo tais letras associadas aos algarismos correspondentes em ordem numérica. Então, podemos logo de início questionar como poderia o grego Pitágoras ter trabalhado com um alfabeto que lhe era totalmente estranho.
De toda forma, o alfabeto grego, bem como o hebraico, tem os mesmos símbolos para seus números bem como para seus algarismos, ou seja, alfa vem a ser ao mesmo tempo uma letra e um numeral. Esta idéia é parte da numerologia, quando associamos a letra A ao número 1, a letra B ao número 2, e por aí vai. Mas isto se aplica, como citado, também ao alfabeto hebraico, e daí vem a gematria, uma disciplina da cabala que é a origem da tese numerológica, mas não de sua técnica – o que seria assunto para outro artigo.
Contudo, Pitágoras de Samos não deixou qualquer texto escrito de próprio punho, e entre seus seguidores e pesquisadores, jamais foi encontrada qualquer referência a um mapa que fosse calculado através do nome e da data de nascimento, em grego ou em qualquer outra língua, usando qualquer alfabeto que fosse. Sendo assim, Pitágoras não tem nenhuma relação direta com a numerologia. Nenhuma. Certamente, o filósofo inspirou e influenciou muito mais a matemática, e não a chamamos de "matemática pitagórica".
Por que existe associação entre Pitágoras e a numerologia?
Creio que há neste ensejo por associar Pitágoras à numerologia uma ânsia por conferir legitimidade ao estudo esotérico dos números, o que é contraditório, pois uma inverdade histórica só pode comprometer ainda mais a seriedade de um estudo, já normalmente tão vilipendiado e associado a fraudes que levam as pessoas a adotar nomes inócuos ou acreditar em previsões de futuro.
A numerologia, com todo o respeito a este grande filósofo que estudou, sim, as virtudes místicas dos números, não precisa disso. O que a numerologia precisa é de pesquisa séria, para que possamos estar constantemente ajustando e aperfeiçoando o conhecimento, para que ele de fato cumpra seu papel, que é o de orientar e ajudar no autoconhecimento, e não trazer fórmulas "mágicas" ou soluções instantâneas.
Portanto, não existe uma "numerologia pitagórica". Existe simplesmente a numerologia, a qual trata do aspecto metafísico dos números.