Da Redação
A primeira reflexão que trago é a definição da própria palavra “sucesso”, porque muitas vezes os profissionais atrelam essa percepção à obtenção de altos salários, benefícios diferenciados ou status, e na verdade o sucesso da carreira não tem a ver com nada disso.
Veja, sucesso significa atingir um objeto, cumprir uma meta. E quando pensamos em carreira, estamos também pensando em nossas vidas pessoais, uma vez que o lado profissional é apenas uma das diversas faces ou papéis que cumprimos em nossas vidas.
Vidas pessoal e profissional estão conectadas. Aquele papo de “virar a chave” quando estamos no trabalho ou quando estamos em casa deve ser visto com muita parcimônia, pois, não é possível construirmos muros pessoais entre os aspectos que compõem nossa vida e simplesmente “pularmos” de um lugar pra outro. Não podemos desconectar o lado trabalhador do lado esportista, ou do lado chefe de família, por exemplo, porque todos estão intimamente conectados e interfere um no outro.
Assim, o termo sucesso reflete que fomos capazes de atingir um objetivo, ou seja, nos satisfazemos, e esta faceta deve refletir a realização de um desejo pessoal, independentemente de salário, benefícios ou status.
O modelo clássico de carreira onde se buscava a ascensão vertical (supervisor, gerente, diretor, VP etc.) das empresas está falido há tempos. Atualmente, temos um número enorme de pessoas que abre mão da carreira de liderança para se realizarem em atividades operacionais e técnicas, porque estão em busca de fazer o que gostam.
Termômetro do sucesso
Quero chamar atenção exatamente para esta expressão: “fazer o que se gosta”, este é o verdadeiro termômetro do sucesso, atingir o status de atuar em atividades que lhe dão prazer.
No entanto, para isso, temos grandes obstáculos de pressão social para transpor, os familiares podem não apoiar nosso desejo, você talvez precise abrir mão de certo nível de conforto e padrão de consumo. Enfim, essa mudança (como toda mudança na vida) irá tirá-lo de sua zona de conforto e é preciso estar preparado para isso.
A primeira pergunta que te faço é:
– O que é que você realmente quer?
– O que te faria feliz profissionalmente a ponto de sentir-se leve para trabalhar 18hs por dia se fosse necessário?
Pode ser que o sucesso para você vá contra o senso comum. As pessoas podem olhar e dizer que está maluco, mas não se importe com a opinião dos outros, pois a vida e os sentimentos de prazer e frustração serão seus, ninguém irá compartilhar disso com você. Então, não baseie sua felicidade e realização pessoal nos critérios de quem não vivenciará esse processo intimamente com você.
Pode ser que sua receita de satisfação esteja em ser alfaiate, socorrista, programador de software, não sei, mas volto à pergunta que vale mais de R$1 milhão:
– O que te faz sentir realizado? Prestar serviços, vender mercadorias, liderar as pessoas, arte, pesquisa? E esta retórica é muito importante, pois dinheiro traz felicidade momentânea, mas viver fazendo o que se gosta traz realização permanente.
Construir uma carreira de sucesso envolve uma jornada de autodescobrimento. Não é à toa que vemos profissionais em processo de desengajamento de carreira que desenvolvem planos muito diferentes do que faziam. É comum vermos executivos de empresas que abrem pousadas na praia, ou montam oficinas de personalização de veículos, que abrem startups, enfim, pelo processo de autoconhecimento eles foram capazes de achar sua receita de felicidade, foram pacientes para angariar os recursos necessários, tiveram coragem para romper com a visão de sucesso tradicional, e que agora desfrutam de uma vida mais feliz e realizada.
Três expressões de uma carreira de sucesso
Utilizamos estas três expressões para trazer pontos fundamentais a fim de fomentar sua carreira: autoconhecimento, paciência e coragem. Sim, precisamos saber o que nos faz felizes, temos que ter paciência, pois, o plano de migração pode exigir muito anos de esforço, e ainda, precisamos ter a coragem para mudar efetivamente. Do contrário, nossos planos nunca sairão do papel, serão sempre sonhos anotados em uma agenda ou promessa de virada de ano.
Duas provocações do editor do Vya Estelar ao autor do texto:
1ª provocação – No decorrer do texto aparece uma associação meio perigosa (muito direta) entre fazer o que se gosta, a princípio não dar dinheiro, mas fazendo realmente o que se gosta o dinheiro é uma consequência. Afirmar isso não se tornou digamos… um clichê?. Digo perigosa, pois se associa altos rendimentos a desempenhar atividades ou funções desagradáveis.
Resposta: Quanto à "associação de altos rendimentos a desempenhar atividades ou funções desagradáveis", se entendi corretamente a colocação, veja, já vimos muitos profissionais que aceitam cargos com os quais não se identificam exclusivamente pela obtenção de altos rendimentos. Eu mesmo já vivi pessoalmente esta questão para poder opinar, e na verdade, o que vemos é que em alguns meses a motivação oriunda do salário desaparece e o indivíduo pode entrar em processo de forte estresse emocional.
O conceito de função desagradável é muito subjetivo, dependerá do perfil individual. Alguns indivíduos preferem trabalhar em uma mesa programando e gerando softwares, outros preferem estar em estábulos cuidando de cavalos. Se trocarmos essas pessoas de funções, ambas ficarão infelizes, pois um não nasceu para ficar sentado em uma mesa, e o outro não suportará levar a primeira picada de carrapato (rs).
Sobre a conotação de "clichê", do ponto de vista hermenêutico da palavra, penso que está correta a afirmação … Penso que o uso reiterado da expressão é justamente pelo fato de estar correta!
Dinheiro não pode ser objetivo, tem que ser consequência, porque todo trabalho poderá render dinheiro, mas a quantia será resultado de sua capacidade de diferenciação + incremento de valor, e isso dependerá do quanto você é habilidoso no que faz. Portanto, qual a conclusão que tiramos disto? Ora, essa habilidade está ligada à sua vocação e prazer em realizar determinada atividade. Portanto, o foco deve estar em desenvolver a sua arte profissional, em ser capaz de trazer felicidade à sua labuta, e então a retribuição pecuniária que receberá será reflexo disso.
2ª provocação – Por que o modelo clássico de carreira onde se buscava a ascensão vertical (supervisor, gerente, diretor, VP, etc) das empresas está falido?
Resposta: Está falido porque o modelo de carreira proposto por empresas modernas não segue mais a lógica da verticalidade como referência de sucesso. As organizações se cansaram de ver ótimos técnicos se tornando péssimos gestores. Isso porque a "promoção por promoção" não é adequada … a própria terminologia não facilita essa visão. Assumir liderança significa transitar para outra função, com novas responsabilidades e requisitos, por isso, atualmente tratamos da carreira em "Y", pois se o profissional não tem perfil para gerenciar, seu caminho pode ser a especialização técnica. Transitar de forma vertical pode ser um caminho, mas desde que esteja alinhado ao perfil do profissional. Do contrário, não o fará feliz ou realizado.
Pode parecer arrojado, pois vai contra o senso comum de sucesso, mas muitas pessoas se apegam demais à visão material de realização tornando a capacidade aquisitiva como o referencial de sucesso, mas em uma visão humana mais completa e integral, não podemos ser tão simplistas ao pensar que somente salário, posição social ou status são capazes de trazer realização verdadeira e duradoura ao indivíduo.
Por isso, dizemos, o modelo verticalizado, voltado ao status e poder está falido como referência de uma carreira de sucesso. Veja, o modelo vertical segue a lógica piramidal, quanto mais se sobe no organograma, menos posições disponíveis teremos. Portanto, essa visão delegaria a realização profissional à somente uma minoria de pessoas na organização.
Fonte: Ivan Jacomassi Junior: é administrador e Pós-Graduado em Administração de Empresas pela FGV.