por Nicole Witek
"O yoga oferece várias técnicas que almejam o mesmo ponto: o reconhecimento do deus dentro de cada um. O corpo pode se tornar um templo divino"
Chegamos no final do ano! Estamos no mês do Natal! Não sei e não acredito que tudo vai acabar, que o mundo vai desabar em 21 de dezembro: dia que o calendário Maya anuncia o final de um ciclo e a destruição desse mundo.
Sempre nos falaram de fim do mundo. Com a minha pequena estatura, lembro-me da passagem de 1999 para 2000 que seria uma catástrofe para o planeta inteiro. O “bug” eletrônico de 2000 com seu duplo 00 enganaria todos os computadores do planeta e rebobinaria o tempo para 1900, criando o caos, o apocalipse! Que nada! Tudo que ganhei, já que na época morávamos no Extremo Oriente, quero dizer, no Extremo Leste, onde o sol nasce e onde começa o novo dia, no 1º de janeiro de 2000, meu marido ficou de plantão na frente dos computadores e longe da família! Que delírio, que farsa! Não acredito que o mundo vai acabar nesse mês.
Para mim, esse mês é o mês de lembrar os valores cristãos que são totalmente compatíveis com os valores do yoga. Quem pratica yoga, vê sua fé reforçada já que o ápice da prática é o encontro com Cristo no seu coração, ou o “eu profundo” que está em todas as suas atividades.
O yoga desperta e amplifica em nós as virtudes “místicas” em conformidade com a aspiração e a vocação de cada um.
Mesmo se o praticante se limitar à prática física, queira ou não, surgirá um aumento da consciência que lhe ajudará a controlar a sua natureza humana e a avançar com dignidade, pois é portador da centelha divina que jaz no seu coração. Isso se torna a bússola do seu dia, a paz que lhe ensina a perceber e mais tarde a sentir, que lhe indica o caminho certo, o caminho do coração.
Assim, ele se torna capaz de sentir e encorajar o crescimento da espiritualidade dentro de si.
O Hatha yoga propõe que você descubra o corpo como seu melhor aliado para atravessar a vida. Na imobilidade da postura você tira aos poucos as travas, as limitações de ordem psicossomáticas. Através do relaxamento profundo, você descobre a inteligência de um mundo perfeito cujo criador ainda será descoberto. Você aprende a tornar-se observador do seu ser. Essa distância tira gradualmente o sentimento egoísta. Você não se sente mais dotado de um intelecto poderoso, mas muito mais do que isso. Esse “muito mais” lhe dá a humildade, a compreensão, a compaixão, porque esse “muito mais” se refere a essa pincelada que precisamos para sentir a vida, a aspiração, o foco e a felicidade.
No Hatha yoga, a partir do corpo, por meio das posturas, você energiza a mente, afasta as preocupações, apazigua as emoções, se torna amigo de cada parte, cada órgão, cada célula do seu corpo. Todos eles se tornam amigos fiéis, dedicados, com as melhores intenções de colaborar de forma firme e profunda.
No Hatha yoga você aprende a conhecer e a curtir a harmonia interna.
No cristianismo, o pecado sob todas as formas desde o nascimento, nos coloca em ruptura com Deus. Infelizmente, para a maioria das pessoas, às vezes demora muito tempo para perceber que não se trata de uma ruptura com alguém de fora, mas com seu Deus pessoal. E fácil se deixar enganar e acreditar que Deus está fora, deixando toda responsabilidade da infelicidade dos homens para esse “ser” improvável e hipotético. Com essa base errônea se abre a porta para todos os egoísmos, maldades, orgulhos, vaidades, preconceitos, todos os racismos e ostracismos, levando ao grande mal da nossa civilização: a separação!
O Hatha yoga, gradativamente nos coloca em contato com sensações de euforia e bem-estar realizando uma purificação, livrando, aos poucos, nosso ser das relativas e falsas realidades para nos aproximar da verdade unânime, da nossa verdadeira natureza: essa do coração. Relaxamento, calma, paz, levam à comunhão consigo mesmo, com o “eu” profundo que não é nada menos que Deus dentro de nós. A verdadeira natureza do homem, portador da centelha divina, se revela na grandiosidade, no encantamento que se sente habitando o corpo.
No Hatha yoga, gradativamente se infiltra o amor para com suas células. Aparece, com o relaxamento, com a percepção de ser “mais”, a sensação de ser capaz de abranger, no espaço do seu coração, o universo na sua totalidade. Sensação de infinidade oceânica, de estados paradisíacos, de momentos sublimes.
O Hatha yoga se baseia numa disciplina encorajando o relaxamento, a compreensão, a benevolência, a pureza, o respeito em si mesmo e as regras universais.
O Hatha yoga se fundamenta sobre os ensinamentos do sábio Patanjali, muito parecidos à moral cristã*: existem oito etapas a serem realizadas para que seu yoga culmine na fusão com seu deus interno:
Oito etapas do yoga para realizar a fusão com seu deus interno:
1ª) Sentir-se bem consigo mesmo/sentir-se bem com os outros e a sociedade;
2ª) Respeitar os comandos da ética universal comum a todas as culturas;
3ª) Respeitar seu corpo como o templo ou o veículo da encarnação;
4ª) Vigiar suas emoções pelo controle da energização através da respiração;
5ª) Ser capaz de se extrair do mundo para focalizar sua atenção;
6ª) Praticar exercícios de malhação mental para ser capaz de escolher pensamentos que lhe servem;
7ª) Meditar para observar o jogo da mente e se dissociar dela, se colocando como observador num nível mais elevado;
8ª) Fundir-se com o “eu profundo” que é o deus dentro de você.
No Hatha yoga você dispõe de um modo de usar, um protocolo de acesso ao “eu”.
Se o Hatha yoga for praticado e vivido no seu espírito tradicional, autêntico, não pode ser uma forma de ginástica exótica, porém um protocolo de construção de um ser consciente, se apossando a cada minuto, um pouco mais do seu verdadeiro potencial, tornando-o mais inteligente, mais lúcido, mais receptivo à voz interna e mais cheio de saúde física e psíquica.
Existem falsas crenças a respeito do yoga em geral. É importante lembrar que o yoga é um método psicofisiológico de concentração, aspiração, atenção, que conduz o praticante através dos diferentes componentes do seu ser para o encontro com o “eu individual”, modalidade miniatura do “eu supremo”.
A totalidade das práticas ajuda o praticante à descoberta dele mesmo, à realização da união (yoga) com seu Deus interno e seu criador divino.
É bom lembrar também que as práticas, fora de qualquer quadro religioso, evidenciam um princípio universal que se refere ao vínculo entre a mente, o corpo e a alma. Esse princípio de ressonância expressa a influência de certos gestos e atitudes corporais sobre o psiquismo e o intelecto. O corpo na imobilização permite que a agitação mental se tranquilize. Gradativamente, a mente aprende a “calar-se”. Por meio do relaxamento do corpo a mente relaxa: o inimigo público n°1 (o incessante pensar) se afasta.
Sendo mais consciente do seu modo de funcionar, o praticante escolhe melhor seus alimentos, absorve o máximo de energia vital pelos alimentos e pelo ar que respira, fortalecendo o corpo, a mente e a inteligência. Curando o corpo, dinamizando-o, purificando-o e energizando-o, alinha-se ao mesmo tempo sua vida interna. O vínculo dele ao “eu profundo” se torna mais sólido, mais efetivo. O praticante acelera gradativamente a comunicação, a comunhão com o “eu profundo”.
O yoga nos ensina como ressonar com as energias benéficas e sublimes do Universo. O praticante aprende a concentração, a meditação, a união com ele mesmo.
Não se trata de uma alternativa para a prática da religião cristã nem de outra, pelo contrário, o yoga oferece várias técnicas que almejam o mesmo ponto: o reconhecimento do deus dentro de cada um. O corpo pode se tornar um templo divino. Assim, o espírito tem condição de se abrir para receber a grandeza.
Ressonar com o que tem de mais elevado no universo: “eu dentro de mim”, Atman, “eternal eu”, perfeição universal.
O padre Dechanet, falando do yoga diz: praticando “me dou conta que meu desejo de conhecer, de aprender, se dilata para a dimensão infinita da Verdade, do Verbo que contém tudo no mistério de Deus”.
Pode celebrar o Natal, sem parar de praticar Hatha yoga! Pode sentir a paz de Deus e o bem-estar do corpo e da mente. Pode sentir o espírito em comunhão com seu ser mais íntimo, e praticar sua religião, o yoga é o seu melhor aliado ainda mais no período de Natal!