por Patricia Gebrim
Agora já não havia como fugir. Tinha chegado o dia em que eu faria a minha primeira trilha de bicicleta. Já fazia um tempo que eu pedalava no asfalto e, finalmente, faria minha estreia na terra. Borboletas se agitavam no meu estômago.
Como sempre acontece quando faço algo pela primeira vez, olhei minha imagem no espelho e a minha cara estava meio torta, juro que se parecia com um ponto de interrogação.
– Será que vou dar conta? E se eu cair? E se eu não conseguir subir a montanha ? E se meu coração sair pela boca? E se eu ficar para trás e me perder? E se uma onça me devorar???
Ajudava saber que também seria a primeira vez para alguns de meus colegas ciclistas, todos um pouco ansiosos e atrapalhados como eu. Aliás, a minha “atrapalhação” começara no dia anterior. Eu tinha comprado uma mochila dessas de hidratação que levam uma bolsa com água e deixam a gente com uma espécie de corcunda. Eu me senti um perfeito dromedário com aquilo nas costas. Cheguei em casa feliz e fui testar a nova aquisição. Enchi a coisa com água, mas quem disse que eu conseguia fazer a água sair pelo tubinho?
– Caramba – pensei…
– Nem isso eu consigo fazer?
Até descobrir a tal trava que libera a água (agora me parece óbvio!) levou tanto tempo que eu cheguei a me questionar se essa coisa de “mountain bike” era mesmo para mim.
1ª dica: Errar sim, desistir nunca!
Até o óbvio deixa de ser percebido quando fazemos algo pela primeira vez. Isso não significa que você seja incapaz, mesmo que possa parecer assim! Não sinta vergonha por aquilo que ainda não sabe.
Enfim, lá estávamos, naquele lindo dia azul, tirando nossas bicicletas do carro e vestindo as corcovas para começar a trilha. O coração batia mais forte.
Em nosso grupo existiam alguns ciclistas mais experientes, o que pude comprovar logo na primeira subida. Enquanto a maioria de nós, roxos como beterrabas, procurávamos nos convencer de que não estávamos em meio a um ataque fulminante do coração; um outro passou por nós sorrindo, pedalando, com o corpo voltado para trás, a câmera em mãos, fotografando nosso suplício sem parecer fazer esforço algum! Eu mal conseguia pedalar, mas ele pedalava NA SUBIDA, sorria, falava, fotografava e ainda nos dava dicas para melhorar nosso desempenho, TUDO AO MESMO TEMPO!
2ª dica: Não se compare aos outros. Ninguém nasceu sabendo!
Ao fazer algo novo compreenda que só o tempo e a persistência poderão levá-lo adiante. Não cobre de si mesmo um ótimo e imediato desempenho. Diminua a autocrítica! Seja paciente e respeite seu ritmo.
Bem, lá pelas tantas, dei de cara com uma subida interminável. Juro, devia ter o dobro da distância entre a terra e a lua, numa inclinação praticamente vertical. Bem, nessa hora, mesmo já tendo sorvido mais de metade da corcova, fiz tanto esforço que senti meu cérebro virar um ovo frito dentro da minha cabeça. Só pode ser isso, pois de repente já não conseguia raciocinar. Parei lá, no meio do paredão do inferno, não conseguia ir nem para frente nem para trás. Tentava colocar os pés nos pedais, mas não sei de onde surgiram mais quatro pernas e eram pedais de menos para tantos pés. As pernas se enroscavam umas nas outras e eu não saía do lugar. As mãos ficaram bobas e eu já não sabia onde era o freio e onde ficavam as alavancas para mudar as marchas. Pane total! Travei.
No meio do desespero, como se vinda dos céus, uma voz chegou me dizendo o que fazer. Completamente atrapalhada, fui fazendo o que me dizia aquela voz que gritava lá sei eu de onde.
– Aperte o freio! O freiooooo! Agora coloque os pés no pedal, agora solte o freio… PEDALEEEE…
Não sei como, mas com a ajuda da voz consegui terminar a subida.
3ª dica: Acredite em anjos! Ouça os mais experientes.
Ao fazer algo novo, escute os que têm mais experiência do que você. Peça e aceite ajuda. Aprenda tudo o que puder.
Continuamos em frente, e curiosamente percebi que uma ciclista subia com mais facilidade, apesar de ser iniciante como nós. Embora mal conseguisse falar, perguntei-lhe qual era o segredo para a leveza que ela parecia levar aos seus pés. Ela então me disse que tinha parado de prestar atenção na subida, e que tinha começado a se divertir contando as formigas que escapavam das rodas da sua bicicleta (uma enormes formigas vermelhas que dividiam as estradinhas conosco).
4ª dica: Conte formigas. Divirta-se e não tenha pressa em chegar ao final.
Não pense apenas em atingir o objetivo, procure ficar no presente, desfrutando de cada etapa do caminho. Divirta-se, brinque com a vida. Não leve as coisas tão a sério.
Bem, chegamos todos ao final, compartilhamos uma deliciosa comida mineira preparada no fogão a lenha, transformando o sofrimento em deliciosas histórias que regaram nosso almoço de celebração.
Uma última consideração
Em momentos de desafio faz toda a diferença sentir o apoio das pessoas queridas, o conforto de pertencer a um grupo cooperativo (não competitivo), a gentileza, o cuidado, o apoio, o companheirismo. Nem sempre isso é possível, eu sei. Por isso, busque e valorize as pessoas que possam fazer diferença na sua vida.