por Lilian Graziano
Educar uma criança tem consequências sociais. Crianças são, de fato, o substrato humano essencial das transformações futuras deste planeta em algo sustentável, saudável sob todos os pontos de vista. Se pararmos para pensar no mundo que queremos, há muito trabalho a ser feito na Educação, dentro e fora de casa, e essa empreitada começa em um esforço de formiga.
De um em um – professor/aluno; pai/filho etc – e, aos poucos, estaremos formando batalhões de seres mais resilientes (com capacidade de dar a volta por cima), mais conscientes de si e mais aptos à convivência social. Trata-se do tão falado desenvolvimento de competências socioemocionais desses pequenos, que, num projeto de formação integral a partir das escolas, tem sido apontado como a verdadeira revolução do milênio por educadores, sociólogos e psicólogos diversos.
Já há um movimento global nesse sentido, com instituições à disposição dessa empreitada, intenções políticas e acordos internacionais. No Brasil, porém, a desigualdade econômica coloca outras demandas na frente disso: primeiro, que haja escolas para todos; segundo, que estas sejam de qualidade e ofereçam estrutura para uma formação integral. Em um plano maior, é preciso, ainda, que haja condições dignas de sobrevivência aos brasileiros, que garantam condições propícias para o desenvolvimento das competências pretendidas.
O site "Educação para o século 21", mantido pelo Instituto Ayrton Senna em parceria com a OCDE e a Unesco, uma iniciativa embrionária brasileira acerca da formação integral pretendida, define tais competências, que incluem "um conjunto de comportamentos e sentimentos individuais como uma espécie de padrão constante ou tendência de responder de determinada forma em determinados contextos e situações cotidianas, como ao gerenciar as próprias emoções ou tentar atingir um objetivo.
Os cinco domínios da competência
Em geral, essas competências podem ser divididas em cinco domínios:
– Conscienciosidade: expressa em atitudes de responsabilidade, persistência, resiliência e outras;
– Abertura a novas experiências: presente em comportamentos de curiosidade, criatividade, não ter medo de errar etc;
– Amabilidade: presente em cooperação, por exemplo;
– Estabilidade emocional: na capacidade de autocontrole e outras;
– Extroversão: como sociabilidade.
Em todos esses domínios também está presente o chamado Lócus de controle, que é a forma como o indivíduo percebe a fonte de controle de sua vida, podendo ser essa fonte ele próprio (indivíduo) ou agentes externos a ele.
Vejo uma possibilidade interessante nesse processo que é a de se adotar, como objetivo claro, a construção de uma sociedade mais feliz. Seria interessante se nossas crianças, a partir da noção aritstotélica de felicidade como sendo resultado de uma vida virtuosa, ponto de partida conceitual da Psicologia Positiva, tivessem conhecimento das virtudes humanas essenciais, assim definidas a partir de intensa pesquisa dentre as mais diversas culturas. São elas sabedoria, coragem, humanidade, justiça, moderação e transcendência, que dão suporte a um inventário de forças pessoais – recursos que desenvolvemos, cuja aplicação nos aproxima dessas virtudes.
Tenho certeza de que o leitor perspicaz, a esta altura, já notou semelhanças entre ambos os esforços, o da formação integral e do trabalho em Psicologia Positiva. A sociedade reluta em falar às claras sobre felicidade. Tanto quanto se necessita e se busca ser feliz. E por que não falar disso neste momento e ligar o conceito àquilo que é primordial ao desenvolvimento pleno do indivíduo, a Educação?