Por Roberto Goldkorn
Uma pergunta que frequentemente me fazem os jornalistas e curiosos, é “Os oráculos online funcionam mesmo, ou é pura engambelação?” De minha parte já acho essa pergunta um avanço, pois o perguntador deixa implícito que sua dúvida é com relação aos oráculos virtuais, assim tacitamente concordam que os outros funcionam. Uma cliente me confidenciou que consultou uma taróloga que teve um grau de acerto perto de 100% quando tratou de diagnosticar suas vida presente, mas errou feio nos prognósticos. Ou seja, ela era boa de presente e ruim de futuro. O que dizer então dos oráculos prêt-à-porter?
O psiquiatra suíço psiquiatra suíço C. G. Jung (1875-1961), que mesmo sem saber é o meu grande guru, nos dá algumas dicas: “As idéias básicas de todos os motivos são representações plásticas de caráter arquetípico, isto é imagens primordiais, simbólicas sobre as quais a mente humana se edificou e se diferenciou.” Por isso podemos escrever livros de interpretação de sonhos, ou interpretar sonhos comuns a milhares de telespectadores frente à TV, pois o caráter universalizante dos símbolos ali contidos, vão sempre encontrar alguma fôrma de verdade. Essa é uma característica a qual o mesmo Jung chama de “ser genérico”.
Nessa esteira vão também os oráculos online, que de posse das indicações de um determinado modelo arquetípico (signo astrológico, numerológico, ou apenas dados pessoais, que possam configurar um padrão humano) vão fazer diagnóstico e prognóstico também universalizantes, ou seja, arquetípicos. Mas Jung também nos alerta que “o sapato que serve num pé, aperta no outro, e não existe uma receita de vida válida para todo mundo. Cada qual tem a sua forma de vida dentro de si, sua forma irracional que não pode ser suplantada por outra qualquer”.
Assim a humanidade caminhou bastante na investigação e descoberta de motivos que nos unem, a nós seres que viemos e vivemos no mesmo planetinha azul e temos tanto material genético, de memória comum. Acessar esse material cuja caixa preta ainda segundo a denominação de Jung é o Inconsciente Coletivo, é função dos oráculos, dos interpretadores de sonhos e das tantas escolas de psicanálise. Mas caminhamos pouco justamente naquela faixa exígua, talvez de 1% que nos distingue uns dos outros e nos faz tão “divinos”. Aí os oráculos online não chegam, mas também seria pedir demais.
Assim o acesso a essas informações do indivíduo, enquanto ser distinto, só podem ser obtidas por meio de mecanismos misteriosos ainda sem “catalogação na fonte”. Costumava dizer em meus cursos que esse tipo de informação não vem por vias racionais, planificadas, e sim através de estados alterados de consciência, ou de outros fenômenos espirituais, dos quais trata a psicologia transpessoal, como os estados de transe espontâneos ou auto-induzidos. Nesse território cheio de sombras e meios tons, onde nada pode ser garantido, os oráculos online, não podem atuar, embora o consulente possa fazer uma espécie de ponte entre a informação oracular e suas indagações. Essa é a razão pela qual muitos consulentes desse tipo de fonte lhe conferem certificado de qualidade. Exatamente, na ânsia de ter suas perguntas respondidas (ou confirmadas suas respostas) ele faz uma espécie de “conta de chegar” uma aproximação, uma adaptação da resposta oracular (genérica) aos seus anseios (subjetivos).
Assim se pudermos resumir numa única resposta a pergunta inicial, oráculos online realmente funcionam? A resposta é sim (se forem confeccionados com competência, naturalmente). Mas se quisermos chegar mais perto, aproximar a lente, teremos de concordar com Jung sobre o sapato que serve para um pé não serve para o outro, e aí a resposta é: “Não!”.
Mas a resposta deve ser também individual, e cada um pode e deve, buscar a sua.