Por Carminha Levy
Surgindo na aurora dos tempos, o xamâ foi o primeiro curador e religioso da humanidade. Sua maior e mais persistente atuação até hoje, podemos afirmar, é no campo da cura psicológica. Seu trabalho com o corpo (danças, massagens, cantos e com os estados alterados de consciência através do som do tambor ou das plantas sagradas) sempre visou à cura, ancorada principalmente no seu carisma e na sua força religiosa.
O teste do Xamã é fascinante por sua simplicidade. O cliente escolhe uma pedra e a traz juntamente com o problema que o aflige. O xamã manda que se concentre numa pergunta referente à sua questão e que olhe a pedra nas quatro faces, descrevendo as imagens que vê. Depois o xamã pergunta ao paciente que relações podem existir entre as imagens vistas e o problema que traz. Esta simplicidade de recursos revela a poderosa habilidade de trazer à luz os motivos inconscientes que nem a nós mesmos revelamos.
Podemos ver, além do uso da projeção, a associação de idéias, a capacidade de análise e síntese e a interpretação do terapeuta usadas em qualquer linha psicológica. Expresso aqui minha profunda admiração pela sabedoria dos xamãs, inegavelmente os verdadeiros iniciadores da grande descoberta do inconsciente, revolução sem igual que mudou toda a história do conhecimento.
Oficialmente, só com Freud e Jung a verdadeira face oculta do ser pôde ser revelada. Deixamos de ser títeres de nosso inconsciente e ampliamos nossa consciência para uma maior realização de vida.
O que não é reverenciado e reconhecido é o quanto devemos aos xamãs – falha que procuro reparar desde o meu primeiro artigo (palavra escrita audaciosa que marcou a chegada dos xamãs urbanos no Brasil), “O que os psicólogos devem aos feiticeiros”, Revista Psicologia, ano 1987, artigo esse que causou imensa polêmica, pois invadi com minhas afirmações xamânicas a fortaleza acadêmica e limitada da psicologia, que hoje abre suas portas a este conhecimento transpessoal. Pude constatar isso no "I Congresso Goiano de Psicologia Arquetípica: Espiritualidade na prática clínica”, realizado semana passada (8 a 10 de Junho em Goiânia), onde apresentarei o trabalho xamânico “Xamanismo Matricial”.
Prática
Prepare um ambiente e marque as 4 direções sagradas; acenda uma vela (leste), um copo com água (sul), uma plantinha (oeste), incenso (norte). Use um CD de tambor ou qualquer música cujo som seja marcado por uma batida. Não use música que você já associe a algo definido e nem que tenha letra. Feche os olhos, comece a relaxar usando a sua técnica preferida, quando se sentir bem enfocado na sua intenção, ligue o som.
Você fará o teste projetivo mais antigo do mundo. Escolha uma pedra comum que possa ser vista nos quatro lados – frente, verso, em cima, e embaixo. Deixe ao seu lado papel e caneta. Concentre-se na sua questão e faça uma única pergunta que abranja seu problema. Não pode ser de dupla escolha, “isto ou aquilo”.
Volte-se para sua respiração, mantenha os olhos fechados e aquiete sua mente. Quando sentir que está centrado na pergunta, abra os olhos, deixe-os semicerrados e vá procurando formas em cada uma das faces. Só passe para a seguinte quando tiver esgotado as imagens da face inicial. Vá anotando o que vê, mesmo que não faça sentido.
Quando terminar a análise, leia o que escreveu e faça uma síntese do que foi visto. Vá associando cada imagem e decifre a mensagem que veio através dos sinais recebidos. A esta altura, a resposta se apresentará intuitivamente como um insight ou por um exercício racional que deve sempre ser regido pelo sentimentos do coração. Aproveite. Visite ludicamente seu inconsciente e descubra suas próprias respostas.