por Aurea Afonso Caetano
Nossos clientes nos procuram para que os ajudemos a dar conta de alguma dor que os incomoda. O desejo, legítimo, que os move é muitas vezes o de resolver uma questão difícil e poder esquecer tudo o que passou. Metáforas como virar a página, por um ponto final em tudo isso, passar uma borracha em cima do que aconteceu acompanham esse desejo.
Temos também nós, analistas, um desejo onipotente. Queremos dar conta de tudo, temos a fantasia de poder resolver todas as questões que o paciente nos traz e ajudá-lo em seu caminho rumo à resolução total. Temos sido treinados há muito tempo para isso.
Fazemos nosso o desejo de nosso paciente ou ao menos o desejo manifesto, o sintoma, o que os trouxe até nós. Afinal, nossa eficácia é medida através da resolução do problema trazido pelo paciente, do alívio do sintoma, quanto menores os efeitos colaterais melhor.
Mas, pensar no encontro analítico apenas como a possibilidade de resolução de um conflito é lidar com parte de nossa responsabilidade ou de nossa tarefa. Mas, somos também treinados a olhar o que não é visível, a procurar o invisível, o essencial, o além do sintoma ou o "para quê". Como sabemos "O essencial é invisível aos olhos" e, deve ter sido por conta desta crença que escolhemos nosso trabalho cotidiano.
Exploramos junto com nossos pacientes suas fantasias inconscientes e os modelos que estão funcionado sem uma percepção consciente. Podemos assim ajudá-los a criar novas formas de funcionamento. O termo inconsciente, aqui, pode simplesmente significar algo fora da consciência e não necessariamente reprimido.
Através do relacionamento com o terapeuta, esses modelos podem ser modificados, criando novos modelos que se espera, sejam mais positivos e que possam ser gradualmente integrados com os anteriores ou coexistir como alternativas.
Uma das maneiras atuais de compreender o trabalho psicoterapêutico básico, é pensar nele como uma possibilidade de fomentar a integração entre redes de afeto e cognição; como a tentativa de estabelecimento de novas conexões entre elas. E, para que o terapeuta possa realizar sua parte nesse trabalho, é necessário que também seja ele um sujeito afinado e inteiro, para poder ressoar e transformar de forma verdadeira as questões trazidas por cada um de seus pacientes.