Por Ceres Alves de Araujo
As pessoas, em geral, pensam que diferente é sempre igual a errado e isso é um dos principais geradores de conflitos. Se o outro tem uma opinião ou uma crença ou um gosto diferente, isso já é motivo de discórdia e até mesmo para brigas. Faz-se necessário mudar esse paradigma e perceber que, em muitos casos, diferente é igual a diferente. Simples assim.
O ser humano percebe o mundo segundo seus sentidos: visão, tato, paladar, olfato e audição. Ele processa os estímulos que recebe, estabelecendo relações lógicas entre os eventos, mantendo um fluxo conectado de associações no qual as ideias se sucedem de forma coerente, mescladas pelas emoções, formando um sistema de referência interno, a partir do qual ele toma decisões de ação. Sua educação familiar, sua educação escolar, sua religião, sua condição social, suas crenças, seus valores e as experiências vividas, entre outros fatores o tornam único.
Considerando esse contexto, é comum pessoas observarem um mesmo fato e chegarem a conclusões diferentes. Pois muitas vezes estão vendo a mesma situação sob ângulos diferentes, sob pontos de vistas diferentes. E isso deve ser respeitado ao invés de ser motivo de briga.
Pois bem, a diversidade entre as pessoas têm sido promovida nesses anos recentes no mundo corporativo, principalmente nas empresas de ponta. Sabe-se que equipes de trabalho formadas por membros de diversas culturas, raças, religiões, gênero, segmento social são, geralmente, mais produtivas, além de promoverem um papel social importante em um mundo globalizado.
Entretanto, o que se observa é que, na maioria das vezes, a promoção da diversidade, isto é, como tirar o melhor proveito da diversidade, como conviver de maneira saudável com a diversidade, tem sido transmitida, preconizada, treinada nas pessoas na vida adulta, principalmente quando ingressam no trabalho, no mundo corporativo. Porém, esse processo de aprendizagem, de rompimento com preconceitos, seria muito mais fácil se ele tivesse início nos indivíduos ainda quando crianças, no âmbito familiar e na escola.
No âmbito familiar, o assunto deve ser tratado de forma a mostrar às crianças o respeito às diferenças. Os pais precisam dar o exemplo aos seus filhos para promover a diversidade. Faz-se necessário que transmitam às crianças seu sistema de princípios, crenças e valores. Entretanto, ao mesmo tempo, os pais devem ensinar aos seus filhos que há pessoas que pensam diferente, que agem de forma diferente, que se comportam de forma diferente e que essas formas distintas, se forem civilizadas, se estiverem sob a moral da sociedade em que vivemos, elas devem ser respeitadas ao invés de serem motivos para agressões.
É fato, várias escolas já procuram promover, de forma adequada, a importância da convivência na diversidade. Mas muitas escolas ainda não estão dando a devida importância para o tema. E mesmo as que se importam com o assunto, devem reforçá-lo de uma forma mais contundente. Insisto nisso pelo fato de que é natural que os pais coloquem seus filhos em escolas que estão de acordo com seus valores, suas crenças, sua religião, enfim sua cultura. Todavia, cabe à escola, ao transmitir conteúdos e sua filosofia, também ressaltar para os alunos que, em vários casos, existem outras maneiras de interpretar o mesmo fato. Ao estudarem diferentes culturas, por exemplo, estão entrando em contato com costumes, hábitos, crenças diversas e que essa diversidade deve ser respeitada ao invés de ser hostilizada. Com certeza, isso poderia ajudar também o controle do bullying nas classes e evitar as “panelinhas” que existem desde a pré-escola, um aprendizado já de tolerância, aceitação e valorização do diferente.
O mundo provavelmente seria tedioso se todos os indivíduos tivessem a mesma opinião sobre as coisas, a mesma verdade sobre tudo. E não haveria progresso social e nem científico. Cumpre ensinar às nossas crianças que é possível ter, em várias situações, mais de uma verdade sobre o mesmo fato, pois as pessoas podem estar vendo a mesma coisa segundo ângulos diferentes, percepções distintas. Porém, infelizmente, parece que estamos esperando as pessoas se tornarem adultas para ensinar isso a elas. Esse ensinamento deveria fazer parte da vida desde criança, no processo de crescimento do ser humano. Com certeza, assim, facilitaria, e muito, a sua assimilação.