por Roberto Goldkorn
Três décadas atrás, li um texto onde o autor dizia que estávamos prestes a viver uma nova era, com a entrada das mulheres no mercado de trabalho. O autor afirmava que pelo fato delas não terem se contaminado pelas práticas ávidas de poder, de corrupção e de autoritarismo dos homens, poderiam dar uma contribuição concreta para um mundo melhor. Poderíamos contar com fiscais mais honestas, chefes mais humanas, planejadoras com maior visão de futuro, coisas de mãe que espera pacientemente a gestação e depois se engaja numa tarefa de criar que dura uma vida inteira. Confesso que fiquei entusiasmado. Há muito já sonhava com essa possibilidade: um mundo mais materno, mais cooperativo e menos competitivo. Mas o tempo mostrou que a teoria na prática é outra.
A nossa ingenuidade (minha e do autor) acabou em frustração quando trinta e tantos anos depois, a mídia me atira na cara o episódio da menina do Pará enjaulada numa cela de monstros menos que lixo humano. Quando ficamos sabendo que a prisão foi feita e controlada por uma delegada (jovem), referendada por uma juíza, num estado governado por uma mulher, as esperanças vão pro saco de vez! Talvez alguém ainda tenha coragem de vir na defesa delas dizendo que não se muda de uma hora para outra vícios ancestrais do sistema corrompido, imbecilizado e torpe. Mas não se trata disso e sim de medidas minimamente decentes, ao alcance da mão das “autoridades” diretamente envolvidas. Não vou nem falar de solidariedade feminina, porque tenho medo de parecer ridículo, mas sim de humanidade, daquela que se espera de alguém em relação a um animal em perigo. De uma mãe que vê em todas as crianças seu filho ou filha.
O que quer a mulher?
Remoendo a minha perplexidade dei com um texto de Ernest Jones, discípulo e parceiro de Freud, onde ele diz que o grande mestre confessou-lhe a sua ignorância a respeito da psicologia feminina. Jones diz textualmente: “Não há muita dúvida de que Freud achava a psicologia das mulheres mais enigmática do que a dos homens.” Segundo Jones, o pai da psicanálise lhe teria confessado: “A grande questão que nunca foi respondida, e que eu mesmo não tive condição de responder apesar dos trinta anos de estudos sobre a alma humana, é: O que quer a mulher?”
É claro que o Freud queria respostas que fossem estruturais, que fossem a chave dos comportamentos, mas parece que também acabou morrendo sem poder decifrar esse abissal mistério.
A cada dia tomamos conhecimentos do papel das mulheres na perpetuação das injustiças e sofrimentos das mulheres, como o que acontece em alguns países asiáticos, africanos e do oriente médio. E como Freud nos perguntamos o porquê? Quando assisti o Diabo Veste Prada, decalcado de uma situação que de fato existiu, identifiquei no comportamento da atriz principal (o Diabo), características de muitos dos meus antigos (e atuais) clientes, executivos ou empresários. Lembro-me de pensar diante do despotismo desses descompensados: “Quando as mulheres chegarem a essas posições tudo será diferente”. Como eu estava equivocado!
Em meu consolo no poço de perplexidade e pasmo em que me debato, veio outra mulher, a americana Kelly Vallen em seu depoimento ao New York Times. Num artigo sobre a sua terrível experiência na fraternidade em que ingressou para se sentir protegida na Universidade, ela desabafa: “Nós mulheres nadamos em águas infestadas de tubarões criados por nós mesmas. Muitas vezes não temos noção de onde nos situamos umas com as outras socialmente – como mães, como colegas – porque somos ao mesmo tempo, aliadas e inimigas.” Eu acho que é isso aí. Tristemente.