por Samanta Obadia
A experiência do vazio nos completa ainda mais quando percebemos o que nos preenche. E é este movimento do impermanente que reforça o quanto estamos plugados em nossos sentidos, o quanto precisamos deles para perceber a vida. Perdoem-me os idealistas e racionalistas, mas a percepção empírica é fundamental.
A perda de entes queridos nos remete a um luto temporal, antes de tudo. O tempo de um encontro que não volta mais em conflito com o tempo burocrático urgente que congela nossos sentimentos e percepções do momento vivido. Mas ainda nos resta o tempo das memórias grudadas nas imagens e letras arquivadas que se ocupam de ativar os nossos sentidos.
Assim o é hoje, em mim, quando tento administrar a perda da minha avó materna tão amada, com sua presença marcante em minha vida.
Revisitando a sua casa, sinto o seu cheiro e descubro o quanto ele me conforta. Tocar em suas coisas, estar em seu lar é uma maneira simples de recuperar sua presença em mim.
Transcendemos, idealizamos e racionalizamos demais as nossas dores e ausências. Muitas vezes para evitar sentir o presente, que se apresenta sem explicação. O fluxo dos sentimentos e das sensações nem sempre têm sentido ou significado. Contudo, a percepção e a observação silenciosa do que se passa em nós fala muito mais alto ao que precisamos ouvir.
O que cada um de nós ganha com nossas perdas é intransferível, mas percebi que com meus sentidos ganhei mais do que com minha razão. Talvez porque a presença do amor não se traduz. Simplesmente é.