por Emilce Shrividya Starling
“A felicidade não é algo ligado ao ter, mas ao fazer. Ela não é um humor ou estado de ânimo, por mais exaltados e duradouros que sejam, mas o resultado de uma vida bem conduzida, ou seja, das escolhas e valores que definem o nosso percurso. A felicidade, em suma, jamais será um estado final que se possa adquirir e dele tomar posse de uma vez por todas. Ela é uma atividade – algo que se cultiva e constrói, algo que, por alguns momentos, se conquista e se desfruta, que é fonte de contentamento, mas que está sempre a exigir de nós empenho e amor, sempre recomeçando outra vez”. Eduardo Giannetti da Fonseca (filósofo)
Continuando o texto anterior Filosofia budista ensina e ajuda a lidar com o sofrimento (clique aqui para ler), vamos contemplar os ensinamentos sobre o Óctuplo Caminho que conduz à Cessação do Sofrimento e Tristeza.
O primeiro passo é o Entendimento correto, também chamado de Fé correta.
É compreender ensinamentos como a Lei de Causa e Efeito: colhemos o que plantamos em pensamentos, palavras e ações.
Precisamos entender que o objetivo da vida é progredir, se aperfeiçoar progressivamente pela reta conduta, através de muitas vidas.(ou se não acredita em outras vidas, aprender com suas ações passadas nesta própria vida).
Entender que existe uma Lei de Justiça sob a qual todas as coisas atuam.
Se a pessoa vive na ilusão que pode fazer tudo quanto lhe agrade e, que nunca recairão nela as consequências de seus atos, um dia perceberá que alguns atos errôneos lhe trarão infelicidade e sofrimento.
A Fé correta refere-se à sabedoria e compreensão das Quatro Nobres Verdades.
Não é ter uma fé cega, e sim uma fé alicerçada nos estudos das escrituras e na própria vivência.
A fé, segundo essa psicologia budista, é o primeiro entre os Onze Fatores Mentais Virtuosos que são:
1. Fé
2. Sentido do que é correto
3. Consideração pelos outros
4. Desapego
5. Não raiva
6. Não confusão
7. Perseverança entusiástica
8. Flexibilidade
9. Retidão mental
10. Não violência
11. Equanimidade
São atitudes que nos levam a manter a mente num estado positivo e a evoluir espiritualmente.
Existem momentos que nossa fé é testada. Momentos de dor, de perdas, de incerteza, de dúvidas que diminuem nossa fé. Nossa energia vital diminui, não conseguimos praticar meditação ou ter pensamentos positivos de autocura.
Porém, esses são momentos certos para continuarmos nossas práticas espirituais mesmo sem colher resultados imediatos. Ter fé é confiar que estamos criando causas positivas cultivando virtudes e que, portanto, teremos um resultado positivo. É preciso fortalecer essa fé que desperta o desejo de praticar e o autoesforço que nos ajudará a vencer.
Precisamos aprender com o sofrimento, desenvolvendo força interior, humildade e paciência.
Segundo passo: Pensamento correto também chamado de Intenção correta.
Pensar no bem e não no mal. Reservar em nossa mente pensamentos bons, compassivos e positivos. Não preencher a mente apenas de pensamentos egoístas, fúteis e de nossas atividades diárias.
Desenvolver autodomínio sobre a mente, ter discernimento e se libertar das dúvidas.
Procurar ver o bem nas outras pessoas, sem fixar em seus defeitos. Se fixarmos a atenção apenas nos defeitos, intensificamos suas más qualidades. E, se procuramos descobrir pelo menos uma boa qualidade, intensificamos o aspecto harmonioso que elas possuem.
Terceiro Passo: A fala correta. Ela surge dos pensamentos corretos.
Desenvolver a disciplina na fala, usando palavras positivas, falando de coisas boas, evitando falar das faltas das outras pessoas. Não mentir, não caluniar, não fazer fofocas.
Compreender que mesmo que seja verdade algo de ruim que nos contaram sobre alguém, não estaremos ajudando em nada divulgando isso. O melhor é nos calar. E, como disse o espírito de Emanuel: “Se não puder elogiar, cale-se”.
Entender e praticar esse sábio ensinamento: Falar dos outros como queremos que eles falem de nós. Usar nossa fala para criar harmonia e ajudar.
Às vezes, quando uma pessoa está nervosa e sofrendo, ela usa a fala como arma de defesa. Sua agressividade aumenta e diz palavras ásperas que magoam o outro. Na verdade, ela está pedindo ajuda, mas agindo assim ela se torna destrutiva, cria conflitos e desarmonia.
Já passei por essa experiência. Certo dia, uma pessoa muito amiga, falou comigo de maneira áspera, me depreciando. Imediatamente compreendi que ela não estava bem. E, lhe perguntei: “Você está bem? Está sofrendo?” E, logo ela se desarmou, desabafou dizendo que estava sentindo muita dor física e ansiedade.
Assim, em vez de ficar magoada, sofrendo com meu ego, eu transcendi e procurei ajudá-la, buscando uma solução e lhe apoiando.
Mas alcançar esse entendimento e transcender o ego é uma conquista de anos e anos de prática de meditação, de autoconhecimento, de autoaperfeiçoamento. Não é apenas um conhecimento intelectual, mas algo que tenho buscado alcançar, me libertar do ego negativo com todas suas amarras e armadilhas como a raiva, mágoas, preocupação com que os outros falam ou pensam de mim.
Quarto passo: A ação correta – Surge do pensamento correto, da intenção correta.
Não matar, não roubar, não prejudicar os outros. Libertar-se do egoísmo, oferecer ajuda material, apoio, amor, compreensão e proteção. Ser honesto e verdadeiro.
É seguir o dharma, palavra em sânscrito que significa: o que nos sustenta e apoia. Dharma é o correto pensamento, a correta palavra e a correta ação.
É seguir a lei máxima do dharma: “Faça aos outros o que gostaria que fizessem para você”.
Quinto passo: O modo de vida correto – Ter uma profissão que não prejudique a ninguém e cumprir essa profissão com lealdade e honestidade, agindo da melhor maneira possível.
Expressar em nossos hábitos cotidianos nossa consciência de respeito pelo outro e pelo meio ambiente, buscando uma melhor qualidade de vida para todos.
Sexto passo: O esforço correto – É desenvolver a positiva prática do bem. Como disse o Senhor Buda: “Cessai de praticar o mal. E a seguir, ele acrescentou:” Aprendei a praticar o bem”.
Não basta ter boas intenções precisamos concretizá-las em ação. Ter esforço constante para criar benefícios e evitar o que traz prejuízos.
Se não temos condições de ajudar, pelo menos vamos nos abster de ações que causem danos para nós ou para os outros.
É bom cuidar do que falamos e fazemos em nossa família e em nosso trabalho, pois, muitas vezes, nosso exemplo é imitado pelos filhos, parentes e funcionários.
Desenvolver perseverança para concretizar nossos ideais e metas. Como disse o mestre Lama Gangchen:” Para fazermos coisas negativas não temos preguiça, mas para realizarmos as positivas precisamos de muita força de vontade.”
Precisamos ter discernimento para reservar nossas energias físicas e mentais para nosso trabalho diário sem nos desgastar sem necessidade.
Cuidar da saúde, praticando hatha yoga, alongamentos, fazer caminhadas ou outra atividade física. Alimentar-se com discernimento e sabedoria, evitando apenas comer por prazer, mas buscando o prazer benéfico que traz saúde e bem-estar. Leia o texto Você cuida de seu corpo da mesma forma que cuida de sua casa? (clique aqui).
7. A concentração correta – Ficar focados em nossos princípios, resoluções e propósitos.
Ter vigilância sobre nossa mente e observar quando temos emoções negativas. Em vez de nos apegarmos ou identificarmos com os pensamentos, perceber que são transitórios e deixá-los ir embora, sem reagir a eles.
Compreender que só podemos sentir o que pensamos e que temos escolhas. Podemos pensar de maneira positiva o que desejamos para nós. Parar de pensar o que não queremos para nós. Não criar pensamentos negativos para o futuro e assim, evitar sofrer inutilmente.
Em momentos de crise, compreender a impermanência da própria crise. Tudo passa. Tudo é impermanente.
Ter concentração é estar presente na ação, no momento presente. É agir de maneira relaxada e, ao mesmo tempo, com atenção. Sem tensão e eficiência.
8. A meditação correta – Priorizar momentos diários para meditar, para manter a mente calma e concentrada, sem tensões, sem ansiedade.
Com a disciplina regular da meditação, permitimos a manifestação da sabedoria a partir da qual surgem os pensamentos e ações corretas – clique aqui para aprender a meditar.
Com a prática da meditação, purificamos a mente de seus hábitos negativos. Vamos conseguindo dissolver medos, inquietude, insônia, depressão. Aprendemos que ser feliz é saber não sofrer desnecessariamente.
Contemple sobre essas palavras do filósofo Eduardo Giannetti da Fonseca, em seu livro Felicidade: “A felicidade não é algo ligado ao ter, mas ao fazer. Ela não é um humor ou estado de ânimo, por mais exaltados e duradouros que sejam, mas o resultado de uma vida bem conduzida, ou seja, das escolhas e valores que definem o nosso percurso. A felicidade, em suma, jamais será um estado final que se possa adquirir e dele tomar posse de uma vez por todas. Ela é uma atividade – algo que se cultiva e constrói, algo que, por alguns momentos, se conquista e se desfruta, que é fonte de contentamento, mas que está sempre a exigir de nós empenho e amor, sempre recomeçando outra vez”.
É importante não buscar a felicidade somente nas condições externas, nos prazeres físicos e estados emocionais. Mas vivenciar estados positivos, pacíficos, de apaziguamento que vem de nosso espaço interno. Voltar-se para dentro para sentir a paz do Ser interior, de onde emana leveza, confiança e bem-estar. Namaste! Deus em mim saúda Deus em você! Fique em paz!