por Aurea Afonso Caetano
Caos e ordem: para crescer é preciso que exista algum tipo de ordem. Mas, ordem demais, em excesso, pode também impedir o crescimento. Ou, muitas vezes ao tentar tornar o processo mais adequado, coeso e ordenado fazemos com que tudo fique tão claro, limpo e objetivo que não há espaço para uma transformação criativa.
Mas, muitas vezes também, identificados com um processo criativo, rejeitamos qualquer tipo de ordem, acreditando que ordem é o oposto de criatividade.
Como sempre, a grande dificuldade que aqui se coloca é a questão da permanência no caminho do meio. Uma noção utópica, que muitos utilizam de forma conservadora para se defender das angústias e dores das escolhas que a vida nos coloca.
O verdadeiro caminho do meio não significa um equilíbrio estático, conseguido e mantido de forma estanque, dura; caminho no qual não fazemos escolhas, em que tentamos manter todas as possibilidades sem abrir mão de nada. Esse, pode ser um caminho "sem graça", sem vida, pois o que poderia haver de vida é aqui aprisionado pela impossibilidade do movimento.
Verdadeiro caminho do meio
O verdadeiro caminho do meio deveria possibilitar um equilíbrio dinâmico, pleno de energia, mantido com consciência e dedicação. Caminho no qual a cada momento temos a possibilidade de fazer escolhas, assumir desejos e portanto correr riscos. Ir de um ponto a outro, ver o que faz sentido, o que é melhor. Não temer esses riscos mas, ao contrário, percebê-los como possibilidades reais de "progresso".
Olhar um caminho e perceber seus opostos depende de onde estamos. Não há opostos, direita e esquerda, em cima e em baixo, em um caminho tudo depende do olhar do caminhante. Caminho do meio não é o meio do caminho. Não é um caminho medíocre – que em sua etimologia quer dizer: estar na média, entre dois termos de comparação – não é um caminho sem esforço, em que nos mantemos quietos, sem balanço, no meio. É, ao contrário, um caminho extremamente vívido, cheio de energia, pleno.
No caminho do meio, buscamos sempre acolher um e outro lado, um e outro aspecto, um e outro pedido. Para viver, de forma inteira e livre, é preciso aguentar esses opostos e fazer a cada tempo as escolhas possíveis e necessárias, lembrando sempre que é cada uma, e sempre apenas uma escolha, a escolha possível para aquele momento.
Fazer escolhas tem a ver com a possibilidade de caminhar, de dar passos, ora uma perna, ora a outra, em equilíbrio e sintonia, para que o andar possa ser um andar harmônico e possa configurar um caminho. Progresso? Talvez… Progresso em relação ao projeto individual, ao que somos aqui agora, ao que faz sentido a cada um de nós, talvez não um progresso do ponto de vista coletivo, social mas … uma coletividade não é feita de indivíduos?
E, para que uma coletividade possa se desenvolver e crescer, a única possibilidade é o trabalho individual, de cada um de seus membros. Claro, sempre, a força do coletivo pode acentuar qualidades individuais e vice-versa. Ser o melhor que podemos ser, trilhando nossos caminhos pessoais, contribuindo ao mesmo tempo para o desenvolvimento da coletividade.
Ordem e progresso…