O que faz sentido em nosso íntimo nem sempre tem nome

por Samanta Obadia

Às vezes, eu não tenho nada a dizer. Não porque estou triste ou sem motivos. Simplesmente porque estou a ver a vida passar. Paralela e presente. Pacata e intensa. Contemplativa e atuante. Contraditória como ela é.

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Ter sempre algo a dizer é uma cobrança indevida. A vida fala por si só na maior parte do tempo. Porque a vida é intensa por ela mesma.

Nós é que falamos demais! Tentando nomear tudo o que se passa em nós, muitas vezes deixamos de sentir verdadeiramente o que é.

O que faz sentido em nosso íntimo nem sempre tem nome. Ainda que tenhamos o desejo de falar sobre, nem sempre conseguimos descrever nossas impressões. E isso é bom. Sente?

A linguagem é parte da nossa forma de significar e de representar o mundo, mas ela é limitada pelas palavras, pelas vírgulas e pontos, pelo desenho das letras. Ainda bem! Porque nos instantes em que estou mais perto da minha alma, só entendo o que se passa quando me calo, quando sinto em silêncio.

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Mas para partilhar isso com vocês, sou obrigada a transitar pelas palavras, que são boas, mas insuficientes para transmitir exatamente o que percebo. Tudo bem de qualquer jeito. Não deve haver problema nisso. Sabendo desse espaço entre nós, devemos suportar o vazio e o silêncio, sem a angústia de compreender tudo ou todos. Um pouco de mistério e incompreensão é bom.

Afinal, como disse o filósofo Ludwig Wittgenstein: “Sobre o que não se pode falar, deve-se calar”. Simplesmente assim!

 

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