“Olhar coruja” dos pais fortalece autoestima dos filhos

por Ceres Araujo

Autoestima não é inata. Ela é adquirida ao longo da vida, em etapas. O “olhar coruja” dos pais é um fator primário e dos mais importantes para o desenvolvimento de uma boa autoestima.

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Nos dias de hoje, a maioria dos bebês, já antes do nascimento, tem nome, pois o sexo já é sabido nos primeiros meses da gravidez, o que permite a escolha de um só nome, diferente de antigamente quando um nome de cada sexo era escolhido. Esse bebê, que tem um nome, já passa a fazer parte integrante do sistema familiar. Mas é ao nascer que ele é reconhecido pelo olhar dos pais e passa a se reconhecer como ser, sob tal olhar. Tal olhar é constitutivo para o desenvolvimento neurológico e psicológico.

Diz-se que os olhos são as janelas da mente. A criança se percebe amada, pelo olhar de sua mãe e de seu pai, e é essa vivência que estrutura a base da sua identidade.

O saber popular é de grande valia ao se pensar no desenvolvimento humano. Os filhos da coruja são os seres mais especiais do mundo. A coruja tem olhos grandes, atentos, expressivos e enxerga no escuro. O “olhar coruja” é aquele que se detém no filho, apaixonadamente e lhe comunica o amor incondicional, que faz dele a criança escolhida, valorizada e admirável. O “olhar coruja” dos pais, vê no “escuro”, isto é, antecipa e coloca toda a expectativa em um destino feliz para seus filhos. O ser humano precisa desse olhar para sua saúde física e mental, ele precisa ser “encorujado” para que aprenda a gostar de si, aprenda a se dá valor para que possa desenvolver a autoestima e a autoconfiança.

Ao longo da vida, outros fatores concorrem para o fortalecimento da autoestima. Ao engatinhar, falar, andar, correr, pedalar, nadar, etc., a criança vai adquirindo a noção de ser capaz e eficiente na sua movimentação. Isso atribui à sua imagem corporal, valores positivos. Quando a criança se percebe inteligente, capaz de aprender, de construir seu conhecimento, valorizada por seus pais e seus professores, novos valores se anexam à autoimagem.

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Posteriormente, é o se perceber querido pelos seus iguais e o se sentir dotado de uma sociabilidade fácil e prazerosa, que dá à criança e, agora, também ao já adolescente, mais valores, que se agregam à autoestima. Depois, ainda, é o êxito profissional que assegura a autoestima do indivíduo.

Assim, o êxito no uso do seu corpo, o êxito escolar, o êxito social e mesmo o êxito profissional, são para a estruturação da autoapreciação, conseguimentos muito importantes, mas posteriores e dependentes da sensação de ser alvo do “olhar coruja” dos pais. Isso significa que não é apenas nos primeiros tempos de vida que tal olhar profundamente enamorado importa. A sensação desse olhar fixada na sua memória, tende a perdurar a vida inteira nas pessoas com desenvolvimento saudável.

Talvez, seja exatamente a vivência de ter se sentido alvo do “olhar coruja” dos pais que leve a pessoa a buscar o olhar apaixonado do outro…

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Cumpre assim aos pais, manter um olhar de admiração, de valorização sobre seus filhos e apostar em perspectivas positivas. Isso não significa, de forma alguma, ser totalmente permissivo. Filhos precisam de limites, regras e normas para sua própria proteção e para que possam se transformar em seres civilizados e éticos. Filhos saudavelmente fazem birra, desobedecem, burlam e testam limites continuamente e necessitam da atenção de seus pais, para aprenderem o que é certo e o que é errado, o que podem e o que não podem, o que lhes faz bem e o que não lhes faz bem.

Caso repreensões e castigos forem necessários, esses deverão ser adequados e bem proporcionados às infrações. Entretanto, ao lado deles, sempre se deve trazer presente o “olhar coruja, que vê no escuro”, que fará a mãe ou o pai dizer coisas do tipo: “Eu sei que você está crescendo e não fará mais isso”; “Eu sei que suas notas irão melhorar”; “Eu sei que, na próxima vez, você voltará para casa no horário combinado” etc.

Reforços positivos sempre estimulam o crescimento do ser humano, favorecendo condutas adaptativas tanto ao mundo das exigências externas como ao mundo das necessidades internas. O “olhar coruja” é um essencial reforço positivo para o desenvolvimento íntegro do ser humano.

Ser “mãe coruja” e “pai coruja.