por Roberto Goldkorn
Há muitos anos ouvi uma piada que me marcou por não ser nada engraçada.
"Dois amigos estavam conversando na praia no Rio de Janeiro. Eles falavam de uma palestra que ouviram onde o palestrante, um geriatra famoso, dizia que o segredo da juventude ou da velhice saudável é a moderação. Não fumar, não exagerar na bebida e na comida, dormir bem e nos mesmos horários, fazer exercícios de forma constante e moderada… Nesse momento um senhor bem idoso que estava ouvindo a conversa os interrompeu: “Bobagem, tudo bobagem. Eu fumo dois maços por dia, bebo todas, tenho uma vida sexual bem agitada, uso droga, faço noitadas, nunca uso protetor solar…” Os dois amigos ficaram boquiabertos com aquela história, estavam diante de um velhinho que contrariava tudo o que tinham aprendido. Um deles porém se lembrou de perguntar: “Mas quantos anos o senhor tem?” “Trinta e cinco”, respondeu o 'ancião' "
Há coisas que são inevitáveis (ou quase) e que complicam o processo de envelhecimento/doença, como os marcadores genéticos, os acidentes, o estresse de quem vive nas grandes cidades, o convívio com os diversos níveis de poluição, etc. Mas muitas atitudes preservadoras estão ao nosso alcance e a maior delas é a ATITUDE.
ATITUDE com letras maiúsculas deve ser a mãe das outras atitudes. Isso significa ter a consciência de que a juventude não será eterna, que a saúde que ora desfrutamos é condicionada, e que cada ato nosso tem consequências, seja imediata, seja a longo prazo.
Tenho lido muito sobre o tema velhice e quando ainda podia ser considerado jovem, já fazia uma palestra com o título A Vida Começa aos Cinquenta. A minha conclusão é: há mais itens que se colocar na coluna Não Fazer, do que na coluna Fazer.
Concordo com os estudiosos de que tomar a quantidade certa de vitaminas e minerais é fundamental, porém mais ainda é não fumar.
Fazer exames periódicos é importantíssimo, mas não exagerar nas carnes vermelhas, é mais ainda.
Fazer exercícios é uma unanimidade, mas fugir de uma vida sentimental conturbada movida a paixões, é muito melhor para garantir uma velhice saudável.
Os médicos aconselham a não descuidar do protetor solar, mas evitar a longa exposição às radiações das telas de computador e TV, pode fazer a diferença entre a saúde e a doença degenerativa durante a velhice.
Mas o maior de todos os segredos vem agora: uma velhice com mais chances de ser OK precisa de três ingredientes mágicos: humor, desapego e criatividade.
Claro que concordo com Shakespeare quando ele decreta: “Ninguém deveria envelhecer sem antes tornar-se sábio”.
Mas para mim sabedoria é saber se ver com humor (o famoso não se levar tão a sério).
É não se apegar a tudo que é transitório (e como consequência sofrer horrores quando acaba), e acima de tudo sabedoria é ser criativo.
Quando as pernas não suportam mais carregar o peso, eu crio um modo de o tornar leve, ou invento meios para multiplicar a força das minhas pernas.
Paradoxalmente o maior inimigo da velhice sustentável é a juventude. Os jovens não sabem que apenas estão jovens, eles pensam que são e que isso vai durar não para sempre, mas por um tempo tão longo que nem vale a pena pensar nele.
Assim como fazemos com o nosso planeta gastando seus recursos como se fossem ilimitados, os jovens gastam o seu capital energético e muitas vezes hipotecam os ativos que nem mesmo possuem, jogando para frente o inevitável acerto de contas.
Meu pai tentava em vão me convencer a não ser tão impetuoso, ou como ele dizia “não ir com tanta sede ao pote”. Eu não entendia aquela língua, afinal eu não era um super-homem? Hoje com um delay de quarenta anos entendi meu pai e também comprendo meus milhares de “filhos” jovens com quem lido por causa do meu trabalho. Mas assim como meu pai, não consigo mostrar-lhes o filme do seu futuro e fazer com que diminuam a velocidade de seus veículos turbinados, para que cheguem bem à reta final, esteja ela onde estiver.
A boa notícia é que vivemos mais tempo e temos mais meios de comunicação/informação trafegando pela grande rede mundial. A soma desses dois fatores pode ajudar a todos, mais jovens, mais maduros e mais velhos a usufruir de conhecimentos que ainda não existiam (ou não eram tão acessíveis) quando meu pai me dizia: “sossega leão!”.