por Regina Wielenska
Conheço um casal de médicos, gente muito ocupada, com consultório particular lotado, estudiosos e excelentes profissionais em suas respectivas especialidades, que a cada quinze dias passam cerca de quatro horas oferecendo seus préstimos clínicos em uma instituição que atende pessoas carentes de assistência médica, gente sofrida que aguarda uma consulta há mais de um ano no serviço público.
Uma amiga minha trabalha ao menos oito horas por dia num escritório, cheia de responsabilidades, não tem carro, encara transporte público e não tem uma vida de luxos.
Já ajudou no Telethon, trabalhou firme em barraca em quermesse na AACD, ajudou a montar moradias populares providas a famílias por uma ONG, coleta alimentos e itens de cuidados pessoais para entregar a instituições necessitadas.
Em várias associações dedicadas a promover a não descriminação contra portadores de transtornos mentais há profissionais de Psicologia, Medicina, Terapia Ocupacional, Fonoaudiologia, Fisioterapia e áreas afins dedicando horas de sua semana ao trabalho voluntário, sem remuneração, em prol do bem-estar dos pacientes e de suas famílias.
Já tive uma cliente que costurava e tricotava enxovais de recém-nascidos, que eram ofertados a mães carentes. Conheço cabelereiros que vão uma vez ao mês a asilos cortar o cabelo de idosos, oferecendo beleza a quem é esquecido pela família. Outra amiga minha, pessoa criativa e refinada, reaproveita flores de casamentos e festas elegantes para fazer arranjos de flores para pessoas doentes e idosas.
Não preciso dar mais exemplos, acho que estes bastam para levantar uma questão:
– Por que razão pessoas ocupadas, que bem poderiam ficar em casa relaxando, ocupam parte de seu escasso tempo livre dedicando-se a terceiros em condições pouco favoráveis?
Em tese, o beneficiário do trabalho voluntário seria o indivíduo que recebe a assistência, mas parece que a coisa não se resume a isso. Sentir-se capaz de minimizar o sofrimento de alguém parece ter um valor especial. Nem sempre o beneficiado está em condição de organizar um sorriso, expressar uma frase de reconhecimento pelo ato de generosidade, há casos em que se fez o bem sem saber a quem. Mas quem se empenhou em ajudar sabe que fez o possível, e consegue mensurar de modo subjetivo ou objetivo o resultado alcançado.
Esse tipo de recompensa se caracteriza por uma sensação de contribuir para um mundo menos árduo, usando habilidades próprias de cada um, pode ser muito bom se tornar aquele que escolheu se divertir por meio da ajuda ao próximo. Em suma, as recompensas para o voluntário existem em profusão, basta ter olhar atento e um coração aberto. Ele exercita competências, reduz a dor de alguém, traz mais amor ao mundo. Quer tarefa mais nobre do que essa?
E você, meu leitor, na sua vida, faz o quê?