por Roberto Santos
Pode-se dizer que no acerto parcial de contas, muitos técnicos, políticos e leigos tiveram que engolir suas críticas veementes à famosa reação do líder de nossa nação sobre a onda de crise econômica global – “será apenas uma marolinha para o Brasil”. Aparentemente, mesmo para os mais céticos, nosso país vem se mostrando um dos mais eficientes em debelar o fantasma da recessão letal e já mostra sinais de um antes improvável crescimento neste ano.
Chega a hora dos otimistas e oportunistas de plantão, pintarem um cenário de crescimento acelerado para os próximos anos, estimulado pelo orgulho renovado de sermos brasileiros, como Deus e com a escolha para dois eventos de destaque global – Copa do Mundo e Olimpíada. Nunca neste país, tanta gente acreditou tanto em nosso potencial, parecendo que aquela lenda do “Brasil: o País do Futuro!" ainda vai virar realidade no presente.
Não precisa tanto, já vivemos um clima de euforia, de índice de desemprego próximo de 8%, um quase que pleno emprego se excluirmos aqueles profissionais do seguro-desemprego e do bolsa-família, ou bolsa popularidade presidencial.
Paradoxo do desemprego
E o que se vive no Brasil, ou pelo menos na cidade em que vivo, é o que chamei há anos de o paradoxo do desemprego – muita gente desempregada, mas muita gente procurando empregados. O paradoxo é provocado pela decadência na formação escolar, ética, cultural e motivacional da força de trabalho chamada de Geração Y ou da nova Geração Milênio.
Jovens ansiosos para entrar e obter um certificado que tenha algum simulacro que seja, daquelas três letrinhas mágicas para enriquecer o CV – o MBA (ou emibiei), também conhecido: como qualquer pós-graduação que me permita dizer em entrevista que tenho algo mais do que um mero curso superior.
Chovem emibieis em linhas e mais linhas de currículos recheadas de pós-graduações mas seus donos ainda não sabem usar aquelas supérfluas regras de concordâncias verbal e nominal, isto quando não confundem “perca” com “perda” e outras torturas à língua pátria.
Além disso, pelos canudos universitários escorregam semiprofissionais, semipreparados para um mercado de trabalho em desemprego. No entanto, pela carência de mão de obra, estes semiformados conseguem empregos, seguidos de sucessivos fracassos. É comum ouvir colegas consultores contarem suas agruras de precisarem ensinar seus interlocutores cada vez mais juniores e despreparados a lhes dizer o que precisam encomendar – um verdadeiro festival de mediocridade.
Qual seria a resposta: o reforço de uma formação acadêmica ou ser mais criativo para ser bem-sucedido para surfar nesta onda de desenvolvimento de nossa economia?
Ambas anteriores e outras mais medidas serão necessárias e urgentes para aquela lenda do “país do futuro” que eu ouvia em meus tempos de menino não perdurem para o tempo de meus bisnetos.
O reforço acadêmico e curricular precisa iniciar seriamente na base para que universitários e “pós-graduados” saibam Ler e Escrever, com Letra Maiúscula mesmo! Sonho louco, ilusão, outra lenda – parece que sim, mas precisará acontecer para chegarmos aos tornozelos dos países que levam a sério suas vocações, como Coreia que nos envergonham com a carga horária da educação fundamental de seus jovens.
O exemplo do exame da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) que aprova menos de 20% dos formados como “bacharéis em Direito” por ano, para exercício de profissão, deveria ser seguido por todos os cursos. Psicólogos, administradores, médicos, arquitetos, engenheiros, farmacêuticos passariam menos vergonha de sua categoria com esse filtro higienizador de incompetência generalizada.
Criatividade, entendida como a capacidade de solução de problemas novos com ideias e conceitos fora do padrão que agregam valor ao negócio em que se insere, também é uma competência importante que ajuda àqueles que têm-na reconhecida e aproveitada. O quê, dependendo do chefe-mala que se encontra pela frente, pode ser muito difícil de se conseguir.
Além desses elementos acadêmico e criativo, os profissionais precisam se dispor desde o primeiro ano da faculdade a pensar em sua carreira em termos práticos ou técnicos. Os jovens que querem sentar no “Corner Office” (aquele lugar de destaque máximo dos grandes executivos de torres de marfim) logo que recebem seu diploma, precisam aprender a “comer um pouco de grama” antes de se refestelar nos “fringe benefits” corporativos.
Antes de pós-graduados ou virtuoses pianistas, esses jovens precisam aprender sobre o instrumento carregando-o, para mostrar a força de seu caráter e motivação. Antes de esperar o salário e bônus que brilham nas páginas da Exame, precisam aprender a ganhar em experiências, credibilidade e competência, entregando um trabalho de qualidade e no prazo combinado.
Muitos jovens podem aproveitar para surfar nessas ondas de progresso econômico, que poderão não passar de enganadoras marolinhas, às quais podem até sobreviver e curtir. Entretanto, para aqueles que queiram estar prontos para, mais do que surfar, navegarem em alto mar – revolto ou não – com um Norte firme e decidido, devem estar prontos para conhecer cada posto de sua embarcação – do porão ao convés, do esfregão ao leme, antes de chegarem à cabine de comando.