por Renato Miranda
Em tempos em que desde a tenra idade crianças são lançados aos mais diversos critérios de avaliação escolar e projeções exacerbadas sobre o futuro das mesmas, seja pela família ou mesmo pelo ambiente social, é natural que um alto grau de ansiedade e aflição mútuas (família e crianças), gere um estado constante de aflições e inseguranças.
Quando me perguntam como o esporte pode contribuir para que a suposta situação acima seja amenizada ou até mesmo, de certa forma modificada, costumo afirmar que um ótimo passo a ser dado pela escola e família é descobrir como mobilizar a motivação das crianças e jovens para revelarem seus talentos específicos (pessoais).
Em poucas palavras: como motivar os jovens desde a tenra idade a adquirirem elementos reveladores de uma motivação pessoal (intrínseca), portanto, de uma motivação inconsciente?
Uma motivação inconsciente é por definição uma motivação intrínseca, pessoal que representa o desejo interior de realizar tarefas que não depende exclusivamente de fatores ambientais, externos, ou extrínsecos, em que se destacam como agentes motivadores: a estrutura física e atmosfera psicossocial do ambiente, recompensas físicas (prêmios) e emocionais (elogios e incentivos).
Portanto, a motivação intrínseca se caracteriza através de uma força psíquica que projeta a pessoa a empenhar-se em uma atividade com energia e vontade própria sem ter um motivo explícito propriamente dito. Por isso, é considerada inconsciente. Faça um teste: pergunte para uma criança ou jovem aficionado em um determinado esporte e hobby o motivo pelo qual ele despende tanto sacrifício e dedicação para aquela atividade?
Decerto a resposta será lacônica e explicará muito pouco, do tipo: “Porque eu gosto!”; ”Ou ainda: “Porque é legal!” E outras respostas genéricas poderão surgir. No entanto, são respostas que dizem muito sobre como o comportamento dela mesmo (do jovem) está integrado e dirigido especialmente para a satisfação de uma necessidade que ela considera importante, e por isso, tem significado e valor. O que torna a atividade interessante, ou seja, satisfaz uma necessidade considerada importante pela própria pessoa.
Edward Deci e Richard Ryan, dois psicólogos estudiosos do assunto, afirmam que quando o jovem experimenta a sensação de liberdade para fazer o que é interessante, vitalizante e pessoalmente importante, ele estará vivenciando a energia da motivação autodeterminada.
A autodeterminação da pessoa expõe a personalidade, as situações ambientais e sociais. Observe que quando queremos dizer que uma pessoa, baseados em sua energia e alegria espontânea, está motivada a realizar algo e, além disso, observamos seu desenvolvimento, dizemos que esta é uma pessoa autodeteminada.
Mas o que “alimenta” ou faz uma pessoa a ser autodeterminada? Para os mesmos psicólogos não há mistérios. A resposta é simples: A motivação intrínseca! Fortalecida pelo desenvolvimento da competência, da autonomia e do relacionamento humano positivo.
Em poucas palavras desenvolver a competência é descobrir e ampliar capacidades especiais; aquilo que se consagrou dizer habilidades. Com feedback (retroalimentação) constante e apropriado (incentivo), promoção de progressos nas tarefas (a partir de instituições com ótimos profissionais para administrar aprendizagens) e funcionalidade (objetivos claros e atingidos em cada etapa da aprendizagem e treinamento) são reveladas competências.
A autonomia é de certa forma a manifestação da capacidade, pois é esta que gera funcionalidade nas ações ao mesmo tempo em que desenvolve a percepção do autocontrole quando se está diante das tarefas apresentadas na rotina. Ser autônomo é antes de tudo ser eficaz à sua maneira. Em outras palavras, ao seu modo o jovem tem a percepção que poderá liderar, dividir responsabilidades, decidir e mostrar o quanto ele consegue controlar aquilo que é apresentado a ele (tarefas!).
Relacionamento humano é o instrumento da característica gregária do homem. Como dizia o filósofo Sócrates: ”O homem é um Ser gregário.” O desafio é construir um relacionamento positivo, construtivo e que permite a autoexpressão.
O esporte pode oferecer oportunidades de aprendizado de relacionamentos com respeito, confiança e acolhimento das pessoas. Quando, desde cedo, a criança aprende a se colocar no lugar da outra e repercutir aquilo que gostaria que lhe fizessem, ela mesma estará dando o primeiro passo para construir um relacionamento especialmente humano.
O esporte pode ser uma das possibilidades de, em oposição à insegurança, ansiedade e medo (o que gera uma proteção exagerada e disfuncional), auxiliar o desenvolvimento da competência, autonomia e relacionamento tendo como consequência a formação de uma personalidade autodeterminada para experiências positivas e construtivas.
Para finalizar é bom lembrar que tudo isso é um processo de luta e muita dedicação da família, escola, instituições esportivas, culturais e outros espaços de convivência. E são nesses espaços que as crianças e jovens, de uma maneira geral, irão descobrir que a vida é um desafio constante de adaptações frequentemente exigentes.