por Rosemeire Zago
Sofremos muitas vezes por comportamentos aprendidos como corretos em uma época de nossa vida em que não tínhamos discernimento para escolher. Todos sabem que a formação que a criança recebe na infância influencia toda sua vida. Atos, opiniões sobre religião, costumes, moral, preconceitos, regras de conduta, princípios, que variam culturalmente de família para família e, interiormente, de criança para criança. Tudo isso se modela e se delinea sem sequer analisarmos, quando adultos, se ainda continuam a ter algum valor, mantendo o mesmo pensamento e valores, dos quais sentimos muita dificuldade em nos libertar.
Apenas continuamos a repeti-los, e sofremos por verdades que permitimos se tornarem absolutas, mas quando as analisamos descobrimos que jamais foram as nossas verdades. E ainda assim, conscientes disso, permanecemos estagnados.
Se não houver preocupação em erradicar os velhos padrões ou crenças inadequadas ao nosso mundo interior, corremos o risco de viver sob as condições do que nos ensinaram que é correto, mas que nada nos vale em nossa própria vida, só nos causando conflitos, sofrimento e prisões, da qual somente nós mesmos podemos nos libertar.
Ao longo da vida acumulamos crenças a respeito de nós mesmos e do mundo. Essas crenças passam a agir automaticamente, ou seja, sequer percebemos que determinam nossas escolhas e reações. As crenças que desenvolvemos a partir das lições que aprendemos têm seu aspecto positivo quando funcionam como princípios que nos proporcione crescimento. O aspecto negativo é quando nos fixamos em algumas delas e nos recusamos a refletir e mudar. Se não perceber que está sendo conduzido por crenças, é pouco provável que consiga mudar.
Como mudar o que não conhecemos e entendemos?
Apenas quando nos tornamos conscientes de verdades que não são nossas e da necessidade de mudar, é que podemos nos libertar delas. Para mudar padrões de pensamentos e comportamentos de uma vida inteira, temos que nos predispor a conhecer e compreender o que sentimos. É quando começamos a crescer, pois o mesmo só acontece quando nos tornamos conscientes do que sentimos. Algumas pessoas insistem em dizer que se conhecem, talvez se conheçam parcialmente. Quando alguém resiste a mudar, nos faz pensar que na verdade elas não compreendem a si mesmas o suficiente para perceber o quanto uma ou mais mudanças são necessárias.
O processo da psicoterapia ainda é o mais indicado para o processo de autoconhecimento. Mas o preconceito ainda existe. As justificativas, ou melhor, resistências, são muitas: “não preciso de ajuda; não quero lembrar do que aparentemente está esquecido e enterrado; para que explorar o que já passou”, entre tantas outras.
Todas essas justificativas só demonstram o quanto a falta de conhecimento sobre fatos ocorridos no passado podem ainda estar influenciando hoje. É preciso entender os acontecimentos do passado para identificar o quanto ainda estão vivos e ativos no inconsciente no momento presente.
Viver presos a crenças faz com que vivamos no passado. A recusa em examinar o passado pode nos manter ainda mais preso a ele. Só quando examinamos as crenças que ainda nos aprisionam e nos impede de agir é que conseguimos ficar livres para o novo.
Mas é comum não querer se conhecer porque isso significa ter que examinar não só ao passado, mas tudo aquilo que está bem dentro de nós, e tememos o que podemos encontrar, escolhendo assim a estagnação, por medo, comodismo, ignorância, orgulho, em detrimento do crescimento. O crescimento exige que nos preparemos para ouvir a nós mesmos e estarmos dispostos a lidar com o que encontrarmos, e para isso é preciso querer!
Algumas perguntas que poderá fazer a si mesmo para identificar quais crenças e valores afetam sua vida:
– Qual o grau de influência da opinião de outras pessoas sobre meus atos?
– Quais crenças cooperam para meu bem-estar interior?
– O que me dificulta ter suficiente autonomia para tomar minhas próprias decisões?
– Espero o reconhecimento de alguém por aquilo que realizo e conquisto? Quem?
– O que me impede de ter uma vida mais feliz?
– Tenho o hábito de perguntar sobre o que devo fazer para outras pessoas? Quem?
– Os conceitos que carrego dentro de mim, ou seja, aquilo em que acredito, aumenta ou diminui minha autoconfiança?
Quando nos desfazemos das crenças inadequadas, morre em nos tudo aquilo que é velho, e passamos a reformular ou remodelar novos caminhos, agora de acordo com nossos próprios desejos e valores, o que nos dá a sensação de estamos verdadeiramente libertos.
Por que não sermos mais humildes e aceitarmos que a maneira com que lidamos com as situações está nos fazendo sofrer? Humildade não tem nada haver com submissão, inferioridade, como muitos acreditam. No entanto, está associada a gentileza, simplicidade, lucidez. Somos humildes quando percebemos que ainda temos muito a aprender, por mais informações que tenhamos: livros que lemos; viagem que fizemos, experiências adquiridas no decorrer dos anos. É importante lembrar que humildade não é passividade, muito pelo contrário, exige acima de tudo confiança em si mesmo. Somente quem tem plena consciência do seu valor pessoal é que não precisa se exaltar.
O autoconhecimento é a capacidade que nos permite perceber, de forma gradativa, tudo que necessitamos transformar. Por isso sua importância. Não precisamos ter medo de nos conhecer, como se isso fosse um fardo do qual não podemos nos livrar, muito pelo contrário, ter maior percepção de si mesmo é o que nos capacita a mudar tudo aquilo que nos faz mal ou nos causa conflito e sofrimento, ampliando nossa consciência sobre nossos potenciais adormecidos, a fim de que possamos vir a ser aquilo que somos em essência. E isso é simplesmente fantástico!