por Edson Toledo
A partir da década de 1990, a Organização Mundial de Saúde e a Associação Americana de Psiquiatria adotaram a expressão “transtorno mental” no lugar de “doença mental”.
Na definição da OMS, transtorno mental seria “a existência de um conjunto de sintomas clinicamente identificáveis ou comportamento associado na maioria dos casos a sofrimento e a interferência nas funções pessoais”.
Esses transtornos mentais afetam a pessoa que apresenta os sintomas específicos em determinadas fases da vida, sendo frequentemente controlados por remédios e/ou psicoterapia.
O estilo antissocial ou psicopata fascina o ser humano. Não é à toa que o sucesso de filmes e seriados protagonizados por indivíduos que têm esse traço é um claro fenômeno de nossos tempos. Certamente você já viu personagens de filmes como vilões manipuladores, mentirosos, sedutores e inescrupulosos que na maioria das vezes têm uma legião de fãs mundo afora.
Histórias de seriais killers prendem a atenção de espectadores no mundo todo e, não raras vezes, acompanhamos notícias dessa espécie como contos de suspense ou terror e mesmo nos noticiários.
Dessa vez, vamos falar da tipologia da maldade humana, daqueles indivíduos que cometem atos tão cruéis que custamos a acreditar que tenham sido executados em sã consciência. Você leitor certamente poderá dizer: “O psicopata é louco” e eu lhes digo: não! O psicopata não é louco. Ele sabe o que está fazendo, a questão é que, na ausência de um freio moral, ele vai em frente, sem culpa ou remorso de seu ato.
Filmes que apresentam personagens com transtornos de personalidade costumam render boa bilheteria. Só recordando, já falei deste tema em posts anteriores: transtornos de personalidade, por sua vez, são perturbações mentais, caracterizadas por uma alteração no desenvolvimento da personalidade, decorrentes de falhas na estruturação do caráter.
O individuo apresenta um padrão comportamental rígido e repetitivo, desde o fim da adolescência ou inicio da vida adulta, que acarreta dificuldade nos relacionamentos pessoais, em uma ou mais áreas de sua vida. Não há perda do juízo de realidade, como nas psicoses, nem alternância de fases com ou sem sintoma, como nos casos de ansiedade depressão. A resposta à medicação é precária, uma vez que a anormalidade não se expressa em sintomas, e sim numa organização patológica da personalidade.
Exemplos bem conhecidos
Na obra-prima do cinema “Psicose”, a secretária Marion Crane pega os 40 mil dólares que deveria depositar no banco e foge para começar uma nova vida. Depois de dirigir por horas, ela para no Motel Bates para descansar e é informada pelo dono, Norman Bates, de que é a primeira hóspede em semanas. Não tarda para descobrimos que Bates, aparentemente um jovem tímido, não é tão inofensivo. Ele sofre de transtorno dissociativo de identidade, ou transtorno de personalidade múltipla, condição na qual a pessoa é dominada por duas ou mais personalidades distintas, sendo que cada uma delas tem controle total.
O personagem Randle Patrick Murphy de um clássico das telas, “Um Estranho no Ninho” se finge de louco para não ser mandado para a prisão pela sexta vez, só que acaba sendo enviado para uma instituição psiquiátrica, onde desobedece as regras e enfrenta a tirania da enfermeira Ratched. Exceto nos momentos em que demonstra afetividade pelos colegas, Randle possui várias características do transtorno de personalidade antissocial, também conhecida como psicopatia e sociopatia, como o histórico de violação dos direitos dos outros, a ausência de remorso, a incapacidade de aprender com os erros e a manipulação e sedução dos que os cercam.
Conhecido filme por retratar um caso de perversão sem floreios e disfarces, “Precisamos falar sobre o Kevin” conta a história de uma mãe e o seu difícil relacionamento com o filho primogênito. Eva lida com sentimentos diversos em relação à maternidade, além do sentimento de culpa por causa dos atos de seu filho, Kevin. Além disso, o filme retrata também o desenvolvimento de Kevin, na tentativa de explicar e justificar os seus atos, mostrando os motivos que podem tê-lo levado a ser como ele é. De um modo geral, esse filme ilustra bem um caso de perversão, além de retratar a importância dos pais na vida de uma criança.
Vejam vocês como o assunto é levado a sério! Um bom exemplo é Darth Vader, o vilão intergaláctico do filme “Guerra nas Estrelas”, onde um grupo de psicólogos e psiquiatras da Universidade de Toulouse, na França, debruçou sobre o personagem e detectaram nele seis dos nove traços do transtorno de personalidade borderline – explico traços desse comportmento logo abaixo.
Certamente você conhece a história, mas para os que não conhecem a saga, Anakin Skywalker é um jovem que se prepara para se tornar um cavaleiro Jedi, ou seja, um guerreiro do bem. Desde cedo ele demonstra raiva e impulsividade, por vezes, incontroláveis, além de oscilar entre a idolatria e o ódio a seus mentores. Quando adulto, assume a identidade de Darth Vader e se torna a face do mal.
Independente do lado que escolhe, ele está sempre sofrendo, com um sentimento crônico de vazio. Não consegue estabelecer uma relação com a mulher que ama, não tem amigos – seu jeito instável afasta todo mundo – e, solitário, acaba pondo fim à própria vida. Ideias suicidas, muitas vezes levadas a termo, também fazem parte do conjunto de características de pessoas com Transtorno de Personalidade Borderline. Em nenhum momento, Vader perde o contato com a realidade.
Ele tem consciência de seus atos e, com frequência, se martiriza por não conseguir controlar os acessos de raiva. Revela um medo inexplicável de ser abandonado e, por causa desse sentimento, torna-se capaz de maldades incalculáveis. Numa frase, seu mentor, Mestre Yoda, resume bem o que se passa na mente de um individuo com essa natureza: “O medo é o caminho para o lado negro. O medo leva à raiva. A raiva leva ao ódio. O ódio leva ao sofrimento.”
Esse jeito inflexível de ser, perturbado e perturbador, nos leva à definição de transtorno de personalidade; e nada melhor que o filme “O Silêncio dos Inocentes” que revelou ao mundo como funciona a mente de um psicopata. O filme trata da caçada a um serial killer, onde uma agente do FBI recorre ao ex-psiquiatra Hannibal Lecter, preso por matar e comer nove pessoas. Manipulador e convincente, ele ajuda a encontrar esse assassino, não sem antes envolver a policial num perigoso jogo de sedução. Com muita lábia, acaba escapando da prisão e deixando pistas de que voltará a agir.
Lecter é tão envolvente que, durante o filme, os espectadores torcem por ele, mesmo sabendo que é um criminoso cruel. O mesmo acontece com outro psicopata famoso da ficção, o serial killer Dexter, do seriado de mesmo nome. Ele trabalha no Departamento de Policia de Miami e dedica suas horas vagas a matar assassinos que escapam da lei. Um justiceiro sanguinário, cujos crimes – metodicamente planejados – são tão violentos quanto os de suas vitimas. No trato social, Dexter é agradável e encantador com quem o rodeia. De dia, leva uma vida convencional sendo muito elogiado no trabalho. À noite, caça psicopatas. Em oito temporadas, a série teve uma media de seis milhões de espectadores por episódio, deixando claro o fascínio que esse tipo de história exerce.
O tema me fascina, e se você quiser saber mais, consulte o livro “Cinema e Loucura – conhecendo os transtornos mentais através dos filmes” de autoria de J. Landeira-Fernandez e Elie Cheniaux, editado pela Artmed.