por Aurea Caetano
Falamos muito aqui acerca de polaridades e do necessário exercício constante de diálogo entre elas, sejam quais forem. Este tema é explorado de formas diferentes na arte, de forma a apontar nossa eterna dificuldade de escolha.
Cecília Meireles, por exemplo, escreveu um poema chamado “Ou isto ou aquilo”. Apesar de escrito para crianças, ele fala acerca da dificuldade de escolha entre coisas diferentes como calçar a luva ou colocar o anel, guardar dinheiro ou comprar o doce, brincar ou estudar. O poema termina assim: “Mas não consegui entender ainda qual é melhor: se isto ou se aquilo”.
Mas, será que sabemos sempre o que é melhor? E, melhor para quem? Em que momento ou em que contexto? E, ainda, a serviço do que está cada escolha que fazemos? Pensando acerca das dúvidas colocadas por Cecília Meireles em seu poema, as escolham podem parecer bem fáceis. Mas não é sempre assim!
Caminho para uma escolha acertada
Escolhas hão de ser feitas a cada momento a partir da necessidade do sujeito e do contexto no qual surgem. O que chamamos aqui de exercício constante de diálogo entre polaridades é a necessidade de contemplar os vários aspectos de uma questão e escolher entre todas as possibilidades a que faz mais sentido para a pessoa naquele momento.
Estamos aqui propondo um funcionamento talvez mais fluido, não tão rígido, mas ao mesmo tempo mais autêntico na medida em que mais próximo de nossas necessidades verdadeiras. Claro, existe um tanto de autoconhecimento e sabedoria imprescindíveis para a capacidade de conhecer e poder funcionar a partir de nossas “necessidades verdadeiras”. Não se trata aqui de escolher um polo a partir de um desejo superficial ou momentâneo, mas sim de ponderar, a cada momento, qual a escolha mais adequada para o indivíduo ou o sujeito em sua totalidade.
Não! Não estamos propondo aqui um funcionamento egoísta ou autocentrado. A cada expressão de nossa totalidade ou inteireza estamos também, ao mesmo tempo, expressando a totalidade ou inteireza de nossa humanidade e assim trabalhando para o desenvolvimento de todos os seres com os quais convivemos. Cada alteração em nossas consciência altera e modifica todo o sistema no qual estamos inseridos.
Leia o poema
Ou isto ou aquilo
Ou se tem chuva e não se tem sol,
ou se tem sol e não se tem chuva!
Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!
Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.
É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo nos dois lugares!
Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.
Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo…
e vivo escolhendo o dia inteiro!
Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranqüilo.
Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.