por Gilberto Coutinho
Já escrevi quatro textos sobre o fenômeno da respiração – clique aqui e leia. Devido à importância do assunto, acabei me estendendo e será então um série de seis artigos. Vamos então ao quinto.
Fatores e doenças que afetam a respiração
Alguns irritantes das vias aéreas, como, fumaça (em geral), gases tóxicos, poeira, odores fortes, ar frio, pólen e mofo, ácaros (presentes no pó e pelos de animais), aspirina (em alguns casos), etc., dependendo do grau de alergia e do tempo de exposição, podem provocar espirro, tosse, constrição brônquica, intoxicação, dificuldade respiratória e até mesmo asfixia.
O sistema nervoso é extremamente sensível. Toda substância tóxica que prejudique ou deteriore a função do sistema nervoso pode afetar drasticamente a respiração e comprometer a vida. A intoxicação por aditivos alimentares, solventes (materiais de limpeza, tinta, formaldeído, tolueno, benzeno etc.), pesticidas, herbicidas, narcóticos (opiáceos), drogas e bebidas alcoólicas (depressoras do Sistema Nervoso Central), dentre outras substâncias tóxicas, podem desencadear diversos sintomas desde psicológicos e neurológicos: cansaço; confusão mental; debilidade; náusea; perda da memória, de apetite, da visão e da audição; depressão; agressividade; cefaleias; confusão e doença mental; surto psicótico; formigamento das extremidades; reflexos nervosos anormais; alterações do ritmo e da frequência cardíaca e respiratória; hipotermia (queda excessiva da temperatura corporal); perda da consciência; coma; parada cardiorrespiratória; etc.
A asma é uma afecção (doença) pulmonar caracterizada pela inflamação crônica dos brônquios, que se estreitam em resposta a certos estímulos causadores de alergia; estima-se que 10% da população sofram desse mal; tal estreitamento pode ser ocasionado pela reação a substâncias alergênicas, como: pólen, ácaros, fumo, ar frio, exercícios e infecções virais. Os sintomas incluem: sensação de aperto no peito, respiração curta, tosse, expiração com chiado generalizado, falta de ar e expectoração de muco. Os músculos lisos dos brônquios causam um espasmo, e os tecidos que revestem as vias aéreas inflamam-se, produzindo muco. Isso contribui para reduzir ainda mais o diâmetro dos brônquios, dificultando a respiração.
Febre de feno
Em geral associada a uma estação climática, caracteriza-se por espirros, coriza aquosa, coceira nos olhos e nariz. Bronquite e pneumonia: comumente procedidas por infecção das vias respiratórias superiores (resfriado). A bronquite consiste numa infecção ou irritação da árvore brônquica; e a pneumonia, numa infecção ou irritação dos pulmões, e apresenta sinais clássicos de comprometimento pulmonar: respiração curta, tosse, ruídos anormais da respiração, febre, etc. Derrame pleural, enfisema pulmonar (dilatação permanente dos alvéolos e dos bronquíolos), insuficiência cardíaca congestiva, edema cerebral agudo, câncer de pulmão, embolia pulmonar, gripe, resfriado, doses elevadas de anestésicos ou narcóticos, etc. também podem afetar, prejudicar e comprometer a respiração.
Outros fatores que afetam a contração brônquica: histamina e a substância de reação lenta da anafilaxia (liberadas nos tecidos pulmonares pelos mastócitos, células do tecido conjuntivo, durante as reações alérgicas). Muitas doenças obstrutivas dos pulmões podem ocasionar um estreitamento (estenose) dos brônquios menores e bronquíolos, quase sempre devido à excessiva contração da própria musculatura lisa (conhecida também por involuntária, pois não se encontra sob o controle consciente). Em certas afecções, os bronquíolos, por serem pequenos, podem sofrer obstrução, devido também à maior presença da musculatura lisa em suas paredes.
O aumento da oxigenação, mediante uma respiração adequada, estimula a circulação sanguínea e beneficia o encéfalo e, consequentemente, as glândulas endócrinas, tornando possível prevenir e combater diversos problemas de saúde: ansiedade, estresse, insônia, hipertensão arterial, diabetes mellitus, depressão, disfunções das glândulas tireoide e paratireoide, obstrução das coronárias, doença de Alzheimer, doença de Parkinson, dentre outras tantas enfermidades. Os distúrbios orgânicos referentes à deficiência e degenerativos têm sidos, recentemente, relacionados ao metabolismo defeituoso do oxigênio e à oxigenação deficiente (hipoxia).
Prana, universo, vida e respiração
Os Vedas, os Upanishads e os Yoga Shastras (tratados de Yoga) abordam a importância do prana e dão enorme ênfase a esse respeito. A palavra sânscrita “prana” significa “força vital”, “energia da vida”, “bioenergia”, ou “energia cósmica”; é o princípio da vida que se manifesta em todo o universo.
O “Big Bang” e o nascimento do universo. Então, o “Big Bang” (a grande explosão), teoria cosmológica proposta pelo padre católico, astrônomo e físico belga Georges Lemaître (1894 – 1966), não teria ocorrido e, consequentemente, o universo nascido sem a manifestação potencializada do prana. Sem a atuação do prana e dos gunas (Satva, Rajas e Tamas, qualidades essenciais da natureza), possivelmente o universo também não poderia se expandir e evoluir de maneira continuada, como ainda o faz desde o seu surgimento, por volta de 12,3 a 13,9 bilhões de anos atrás.
Segundo a astrofísica moderna, quando ocorreu o “Big Bang”, teoria sustentada por evidências científicas, o universo era minúsculo, extremamente quente e denso; após milésimos de um segundo, o universo já alcançara o tamanho de uma bola de gude, continuando a se expandir sucessivamente, durante milhões de anos, e a se resfriar, até o surgimento das galáxias. A ciência moderna ainda não sabe muito a respeito do tão vasto universo, e muito do que é conhecido hoje se dá pelas imagens capturadas pelo telescópio espacial Hubble, enviado à órbita terrestre, em abril de 1990, pela NASA – agência espacial americana. O Hubble ampliou de forma extraordinária a visão e a compreensão do homem a respeito do universo e promoveu um avanço tão relevante quanto o físico, astrônomo e filósofo italiano Galileu Galilei, no século XVII, com a invenção da luneta.
Logo após ter alcançado o espaço, o Hubble apresentou um sério problema óptico que parecia comprometer as observações astronômicas. No entanto, o problema foi solucionado, em 1993, durante uma missão tripulada. Idealizado em 1946, projetado e construído nos anos 1970 e 1980, o telescópio espacial recebeu esse nome em homenagem ao astrônomo americano Edwin Powell Hubble, que revolucionaram a Astronomia, ao constatar que o universo encontra-se, ainda hoje, em constante expansão e que as nebulosas eram, na verdade, galáxias fora da Via Láctea.
De acordo com alguns antigos Yoga Shastras, escrito em sânscrito, o universo é composto de duas substâncias: espaço (akasha) e prana. Recentemente, astrofísicos detectaram uma grande concentração de moléculas de oxigênio, como se formassem um cinturão, ao redor do nosso sistema solar, o que não parece ser apenas uma peculiaridade da nossa região sideral. Alguns anos atrás, cientistas encontraram no espaço uma grande concentração de água ao redor de uma estrela que morria. Afinal, existem oxigênio e água fora da Terra, no espaço? A teoria cosmológica hindu, segundo o Samkhya e Ayurveda, descreve com certa exatidão o fenômeno da origem do universo e de que maneira seus cinco elementos (espaço, ar, fogo, água e terra) surgiram, e afirmam que o universo é constituído por esses cinco elementos. Segundo estudos científicos modernos, astrofísicos chegaram à conclusão de que o corpo humano é formado da mesma matéria das estrelas. Tudo o que existe no universo provém de um único ponto de origem e é constituído de uma mesma matéria, em proporções diferentes.
O planeta Terra formou-se há cerca de 4,5 bilhões de anos, e os primeiros indícios de vida, no planeta, datam de 3,5 bilhões de anos. O gênero Homo surgiu por volta de 2,5 milhões de anos, a partir dos Australopithecus afarensis. O “homem moderno”, única subespécie sobrevivente do Homo sapiens, é definido como membro da espécie Homo sapiens (homem sábio). O primeiro registro fóssil dos humanos anatomicamente modernos foi encontrado na África, há cerca de 195.000 anos. Estudos da biologia molecular evidenciam de que o tempo aproximado da divergência ancestral comum do homem moderno é de 200.000 anos atrás.
O homem como microcosmo. Há evidências de que, na antiguidade, filósofos gregos tenham sido inspirados pelas antigas e importantes escolas clássicas de pensamento (Dárshanas) da Índia, como o Samkhya e o Yoga. O filósofo italiano Marsílio Ficino (1433 – 1499), considerado o maior representante do Humanismo florentino, traduziu obras de Platão e difundiu suas ideias, exaltou o homem como microcosmo, uma síntese do universo.
Muito antes da invenção da luneta de Galileu e do homem enviar ao espaço o telescópio Habble, os antigos sábios indianos já haviam minuciosamente analisado e descrito com tamanha acuidade e de forma surpreendente o nascimento do universo, assim como o fez o Samkhya. Além disso, existe um antiguíssimo, poético e interessante conto indiano que explica o nascimento do universo: “O homem nasceu de um ovo dourado, posto pelo rei dos deuses na espuma do oceano cósmico”. Ao se refletir a respeito, o ovo não corresponderia ao tamanho primordial do universo após ter ocorrido o Big Bang? O dourado não representaria a luz, o fogo e a elevadíssima temperatura no início do surgimento do universo? E o oceano não seria o espaço (akasha), onde o universo se encontra, em constante expansão?
A força primordial da vida, o prana, também se manifesta em diversos processos psicofisiológicos do corpo humano, de forma mais evidenciada na respiração. O corpo humano não é apenas constituído de matéria física, também apresenta aspectos sutis e extremamente vitais, como a consciência e a mente, todos dependentes do prana. Pode-se dizer que o pránáyáma também atua no campo da nanotecnologia (manipulação da matéria numa escala atômica e molecular), pois o oxigênio é essencial a todos os processos metabólicos e químicos que ocorrem no corpo, inclusive para o DNA (ácido desoxirribonucléico, constituinte dos núcleos celulares). Portanto, os exercícios respiratórios do Yoga constituem uma terapêutica de grande relevância para a prevenção e o combate de diversos distúrbios psíquicos e orgânicos. Respirar corretamente é essencial para a prevenção de doenças e o cultivo da saúde.
Por sua importância, muitas técnicas do Yoga passaram também a fazer parte da terapêutica do Ayurveda – milenar Medicina Tradicional da Índia.
Diferentes manifestações do prana. Tudo o que no universo e na natureza é chamado de energia ou força envolve a manifestação do prana, que se dá na forma de luz, na escuridão, nas estrelas, no movimento das galáxias, na temperatura (calor e frio), na gravidade, na eletricidade, no magnetismo, nas cores, no ar, no vento, na água, no movimento das correntes oceânicas, na terra, no fogo, nos seres vivos, nas plantas, nos impulsos nervosos, nos alimentos, no pensamento, na digestão, etc. Sem o prana, não existe o universo, consequentemente a vida. O prana pode ser comparado com a respiração, portanto, o prana, a respiração e o oxigênio podem ser considerados aspectos de uma mesma coisa.
O ar é uma forma sutil de energia, uma manifestação do prana. Energia vital e Medicina Chinesa. O Taoísmo (tradição filosófica e religiosa do leste da Ásia) e a Medicina Tradicional Chinesa também reconhecem a existência da “energia vital” e a chamam de “tchi”. O princípio curativo da Acupuntura Chinesa baseia-se na aplicação de agulhas em pontos específicos do corpo com o objetivo de desobstruir os canais de energia por onde o tchi circula e o de restaurar o seu fluxo normal, visando a promover o adequado funcionamento do organismo.