por Monica Aiub
No artigo anterior (clique aqui), tratei dos cenários que criamos a partir de situações vividas, e da maneira como eles interferem em nossa compreensão do mundo, em nossos padrões de leitura do presente e, principalmente, em nossas antecipações acerca do que nos rodeia, conduzindo nossas ações e reações diante do mundo e dos outros.
Como tais cenários são produtos de nosso pensamento, e este depende das formas que utilizamos para compô-lo. Pessoas diversas, com vivências diferentes, com formas distintas de pensar, são capazes de construir cenários completamente divergentes. E essa diferença nos cenários construídos implica em diferenças nas realizações e ações de cada um de nós.
Em alguns casos, as ideias que construímos sobre o mundo dizem muito mais de nossas formas de construção, de nosso olhar, da leitura que fazemos do mundo, que do próprio mundo. Com isso não estou questionando a existência do mundo: o mundo é como é, independentemente de nosso olhar. O que questiono são as maneiras como o interpretamos e como elas podem ser determinantes em nossos posicionamentos e ações. O que você considera para construir seus cenários? De onde retira os elementos com os quais o compõe?
Algumas pessoas constroem seus cenários a partir de experiências anteriores, acumulando dados a cada vivência. Nesses casos, fundamentam-se no vivido para construir imagens do ainda não vivido. Há garantias de que o cenário que será vivido futuramente conterá os mesmos elementos das vivências anteriores? Há repetições necessárias, ou elas são tão prováveis quanto possibilidades totalmente novas, diversas?
Outras pessoas criam seus cenários considerando experiências de outras pessoas. Acumulam dados de experiências alheias, por proximidade, semelhança, acolhendo o ocorrido para o outro como ocorrência necessária para si. Será que algo que ocorre de uma determinada maneira, em tempo, espaço e condições específicas para uma pessoa em especial, deverá, necessariamente repetir-se a outra pessoa em outro tempo, espaço, mas em condições similares?
Há ainda quem construa cenários a partir de outros cenários, anteriormente construídos, derivando ideias de outras ideias, já derivadas de ideias anteriores, distanciando-se, cada vez mais, da experiência que originou as primeiras ideias. Nesse sentido, nossa imaginação pode ir muito longe, construindo cenas muito distantes das possibilidades reais. Se elas são boas ou ruins, se elas nos auxiliam ou atrapalham, trata-se de outro assunto.
Nesses processos de derivação de um cenário a outro, algumas pessoas são capazes de ir em direção às ideias complexas em seu máximo grau, e esse movimento pode implicar em consequências muito concretas, embora o cenário seja apenas uma abstração.
Um exemplo disso são situações imaginadas como dificuldades. Tais dificuldades vão se complicando, em abstrações cada vez mais complexas, gerando dificuldades ainda maiores, mais distantes das possibilidades de superação. A cada instante, menores são as chances daquela ocorrência levar a bons resultados, e tais possibilidades passam a ser, imediatamente, descartadas.
Consideremos uma situação de crise, num contexto de uma empresa que inicia um programa de demissão voluntária, visando diminuir custos e equacionar sua situação financeira. Consideremos um funcionário nessa empresa, com tendência a derivar cenários de cenários. O cenário inicial é o descrito: Crise mundial, cortes no orçamento, plano de demissão voluntária. O funcionário citado não está inscrito no plano de demissão voluntária, nem foi informado sobre a possibilidade de ser demitido. Também não ocorreu, nos últimos meses, qualquer incidente, índice ou mudança que alterasse sua situação ou indicasse alguma inabilidade que pudesse implicar em demissão. Contudo, diante do quadro, a pessoa começa a imaginar a possibilidade de demissão. Diante dessa, tenta imaginar o que faria para honrar os compromissos assumidos. Constatando a impossibilidade de honrá-los, já se veria desfazendo-se de alguns bens, não tendo como pagar suas contas básicas de manutenção, não conseguindo comprar alimentos, nem manter sua casa. Perceber-se-ia nas ruas, sem casa, sem rendimentos, sofrendo com o frio, a fome e a miséria. Você conseguiu acompanhar o processo de derivação de ideias? Seria uma sequência necessária?
Outro exemplo: uma moça suspeita estar grávida. Diante de sua suspeita já se imagina enjoada a ponto de sentir enjoo, tonturas, cansaço. Imagina contando ao namorado e cria toda a cena da possível reação dele. Depois se imagina contando à família e consegue vislumbrar a imagem de cada familiar seu reagindo à notícia. Em seguida imagina sua vida com um bebê, como conciliaria o trabalho, a casa e um filho. Vê-se Cuidando de seu filho, levando-o para a escola, acompanhando-o em cada descoberta, em cada primeiro passo.
Seriam os cenários criados compatíveis com a realidade de cada uma dessas pessoas, ainda que fossem eles as primeiras ideias surgidas diante de uma situação a ser enfrentada? Serviriam tais cenários para que a pessoa se posicionasse frente às situações apresentadas? É possível que tais cenários possam gerar reações físicas a algumas pessoas? Caso afirmativo, de que maneira, visto tratar-se apenas de subsequentes derivações de ideias? Teriam as ideias poderes causais sobre o mundo físico?
Você cria cenários? Deriva deles novos e subseqüentes cenários? As cenas criadas têm algum impacto em sua vida? De que maneira tal impacto é possível?