por Edson Toledo
Há pouco tempo atrás escrevi um post intitulado "classificar doenças mentais é uma difícil tarefa" em que discuto a necessidade de classificar os transtornos mentais e suas implicações – veja aqui.
De tempos em tempos essa questão é posta na mesa, principalmente quando surge algum especialista para jogar o dado com seus lados divididos em normais ou anormais quando a questão trata-se dos comportamentos característicos dos transtornos mentais.
Pois bem, para pôr lenha na fogueira, Dale Archer, psiquiatra americano, diz que estamos "patologizando" comportamentos normais e isso não é só culpa da psiquiatria; principalmente quando o Instituto Nacional de Saúde Mental dos EUA diz que um quarto dos adultos americanos tem uma ou mais doenças mentais diagnosticadas.
Segundo Archer, existe uma variedade de comportamentos que não são doenças e ele descreve oito traços de personalidade comumente ligados a transtornos afirmando que não existe nada de errado com essas características, a não ser que sejam muito exageradas e argumenta que rótulos como compulsividade obsessiva, déficit de atenção/hiperatividade e introversão social são na verdade qualidades humanas normais e que experimentamos esses e outros traços psicológicos até certo ponto. Porém, deixamos de aproveitar as vantagens significativas que esses traços podem nos oferecer e cultuamos só o lado ruim.
Pense se o desafio que faz a falta de atenção na escola ou trabalhar detém o segredo para o seu futuro como um empreendedor?
E se a timidez manifestada ao estar em um grupo que você odeia for a fonte de profunda compaixão para com os outros?
E se a ansiedade e o nervosismo muitas vezes que você sente pode realmente ajudar a energizar você?
E se a oscilações de humor que você experiência for a fonte de uma enorme criatividade?
Assim, ele acredita que os comportamentos frequentemente rotulados como "transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH)", "bipolar" e "transtorno obsessivo-compulsivo (TOC)" são qualidades humanas – muitas vezes normais – e afirma que todos nós experimentamos esses e outros traços psicológicos e que por alguma razão ainda não conseguimos aproveitar as vantagens significativas que esses comportamentos podem nos oferecer. E conclui: "pior é nós estigmatizarmos esses e outros aspectos de nossas personalidades".
Oito traços de personalidade relacionados a transtornos mentais
A seguir apresento-lhes os oito traços de personalidade que, segundo Archer, poderão estar relacionados com transtornos mentais:
1º) Aventureiro: se entedia com a rotina e é ousado. Quando o traço é superdominante, a pessoa não consegue se concentrar e pode ter TDAH.
2º) Hiperalerta: é superatento e precavido. Se o traço for exagerado, a pessoa pode sentir medo sem fundamento, sintoma do transtorno de ansiedade generalizada.
3º) Dramático: demonstra emoções sem medo e é carismático. Pode ser diagnosticado com transtorno de personalidade histriônica quando a dramaticidade é excessiva.
4º) Mágico: age de acordo com a percepção, tem fé e consegue enxergar além. No extremo, relaciona-se com esquizofrenia, quando a pessoa perde o vínculo com a realidade.
5º) Tímido: prefere escutar a falar e fica ansioso antes de compromissos sociais. Passa a ser doença, fobia social, se atrapalha a vida pessoa e profissional.
6º) Agitado: vive em ritmo acelerado, é criativo e produtivo. Vira doença se a pessoa ficar descontrolada e depois cair em depressão, o que caracteriza transtorno de humor bipolar.
7º) Perfeccionista: preocupa-se com detalhes que passam despercebidos à maioria. Se a pessoa não consegue ignorar detalhes e cria rotinas obsessivas, pode ter transtorno obsessivo-compulsivo.
8º) Autocentrado: tem orgulho de si mesmo e é um líder. Mas, se a pessoa é excessivamente autocentrada, pode ser diagnosticada com transtorno de personalidade narcisista.
Um dos critérios que caracteriza um transtorno mental é a gravidade dos sintomas, deixando de ser normal quando a pessoa tem prejuízo de qualquer ordem. Se você está atento observará que grifei as palavras: superdominante, exagerado, perde o vínculo, atrapalha, descontrolada, não consegue e excessivamente que aparecem nos traços postulados por Archer que são marcadores de prejuízo de qualquer ordem como mencionado.
Mas lembremos de que conviver em uma sociedade que apresenta muitos estímulos, de disponibilidade de informação em tempo real e que é acima de tudo muito competitiva só mesmo fazendo muita psicoterapia para lidar com expectativas vistas por uma antiga lente fabricada no século passado.
Então pergunto qual é a sua lente: normal, anormal… e façam suas apostas!