por Luís César Ebraico
Sessão de sexta-feira com Ermínia, uma empresária de modas que, na segunda-feira seguinte irá fazer a apresentação, em desfile, de sua nova coleção de inverno. Está evidentemente nervosa. Mais do que isso, está dividida entre, por um lado, passar o fim-de-semana em um SPA para recuperar-se de toda a tensão que passou preparando o evento e ficar longe do Rio, sem poder atender a alguma complicação de última hora, e, por outro, ficar aqui para solucionar qualquer imprevisto de última hora. Após uma série de ires e vires, decide que vai para o SPA e se despede. Quando está começando a descer a escada da cobertura onde atendo, chamo-a:
LC: — Ermínia!
ERMÍNIA (parando na escada): — Sim?
LC: — Não se preocupe!
ERMÍNIA: — Não?
LC: — Não. Vai dar tudo errado.
Como era de se esperar, deu tudo certo e, na sessão seguinte, a paciente comentou:
ERMÍNIA: — Puxa, foi ótimo! Descansei pra burro no SPA! Toda vez que me passava uma nuvem de preocupação e eu pensava que alguma coisa poderia estar saindo dos eixos aqui embaixo, eu me lembrava do que você havia dito e pensava: “Também, pra que vou me ralar? Vai tudo dar errado mesmo!” E relaxava outra vez… Descansei muito. Olha, amigo, muito obrigado! Foi bom, muito bom!
E por que diabos eu ter dito para Ermínia que tudo iria dar errado no evento que era tão importante para ela e que ela tanto se esforçara por bem preparar pôde relaxá-la, transformando-se em algo “bom, muito bom”?
Parece-me simples: com meu comentário, eu emprestei LEGITIMEI os naturais pensamentos de Ermínia relativamente a que seu evento, como qualquer outro empreendimento humano, está sempre sujeito ao imponderável e, por mais que tenhamos dado o melhor de nós, pode soçobrar. Faz parte da vida e a tentativa de negar o que, no fundo de nós, sabemos ser verdade, PROVOCA ANGÚSTIA. Quando eu disse “Não se preocupe, tudo vai dar errado”, é como se tivesse dito: “Você TEM DIREITO de pensar que pode ser que não dê certo”! E a legitimação de um pensamento anteriormente considerado ilegítimo, traz sempre alívio.
Essa legitimação pode ser feita, naturalmente, de várias maneiras. Vejamos outra:
PACIENTE: — Estou com vontade de falar uma coisa, mas estou com medo de que você pense que eu sou veado.
LC: — Já pensei, pode continuar.
PACIENTE: — Hein?
LC: — Ué, seu medo não é o de que eu pense que você é veado? Como eu já pensei, você não tem nada mais a temer.
PACIENTE (relaxando-se e rindo): — Você não é fácil!
E passou a relatar o que lhe interessava.