por Luís César Ebraico
Tecnicamente, a expressão “crise maníaca”, diz respeito a um estado de exaltação emocional, agitação psicomotora, taquipsiquismo (pensamentos encadeados em enorme velocidade), idéias deliróides (distorções da realidade, normalmente na direção da onipotência, dependentes do mencionado estado de exaltação) etc., etc. Francisco, em pleno surto maníaco, pega dinheiro do pai e sai tentando distribuí-lo pelas pessoas na rua. As velhinhas classe-média se assustam e recusam, os mendigos, naturalmente, adoram. Chegando à sessão, me dá uma nota de cinqüenta, e inicia-se o seguinte diálogo:.
FRANCISCO: — Eu sou uma empresa.
LC: — Sim.
FRANCISCO: — Você também é uma empresa.
LC: — Sei.
FRANCISCO: — E, como empresa, eu estou investindo na sua empresa. Esses cinqüenta reais são o investimento inicial.
LC: — Obrigado.
FRANCISCO: — Fiz vários investimentos no caminho. Parei uma senhora que cata papel perto da minha casa e expliquei a ela que ela é uma empresa e que minha empresa estava dando cinqüenta reais a ela a título de investimento.
LC: — Ela aceitou?
FRANCISCO: — Claro!
LC: — Que bom. Gostaria de saber o objetivo de sua empresa, para nós podermos avaliar, ao longo do tempo, se ela está ou não dando certo.
FRANCISCO: — É fazer as pessoas ficarem felizes!
LC: — Entendi. Não é uma coisa muito simples de ser feita, mas pode-se tentar e ir avaliando os resultados.
Dizia Freud: “É inútil interpretar comportamento bem-sucedido”. Era mais do que óbvio que Francisco estava considerando seu comportamento um sucesso. Pôr isso em dúvida, naquele momento, não seria apenas inútil, seria cruel. Mas, naturalmente, eu nada perderia por esperar…
Com efeito, três dias depois, sou acordado de madrugada pelo toque de meu celular. Era o pai de Francisco. Meu paciente estava a horas rodando pela casa aos berros, os vizinhos já estavam desesperados com a confusão, ele não deixara seu pai completar trabalhos que trouxera para fazer em casa, jogara um copo d’água na cara da irmã, que estava literalmente enfurecida etc., etc., etc. Fui para lá. Francisco aquietou-se ao saber que eu estava indo. Encontrei-o, estranhamente quieto, sentado em um divã:
LC: — Bem, numa primeira avaliação, sua empresa está sendo um fracasso, no que diz respeito ao objetivo de fazer os outros ficarem felizes: os vizinhos estão enfurecidos porque não conseguem dormir, seu pai está enfurecido porque você não deixou ele trabalhar, sua irmã está enfurecida porque você jogou água na cara dela e EU ESTOU ENFURECIDO porque tive que levantar no meio da noite para vir até aqui!
Começou a chorar. E pudemos começar a tentar entender o que estava acontecendo…