por Gilberto Coutinho
Já escrevi dois textos sobre o fenômeno da respiração – clique aqui e leia. Devido à importância do assunto, acabei me estendendo e será então um série de seis artigos. Vamos então ao terceiro.
O nariz, a faringe, a laringe, a traqueia, os brônquios e bronquíolos (considerados órgãos condutores do ar), juntamente com os pulmões e alvéolos (órgãos respiratórios), constituem o importante sistema respiratório, cujas funções são: absorção do oxigênio (O2) e a eliminação do gás carbônico (CO2), produção da voz (pelas cordas vocais) e regulação da acidez no sangue.
A respiração é controlada pelo cérebro (encéfalo), centro de controle de todas as atividades do corpo, mediante dois sistemas neurais distintos, mas que se inter-relacionam: o voluntário (coordena a respiração ligada a diversas atividades motoras) e o involuntário ou autônomo (mantenedor da homeostasia). Maior órgão do sistema nervoso central (SNC), o encéfalo é composto pelo cérebro (formado por dois hemisférios cerebrais, unidos pelo corpo caloso, responsável pelas atividades conscientes e inteligentes), cerebelo (responsável pela manutenção da postura e coordenação motora) e bulbo raquidiano, que também permite sentir, pensar, lembrar, raciocinar, ouvir, falar, movimentar, andar, etc. O sistema nervoso central é composto de mais de 100 bilhões de neurônios ou células nervosas.
Breve anatomia e fisiologia dos pulmões
Os pulmões, órgãos da respiração, são brilhantes, elásticos, moles, esponjosos e revestidos pela pleura pulmonar (membrana serosa que cobre os pulmões), encontram-se localizados no interior da caixa torácica e separados entre si pelo mediastino (espaço compreendido entre os dois pulmões, abriga o coração, o timo, os grandes vasos (a aorta), a traqueia, os brônquios, o esôfago, o canal torácico, vasos linfáticos, gânglios simpáticos e nervos). Os pulmões flutuam no interior da caixa torácica, envolvido por uma camada muito fina de líquido pleural, que lubrifica os movimentos dos pulmões no interior da cavidade.
Anatomicamente, o ápice do pulmão encontra-se na altura da primeira costela e na altura do processo espinhoso da 7ª vértebra cervical, e a sua borda inferior, na altura da 10ª e 11ª vértebras torácicas. O pulmão esquerdo é dividido em dois lobos (superior e inferior), por uma cisura interlobar; o direito, em três lobos (superior, médio e inferior), por duas cisuras interlobares. O tecido funcional do pulmão (parênquima) é formado por alvéolos suspensos em cachos na extremidade dos bronquíolos, últimas ramificações da árvore brônquica. Sendo os alvéolos a parte funcional dos pulmões, neles ocorrem as trocas gasosas que garantem a oxigenação do sangue; o sangue venoso se transforma em sangue arterial, fenômeno conhecido como hematose.
Uma técnica do Yoga, chamada de Prana kriya pránáyáma (respiração completa), além de fortalecer e preservar a funcionalidade dos músculos respiratórios, auxilia na purificação e no fortalecimento dos pulmões (auxiliando na prevenção e no combate das afecções = doenças); amplia a capacidade respiratória e combate a respiração curta e deficiente; beneficia a musculatura peitoral e das costas, a coluna vertebral e auxilia na prevenção e no combate das tensões, das dores musculares e dos problemas da coluna vertebral; melhora o suprimento de oxigênio para as células do sangue, estimulando a circulação sanguínea. Uma adequada respiração proporciona mais energia, disposição e vitalidade ao organismo.
A traqueia, conduto fibrocartilaginoso que liga a laringe aos brônquios e conduz o ar das vias aéreas superiores para os brônquios e pulmões, divide-se na altura da 5ª ou 6ª vértebra torácica (algumas vezes, da 7ª VT). Encontra-se localizada um pouco mais próxima do ápice do pulmão direito do que do esquerdo.
Respiração voluntária e involuntária
A respiração voluntária é regulada pelo córtex cerebral, região externa do cérebro constituída de substância cinzenta que ocupa toda a superfície das circunvoluções cerebrais; e a involuntária (ou autônoma), pelo segmento inferior do tronco cerebral, constituído pelos centros respiratórios do bulbo raquidiano (mielencéfalo) e pela ponte, que comanda as funções vitais do organismo, como a respiração e o tônus vascular.
A regulação da respiração é mediada por:
(1) receptores (quimiorreceptores e mecanorreceptores);
(2) centros respiratórios;
(3) músculos respiratórios (esqueléticos).
Os receptores recebem informações e as enviam aos centros respiratórios, que coordenam as informações, ativando ou inibindo a ação dos músculos esqueléticos envolvidos na respiração; tais músculos são também chamados de voluntários, pelo fato de serem conscientemente controlados. Os quimiorreceptores são células sensíveis à falta de oxigênio e ao excesso de dióxido de carbono ou de íons hidrogênio.
Eventos da respiração
A respiração pode ser dividida em quatro eventos:
(1) ventilação pulmonar, entrada do ar atmosférico, durante a inspiração, no interior dos pulmões através da árvore brônquica e dos bronquíolos até alcançar os alvéolos;
(2) difusão do oxigênio nos alvéolos pulmonares e a expulsão do dióxido de carbono;
(3) transporte do oxigênio pelo sangue e pelos líquidos corporais até as células e do dióxido de carbono, oriundo das células, para os alvéolos pulmonares;
(4) regulação da respiração.
O yogue, quando pratica pránáyáma (exercício respiratório), realiza ambos os processos, ao respirar de forma regular e equilibrada. Os benefícios mais evidentes do pránáyáma são o aumento da oxigenação e da circulação sanguínea. Tais benefícios também podem ser alcançados pela prática de exercícios aeróbicos. Entretanto, exercícios aeróbicos são catabólicos (gastam energia), e os pránáyámas, são anabólicos (geram energia).
A trajetória do ar atmosférico pelo corpo humano
(1) Nariz: o ar atmosférico, ao ser inspirado pelo nariz ou pela boca, chega até a garganta. A respiração fisiológica é nasal; excepcionalmente, pode-se respirar pela boca.
(2) Epiglote: opérculo fibrocartilaginoso móvel situado sobre a região superior da laringe, um pouco abaixo da base da língua. Deslocando-se para trás, tal estrutura obstrui as vias respiratórias durante a deglutição, impedindo que líquidos e alimentos atinjam os pulmões. Durante a inspiração, a epiglote permite que ar atmosférico chegue até a traqueia.
(3) Traqueia: conduto fibrocartilaginoso que liga a laringe aos brônquios e conduz o ar das vias aéreas superiores para os brônquios e pulmões.
(4) Pulmões
(5) Árvore brônquica: rede tubular de passagem de ar, divide-se em milhares de ramificações, assemelha-se às raízes ou galhos de uma árvore, conduz o oxigênio aos bronquíolos.
(6) Bronquíolos: finíssimos tubos ramificados que terminam nos alvéolos.
(7) Alvéolos pulmonares: cavidade sem saída, onde ocorrem as trocas gasosas entre o sangue e o ar inspirado, devido à existência de capilares (hematose)
(7) Corrente sanguínea
(8) Células.
Frequência e volume respiratório
O volume normal de ar inspirado é de 500 ml, enquanto a frequência respiratória normal de um indivíduo adulto varia entre 12 a 18 respirações por minuto. O volume respiratório é, em média, de 6 litros por minuto. Uma pessoa pode inspirar cerca de 3.500 ml de ar começando a partir da expiração normal e distender os pulmões ao máximo (capacidade inspiratória). Cerca de 2.300 ml de ar permanece nos pulmões ao final da expiração normal (capacidade residual funcional). Em geral, a frequência respiratória normal por minuto no nascimento é de 50 a 40; do 1º aos 12 meses: 35 a 25; de 1 aos 4 anos: 25; e dos 5 aos 15 anos: 25 a 20.
A expiração normal, tranquila e lenta é um processo totalmente passivo, ocasionada pela retração elástica dos pulmões e das estruturas da caixa torácica. Durante a realização de alguns exercícios yogues, pránáyámas (exercícios respiratórios), kriyas (técnicas de purificação do corpo) e bandhas (contrações de plexos nervosos, órgãos e glândulas), tais como, Bhástrika pránáyáma (respiração do fole), Kapalabháti kriya (purificação do crânio), Uddiyana bandha (contração do abdômen para dentro e para cima) e a expiração Há, a expiração deixa de ser passiva e passa a ser controlada de forma voluntária, pela ação rápida e vigorosa dos músculos inspiratórios e expiratórios.
Frequência cardíaca durante o pránáyáma
Durante a inspiração, a frequência respiratória tende aumentar, e, durante a expiração, diminuir. Frequência cardíaca normal por minuto: Nascimento: 140 – 130; 1 mês: 130 – 120; 1 ano: 120 – 110; 2 anos: 108 – 90; 3 anos: 90 – 80; 7 anos: 80 – 85; 10 a 20 anos: 85 – 80; 21 a 60 anos: 80 – 70; mais de 60 anos: 65 – 60.
A respiração de um yogue e de uma tartaruga
A tartaruga respira e se locomove de modo lento, em média, respira cinco vezes por minuto. Segundo pesquisadores, algumas espécies de Testudines (ordem que compreende as tartarugas, cágados e jabutis), podem viver muitos anos, cerca de 400 anos ou mais, dependendo das condições ambientais. As tartarugas e os jabutis estão entre os animais de vida mais longa, perdem apenas para algumas espécies de árvores.
Uma pessoa adulta respira em média de 12 a 18 vezes por minuto. Um yogue iniciante, respira cerca de oito vezes por minuto; já um yogue experiente, apresenta uma frequência respiratória de quatro vezes por minuto. Se compararmos a frequência respiratória de um yogue experiente com a da tartaruga, podemos concluir que o yogue poderá viver acima de 400 anos. Na Índia, há um ditado que diz: “Ao nascer, cada pessoa recebe do criador um número fixo de respirações que ela terá durante a sua vida.”
Composição do ar atmosférico
Durante a inspiração, o ar atmosférico, ao penetrar o orifício nasal e atravessar as extensas conchas nasais, é filtrado e umidificado antes de alcançar os alvéolos pulmonares; é composto de nitrogênio (N2, 78%), oxigênio (21%), dióxido de carbono (0,03%), gases nobres (0,93%) e apenas um pouco de vapor d’água.