por Patricia Gebrim
Queremos mesmo idolatrar a superficialidade?
Ando assustada com o mundo.
Vejo coisas maravilhosas acontecendo, avanços tecnológicos que todos os dias fazem com que eu me sinta um pouco mais desatualizada, a comunicação fluindo de um canto para o outro do mundo na velocidade de um apertar de teclas, descobertas científicas significativas para que encontremos a cura para muitos dos males que acometem nossos corpos.
Mas, eis meu desabafo, as pessoas parecem caminhar no sentido inverso no que se refere às qualidades humanas.
Outro dia peguei um voo que ia de São Paulo a Natal. Confesso, fiquei chocada. Perto do que vivi parece que os voos de “antigamente” tinham um glamour que deve ter despencado de uma altura inimaginável durante alguma viagem sobre o triângulo das bermudas. Senti saudade da época em que eu abria a bandejinha do avião para uma refeição tranquila, gentilmente oferecida pelas comissárias de bordo. Senti saudade da atitude respeitosa, mais cerimoniosa das pessoas durante o voo.
Após ter comido o mísero pacote de amendoins que me foi oferecido, ainda no começo do voo, fui cercada por uma família ruidosa que decidiu tomar conta de todo o corredor. Entre risos e gritos, abriram uma enorme mochila, de onde surgiram salgadinhos gordurosos e sanduiches que flutuavam perigosamente sobre minha cabeça, enquanto falavam uns com os outros como se estivessem fazendo um churrasco no quintal de suas casas. Alguns fios de meu cabelo foram arrancados quando se apoiavam sobre o banco, talvez para que façam um estudo genético desta minha forma “dinossáurica” de ser e de esperar que exista um tratamento mais respeitoso na convivência entre as pessoas.
E não é só no avião que as coisas parecem estar se deteriorando.
O que está acontecendo com as pessoas?
Parecem que se tornam cada vez mais insensíveis e autocentradas. As pessoas estão menos gentis, mais agressivas, absolutamente egoístas, perigosamente impacientes e levianamente superficiais.
Tudo parece estar se tornando superficial. Basta perceber essa absurda idolatria às celebridades, a mediocridade dos encontros humanos, os relacionamentos que mais parecem uma praça de alimentação de um shopping center lotado.
O que está acontecendo conosco?
Eu poderia ficar aqui tecendo comentários, enumerando teorias para explicar tal comportamento. Mas o que desejo não é criar alguma explicação para tudo isso. Muitas vezes nos perdemos em explicações quando o necessário é uma mudança de atitude. Em momentos de perigo, é perigoso explicar demais. Imagine um leão vindo em sua direção… eu lhe recomendaria deixar as explicações de lado e colocar suas pernas para funcionar. Corra, o mais rápido que puder.
Eu gostaria de propor uma parada para pensarmos juntos. Para pensar onde estamos querendo chegar com essas atitudes? Para pensar se é mesmo para lá que queremos ir.
Eu não quero.
Eu quero admirar pessoas que tenham coisas a me ensinar. Eu quero manter uma atitude de respeito para com o ser humano. Eu quero mais delicadeza na minha vida. Eu quero cuidar das relações, seja com o manobrista de meu prédio, seja com as pessoas com quem trabalho, eu quero mais respeito e cuidado. Eu quero ao meu redor pessoas que valorizem o amor.
Eu não tenho vergonha de dizer, ando sentindo falta de amor, desse amor que se traduz em ética, cuidado com o próximo, generosidade, respeito, consideração, interesse genuíno por algo que não seja uma fotografia de nosso próprio umbigo.
Onde anda nossa humanidade?
Não são só os animais que estão em extinção.
O que não é animal em nós também anda se extinguindo.