por Patricia Gebrim
A vida é a arte de recomeçar. Ou aprendemos, ou teimosamente sofremos, aprisionados pela nossa falta de flexibilidade, enrijecidos por nossa falta de sabedoria.
Ouçam essa verdade. Muitas vezes as coisas não são como queremos. Mais vezes do que gostaríamos.
Planos não acontecem como imaginávamos, pessoas não agem como desejaríamos, pneus furam, voos são perdidos, aplicações financeiras não rendem o prometido, alguém vê a vaga no estacionamento antes de nós, a pessoa que amamos ama outro alguém, adoecemos no dia de nossa tão desejada viagem, e por aí vai. A vida é feita de tudo isso também. De frustrações, de dores. Às vezes as coisas fluem como planejamos, mas nem sempre, e é nessa hora frustrante, em que tudo parece dar errado, que se esconde uma incrível oportunidade. A oportunidade de crescer, de virar gente grande, a oportunidade de dar um passo adiante e deixarmos de agir como crianças mimadas que esperam que tudo seja como desejamos, como planejamos em nosso mundo de fantasias.
Não, não é fácil, eu sei. Não é fácil lidar com a enorme frustração que se abate sobre nós nesses momentos. Seja compassivo e flexível. Seja gentil consigo mesmo. Não exija perfeição de si mesmo em um momento assim, afinal somos todos humanos. Observe os sentimentos que afloram, como uma nascente que brota de um mar revolto e escuro, das suas entranhas, das suas sombras, do buraco negro que mora dentro de você. Talvez você se sinta perseguido ou atacado pela vida. Talvez seja tomado por uma profunda tristeza, ou sinta uma raiva ancestral. Talvez sinta um ódio profundo por si mesmo. Tudo bem. Observe tudo isso, observe esses sentimentos sombrios que também fazem parte de seu ser. Permita que eles fluam. Sinta-os em cada célula de seu corpo. Eles são uma parte sua, clamando por transformação. Acolha-os, aceite-os. Traga-os para a luz de sua consciência. Sinta, o que quer que estiver sentindo. Permita-se ser tudo o que é. Sinta-se vítima, o pior dos piores, sinta a tristeza, a raiva, o ódio… O que for. Tranque-se em casa. Chore por uma semana. Coma doces até ficar com dor de barriga (se puder, pare um pouco antes), evite as pessoas, blasfeme.
Sinta a presença da sua sombra, até que ela esteja bem perto de você, tão perto a ponto de você poder colocá-la em seu colo, naquele espaço sagrado, perto de seu coração. Então a abrace, a envolva em seu amor, sua sabedoria, sua luz. Sinta compaixão por aquela parte sua, tão assustada e sombria. Respire fundo e aceite.
Aceite o que quer que esteja lhe acontecendo. Aceite a si mesmo. Aceite sua sombra, sua feiura, seu medo, sua dor.
Quando você aceita, você dá um passo. Você para de gastar sua energia julgando sua experiência e passa a criar o momento seguinte da sua vida, e isso é a coisa mais linda e mágica que você pode fazer por si mesmo.
Você caminha na direção do novo, do recomeço. Na direção da cura.
Você cura a si mesmo.
E no final você compreende que foi para isso que aquela dor teve que acontecer.