por Edson Toledo
É comum ouvirmos a pergunta: “O que está acontecendo com nossos filhos?” E, costumo dizer que a questão poderia ser pensada de outra forma: “O que está acontecendo com nossos pais e mães que parecem estar esquecidos de sua função de educadores de seus filhos?”
Que a sociedade mudou muito e o tempo que os pais têm para se dedicar aos filhos ficou bastante reduzido é um fato, e um argumento muito utilizado por eles. O resultado desse fenômeno contemporâneo é o sentimento de culpa que os faz querer compensar essa ausência não colocando regras, limites ou dando tarefas às crianças; ou pior ainda, com medo de perder o afeto dos filhos, não exercem a autoridade que lhes cabem como pais (e não da escola).
Também é muito comum ouvirmos que pais e mães precisam ser amigos de seus filhos. Aqui, igualmente, é preciso ter cuidado com a inversão de ordem, pois eles deixam de desempenhar seus papéis e querem se tornar amigos. A atenção e o respeito que devem ser dados à criança não podem provocar uma inversão na ordem das gerações entre pais e filhos. Esse é o pior desserviço que um pai pode prestar a um filho, já que pode abrir uma brecha e permite que as crianças se aproveitem da situação e cresçam totalmente voltadas para o prazer, além de terem a sensação de que são o centro do universo.
Explicando melhor, quando se inverte o sentido dessa relação, com os filhos colocados em um trono, ou tratados como reis, e com os pais deixando de cumprir sua função de educadores, as crianças crescem sem orientação, sem limites, sentindo-se sozinhas e desconectadas de sua própria família, sem uma verdadeira identificação com esses pais, pois lhes faltam um modelo forte, seguro e afetivo, que elas possam admirar, seguir, amar e respeitar.
A pergunta que eu faço é: se os pais se comportam somente como amigos de seus filhos, podemos nos perguntar: “Quem estará fazendo o papel dos pais em seu lugar?” E esse é um grande perigo, pois a criança e o jovem precisam de orientação adequada e segura, além de alguém que apenas os ouça e os aconselhe como um amigo faria. Precisam, sim, de alguém que funcione como um porto seguro para onde recorrer, quando surgem os problemas e não sabem o que fazer, mas precisam que esse porto seguro seja suficientemente firme e forte para orientá-los quando não sabem como proceder, para repreendê-los quando estiverem errados e para ensiná-los a respeitar a si mesmos, e aos outros, preparando-os para a vida em comunidade.
Outro aspecto a se considerar é o de que eles crescem achando que são excelentes em qualquer coisa. Por isso, se esforçam muito pouco e esperam um resultado enorme, porque estavam acostumadas a receber isso em casa.
Fatalmente o impacto disso acontecerá na fase adulta, quando acabam sofrendo ao se deparar com o mundo real. Um lugar que exige muito esforço para se tornar um bom amigo ou profissional, com muitas regras e ainda críticas do chefe.
Estudos mostram que adultos que tiveram uma infância sem limites não suportam essa realidade. Tornam-se pessoas frágeis emocionalmente, com baixa tolerância à frustração e, diante de qualquer dificuldade, não têm persistência nenhuma. Nem mesmo para atingir seus objetivos profissionais e de relacionamento.
Assim, penso que não exista mágica. Porém, gosto de pensar que para uma criança crescer como um indivíduo seguro e emocionalmente estável e buscando uma resposta para a pergunta que fiz no início: “O que está acontecendo com nossos pais e mães que parecem estar esquecidos de sua função de educadores de seus filhos?” Seria a busca constante e árdua do equilíbrio.
Explico melhor, vamos pensar em uma balança, de um lado ficam o afeto, o tempo com os filhos, as brincadeiras e as histórias e do outro lado estão a autoridade, os limites e as regras. A questão é que, infelizmente, nem todos os pais têm um perfil participativo e equilibrado nas relações com os filhos.
Entendo que os pais não devem ser um amiguinho do filho, mas um pai ou mãe deve ter uma relação amigável com o filho. É permitido ter muita intimidade com seu filho, mas também não se esqueça de exercer a sua autoridade. Lembre-se da balança, e faça uma reflexão sobre onde está o fiel dela e encontre o equilíbrio.
Se serve como dica, o filho precisa ter tarefas e rotinas domésticas e regras para cumprir, pode ser coisas básicas como arrumar o quarto, fazer a lição, ajudar a lavar a louça e também receber carinho. E assim certamente ele vai se sentir um membro participante da família, o que em muito contribuirá para sua maturidade emocional.
A verdade é que para educar um filho não há fórmula ou manual de instrução que se possa seguir, pois cada um nessa relação é único em sua natureza. Todos precisam ser respeitados. Podemos escolher com quem vamos nos casar, de quem seremos amigos, mas pais e filhos não se escolhem. Apenas temos que conviver com eles quase sempre para o resto de nossas vidas, e essa convivência nem sempre é fácilitada. Porém, devemos a todo instante nos lembrar que educar é também frustrar; é dizer não e contrariar a vontade do filho, quando necessário. Não há como escapar disso, sob pena de o próprio filho sofrer as consequências em sua saúde física e mental em algum momento de sua vida.