por Antônio Carlos Amador
Atualmente vivemos num ritmo acelerado, com mudanças constantes que produzem inúmeras situações geradoras de estresse.
Mesmo quando procuramos formas de descontração nos meios de comunicação, acabamos estimulados por uma torrente de cenas e sons de um mundo em crise.
As dificuldades no cotidiano, no trabalho, nos relacionamentos afetivos e familiares aumentam a intensidade dessa pressão.
Até mesmo situações corriqueiras, como enfrentar uma fila ou um congestionamento de trânsito podem provocar irritação. Se um telefone toca enquanto estamos ocupados com outra atividade, ele fará as vezes de um estressor.
Então, o que acontece quando nos deparamos com tais situações?
Podemos reagir com irritação, ou seja, a reação de luta, ficamos tensos, mal-humorados, às vezes raivosos, ou podemos escolher ignorar a interrupção e continuar a fazer o que estávamos fazendo, ou reação de fuga. Podemos escolher outra reação, fluir junto com o estressor e aceitar a interrupção com uma certa tolerância e tranquilidade.
Acontece que quando olhamos a vida e o mundo como adultos que pensamos ser, pessoas sisudas e preocupadas, que dão importância demasiada ao trabalho e às responsabilidades, não percebemos que ainda possuímos dentro de nós aquela criança que fomos um dia, que às vezes se revela quando somos expressivos, afetivos e brincalhões (e também quando estamos com medo, raiva ou quando somos egoístas).
As crianças, quando estressadas, também sentem raiva, podem manifestar a reação de luta. Mas, ao contrário dos adultos, não guardam esse sentimento por muito tempo, não continuam pensando no que aconteceu. Num instante interessam-se por outra coisa e a raiva passa. Para elas a vida flui, as coisas mudam, ela muda. Por que então não nos livrarmos rapidamente dos sentimentos negativos, como as crianças conseguem fazer tão bem? Porque não nos permitimos, pensando que brincar é para crianças, que a infância ficou para trás, definitivamente. Talvez no fim de semana ou nas férias, depois de termos feito por merecer, trabalhando muito.
Quantas vezes não usamos expressões como “levar a sério” ou “não brinque com isso!” e outras tantas que denotam uma suposta maturidade. A verdade é que não nos permitimos qualquer expressão lúdica, sem que tenhamos cumprido nossa cota de trabalho árduo ou de algum sacrifício que a justifique.
As crianças são naturalmente curiosas, observam o mundo, explorando-o com todos os sentidos. Quando conseguirmos conservar essa capacidade infantil de afeição, de espontaneidade, sensualidade e imaginação, seremos capazes de aproveitar melhor a vida. Você já reparou num homem idoso tomando um sorvete com enorme satisfação? Ou numa mulher saltitando pela praia? Ou num casal dançando? Eles não lembram uma criança contente? Não é bom demais estar perto de alguém assim?
Quem mantém ativo esse jeito criança de ser é capaz de confrontar os problemas com otimismo, de relaxar a mente e de manter o bom humor nos momentos difíceis. Essas pessoas são realistas e sabem que os obstáculos do cotidiano são parte da própria vida e por isso tentam enfrentá-los com um olhar diferente. Quem leva a vida e a si mesmo demasiadamente a sério enxerga o mundo sempre do mesmo jeito e acaba enclausurado em obrigações.
Poderíamos tocar a vida sem aumentar as tensões, sem franzir a testa todo o tempo. Se brincarmos com nossas dificuldades e rirmos de nós mesmos, talvez consigamos resolver os problemas com mais leveza. Brincar é ter coragem de explorar a vida e suas possibilidades ainda não exploradas, olhar as experiências no presente, desfrutá-las calmamente, permitir-se sorrir, cantar e até mesmo dançar. Afinal, parafraseando um filósofo do século XIX: “Quem não sabe dançar, jamais será capaz de pensar”.