por Elisandra Vilella G. Sé
Vou dar sequência ao texto anterior (clique aqui e leia) e abordarei a questão da velhice na instituição de longa permanência, isto é a moradia de pessoas idosas em casas de repouso; mais precisamente sobre a qualidade de vida e satisfação relatados pelos idosos moradores.
Na nossa sociedade brasileira existe uma percepção coletiva de que casa de repouso, asilo, residência para idosos são locais de isolamento, abandono, depósito de pessoas, etc…
Essa marca existe devido à situação precária que muitas casas ainda nos tempos atuais funcionam, ou em sua maioria ficam bem aquém do esperado e previsto conforme a lei. Infelizmente no Brasil não existem dados estatísticos acerca dos tipos de instituições que estão disponíveis para idosos e suas características.
De acordo dom pesquisas na área da assistência social sabe-se que muitos asilos funcionam sem registro, são irregulares e predomina o caráter filantrópico e assistencial com voluntários. Algumas são particulares com fins lucrativos e uma minoria é pública, mantida pelos governos estaduais e municipais. E muitas das instituições de natureza pública além de se sustentar com os recursos do Governo contam também com contribuições mensais de familiares, pensões dos idosos e outras variáveis de rendimentos (tutelados).
Entre as características dos idosos institucionalizados no Brasil, destacam-se os de idade mais avançada, com doença crônica, principalmente o grupo das demências e sem contatos com familiares. Esses dados vão ao encontro de dados internacionais, que mostra uma crescente procura por instituições de longa permanência por idosos com mais idade e dependentes. Vimos no texto anterior que os fatores que predispõem à institucionalização variam em função da situação socioeconômica e da região do País.
Entretanto, observa-se predominância de dificuldade financeira e problemas de saúde, bem como as dificuldades e falta de apoio social. Algumas instituições contam com equipes de saúde, com profissionais especializados para o trabalho de reabilitação e outras não.
Pesquisadores da área de psicologia do envelhecimento têm estudado a satisfação, o bem-estar, as emoções, o nível de qualidade de vida relatados por pessoas moradoras em instituição de longa permanência. O bem-estar subjetivo é uma avaliação que a própria pessoa faz da sua vida a partir de valores e critérios pessoais em vários domínios. A diversidade de significados que pode emergir desses relatos é ampla, podendo a pessoa relatar experiências positivas e negativas. Trata-se da percepção que a pessoa tem da sua vida com fatores bem específicos. Assim, cabe saber como se apresenta a satisfação das pessoas idosas que residem em instituição de longa permanência.
Estudo
Uma pesquisa realizada no Brasil no Estado do Pará por uma equipe de pesquisadores na área do envelhecimento que procurou investigar 71 idosos, sendo que 47 pertenciam à instituição de longa permanência pública (42,6% homens e 57,4% mulheres) e 24 residiam em instituição filantrópica (100% mulheres) cujos idosos tinham entre 60 e 97 anos mostrou que a maioria dos internos escolheu viver na instituição por vontade própria, 22% foram para lá devido ao abandono pela família e 12% referiram-se à necessidade de tratamento e os dados revelaram algo interessante em relação às visitas que os idosos recebiam na instituição (KHOURY e col., 2009).
As pessoas que não recebiam visitas de ninguém revelaram alto grau de *bem-estar subjetivo, enquanto que 37,5% dos idosos que recebiam visitas mais frequentes (diárias e quinzenais) apresentaram bem-estar subjetivo alto, mas não tanto quanto o outro grupo. Esses resultados mostram que receber visitas com pouca frequência pode ser mais negativo para a percepção do bem-estar dos idosos do que não receber visitas. Aquelas pessoas que recebiam visitas apenas raramente ou esporadicamente mostraram-se mais infelizes do que aqueles que nunca recebiam visitas.
Esses dados não significam que os idosos internos na instituição desvalorizam ou desmerecem a família, mas recolocam a discussão da importância dos vínculos sociais em contraposição à simples existência ou quantidade dos mesmos. Com isso é possível concluir que viver em instituições para idosos não é necessariamente sinônimo de infelicidade; receber visitas frequentes e regulares é um indicador significativo de bem-estar e qualidade de vida para idosos que residem em instituições de longa permanência; receber visitas esporádicas e de forma irregular é mais prejudicial ao bem-estar do que não receber visitas e a ausência de visitas não impede a pessoa de ser feliz. Com isso é possível concluir que viver em instituições para idosos não é necessariamente sinônimo de infelicidade.
Mas fica uma pergunta importante para todos, o que fazer para melhorar o bem-estar e qualidade de vida dos idosos institucionalizados? Um fator importante que pode contribuir neste sentido e levantado pelos pesquisadores é de um programa de visitas regulares aos residentes em instituição de longa permanência que não dependesse só de seus familiares ou amigos conhecidos.
É de suma importância orientar as políticas públicas com o objetivo de promover a saúde e qualidade de vida das pessoas idosas, em especial as voltadas para a institucionalização, bem como investigar muitas outras variáveis que revelem o bem–estar dos idosos residentes em instituição.
* Bem-estar subjetivo é a percepção que a pessoa tem de sua qualidade de vida dela, é a avaliação que faz da sua satisfação com a vida.
Fonte: KHOURY, H. T.T, e col. (2009). Bem-estar subjetivo de idosos residentes em Instituição de Longa Permanência. In: FALCÃO e ARAÚJO (Orgs). Psicologia do Envelhecimento. Campinas: Alínea.