por Roberto Goldkorn
Semana passada foi preso um agricultor acusado de estuprar sua filha por dezessete anos, ter vários filhos com ela, e ainda por cima tentar violentar suas netas de cinco e sete anos. Está sendo comparado ao austríaco que manteve a filha em cativeiro violentando-a sistematicamente. Infelizmente esses casos vão continuar a aparecer, e quando surgem devemos entender que são apenas a pontinha de um gigantesco iceberg.
O lado oculto dessa barbaridade é a força do mais primitivo de todos os programas emocionais: o sexo! Quando o Ego não é forte o bastante e nem a sociedade faz o seu papel coercitivo para acuar o mostro devorador, fatos primitivos como esses devem continuar a acontecer. No caso do brasileiro, a sociedade simplesmente não existia uma vez que ele morava no meio da selva isolado de tudo e de todos. Esse é o ambiente propício para reavivar o homem das cavernas que habita em cada um de nós.
Não nos enganemos, temos mais tempo de selvagem do que de civilizado. Nosso cérebro tem estruturas mais pesadas associadas ao ser primitivo que fomos do que as delicadas estruturas novas e preparadas para abrigar o civilizado que queremos ser. Além disso, é claro temos o danado do carma.
Se o cérebro é o suporte físico (circuito impresso) o carma é o software gigantesco que acaba controlando as ações. O programa do sexoé muito poderoso, mais até do que os programas de sobrevivência, uma vez que o sexo é o programa de sobrevivência da espécie. Não preciso citar exemplos, ou preciso? Padres (palavra espanhola para pai) que apesar de tudo, que significa ser padre, não conseguem controlar seu programa sexual primitivo, são bons exemplos disso.
Podemos ir adiante e falar da covardia dos pedófilos, da crueldade dos pais molestadores de filhas, dos estupradores violentos, enfim de todo um contingente de homens das cavernas modernos que não resistem aos programas primitivos. Mesmo homens cultos, líderes, exemplos sociais, podem manter vidas secretas onde o sexo que viola regras é a regra. Existem várias tragédias quando permitimos que o primitivo em nós assuma o controle e atropele as regras que tanto nos esforçamos para estabelecer. A principal delas é justamente a reação culta que temos como sociedade diante de fatos assim.
A reação social de indignação e condenação também se manifesta nas vítimas tornando muito pior para elas a situação a que foram submetidas. Ou seja, a sociedade grita e faz o maior alarde possível diante da descoberta de um crime desse tipo, mas não aumenta os esforços para impedir que isso aconteça com tanta facilidade. Mas o que podemos fazer para evitar isso? Perguntaria algum leitor sinceramente interessado. Só existem duas formas: educação e repressão.
O austríaco que aprisionou a filha era “educado”, mas não se sentia sob o peso de uma sociedade que estava atenta aos seus passos. Ao contrário, a cultura onde ele vicejou de certa forma o incentiva a adotar o mantra: “Tô nem aí. Viva e deixe viver. Cada um com seus problemas” e vai por aí.
Já o brasileiro, teve a seu “favor” a absoluta ignorância, a flacidez social (pelo isolamento) e todos os estímulos que um ambiente selvagem proporciona ao cérebro primitivo. O sofrimento que isso causa é inimaginável. Toda vez que o primitivo de alguém volta e age, coloca toda a sociedade em alerta. Isso nos incomoda exatamente por causa do efeito ressonância. Quando um monstro primitivo acorda em alguém, ele mexe com os nossos monstros primitivos que se contorcem no nosso paleo-cérebro.
Educar e reprimir, criar mecanismos sociais de vigilância e de prontidão para auxiliar a parte mais fraca dessa equação, deveria ser a maior tarefa da sociedade.
Não podemos contar com os governos, mas apenas conosco mesmos enquanto força organizada. Cada vez que uma criança chora impotente diante de um adulto violador, nós damos um passo atrás no caminho evolutivo.