Os seis reinos da existência cíclica

por Carminha Levy

De acordo com os ensinamentos do Xamanismo Tibetano Böon (veja aqui) há seis Reinos de existência nos quais todos existimos. São os Reinos dos Deuses, Semideuses, Humanos, Animais, Fantasmas Famintos e Seres Infernais. Eles são também seis dimensões da consciência, seis dimensões de experiência pessoal.

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Porém, eles não são apenas categorias da experiência emocional, mas também mundos reais nos quais os seres nascem exatamente como nós nascemos no reino humano ou um leão nasce no reino dos animais. Eles são arquetípicos, comuns à toda a humanidade, mas são também oníricos e insubstânciais, interpenetrando-se uns aos outros e nos conectando a todos eles. Por exemplo, quando somos tomados pelo orgulho egoísta ou pela inveja raivosa experimentamos algo da qualidade característica dos semideuses.

Como essas dimensões da consciência se manifestam na forma de emoções, torna-se visível o quanto elas são universais. A qualidade da inveja é a mesma em todos os lugares e a emoção do medo pode ocorrer em qualquer um dos reinos, assim como a tristeza a raiva e o amor.

As qualidades da consciência são chamadas de caminho, pois nos levam a diferentes reinos de experiencia desta vida e o ser humano só pode ser considerado “totalmente humano” até que o amor e a consideração pelos demais se desenvolvam plenamente nele. Por exemplo, se vivemos uma vida caracterizada pelas emoções de ódio e raiva nós renasceremos no inferno.

Mesmo que seja difícil e fantasioso para nós entender a manifestação dos seis Reinos, ela pode ser observada na nossa própria experiência ou na vida das pessoas que nos cercam: sabemos como lidar com a nossa rotina diária, mas o significado nos escapa como se andássemos numa rua na qual não há sinalização e ficamos sem saber que direção tomar.

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Essa é uma manifestação da ignorância do reino dos animais. Essa ignorância é uma insensibilidade, uma falta de inteligência, mas não é uma ignorância inata.

Sentimos um pouco do Reino dos Deuses, quando nos perdemos em distração prazerosa, desfrutando períodos de prazer e felicidade, vivendo numa espécie de superficialidade e evitando olhar para as situações ao nosso redor.

A felicidade do Reino dos Deuses sentimos por exemplo quando estamos em férias.

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Nós mudamos a dimensão da experiência e o mundo parece mudar conosco. A dor da ganância quando sentimos que temos que possuir determinada coisa, a vergonha do orgulho ferido, as pontadas de inveja, o inferno da amargura e do ódio, a insensibilidade e a confusão da ignorância… todas essas emoções podem se interpenetrar e mudar de patamar.

Os reinos e como eles se manifestam na vida diária

Reino dos Infernos

Como já vimos a raiva é a emoção-germe do reino dos infernos e parte da destruição das guerras é causada pelo ódio. Contudo, sabemos que a raiva nunca resolve nenhum problema. Ludibriados pelo ódio, a violência e a raiva, participamos do reino dos infernos. O antídoto para a raiva é o amor puro e não condicionado.

Reino dos Fantasmas Famintos

A avidez é a emoção-germe do reino dos fantasmas famintos e surge como um sentimento de extrema necessidade que não pode ser preenchido. Ao sermos consumidos pela avidez, procuramos pela satisfação externamente e não internamente, sem encontrar o suficiente para aplacar o vazio do qual desejamos escapar. Na verdade, esta sensação se trata da fome real pelo conhecimento de nossa verdadeira natureza. O antídoto é a generosidade, o doar abertamente o que os outros necessitam, pois só isso desata o nó da avidez.

Reino dos Animais

A ignorância é o germe do reino dos animais. Ela é experimentada como um sentimento de estar perdido, embotado, indeciso ou inconsciente. Uma tristeza é sentida a partir dessa ignorância: sente-se uma necessidade, mas sem saber exatamente de quê. No Ocidente, considera-se feliz aquele que vive ocupado em seus afazeres, no entanto podemos estar perdidos na ignorância em meio ao nosso trabalho, quando desconhecemos a nossa verdadeira natureza. Embarcar na jornada interior, encontrando a sabedoria do conhecimento de nossa verdadeira natureza, é o antídoto da ignorância.

Reino dos Humanos

O ciúme é a emoção-raiz do reino humano e quando tomados por este sentimento, queremos atrelar a nós tudo o que temos: um conceito, um bem, uma relação e avistamos a felicidade como algo externo a nós, nos conduzindo a um apego exacerbado ao objeto de nosso desejo. Ao nos conectarmos à nossa verdadeira natureza, surge a grande abertura do coração, o antídoto do ciúme.

Reino dos Semideuses

O orgulho é a principal aflição dos semideuses. Sendo um sentimento relacionado à realização, possui frequência territorial. Um egocentrismo às avessas que nos separa dos demais, demonstra um aspecto velado do orgulho manifestado ao acreditarmos ser piores que outros em uma determinada aptidão. Uma grande paz e humildade surgem ao descansarmos na nossa verdadeira natureza, na nossa verdade interior e nelas consiste o antídoto do orgulho.

Reino dos Deuses

A distração agradável é a semente do Reino dos Deuses, é uma alegria preguiçosa e o prazer egocêntrico que envolve os deuses. Eles se perdem nesse estado inebriante onde todas as necessidades parecem satisfeitas e todos os desejos saciados. Dessa forma, distraem-se em diversões e prazeres sem sentido, assim como acontece com algumas pessoas na sociedade. A compaixão abrangente que surge através da consciência da realidade, que se encontra por trás do Ser e do mundo, é o antídoto para a alegria egocêntrica dos deuses.

O sistema tibetano nos oferece esse conhecimento para que, através das emoções, possamos nos livrar das limitações e visões errôneas às quais nos prendemos através das ligações emocionais que permeam nossas vidas.

Aparentemente complexo este sistema, na sua essência, nos é oferecido não só como um caminho espiritual como também como um manual de vida Plena e Feliz.

Fonte:
Os Yogas Tibetanos do sonho e do sono
Tenzin Wangyal Rinpoche