Pais são responsáveis pela obesidade infantil

Por Jocelem Mastrodi Salgado

Estudos mostram que as crianças brasileiras estão gordas como as americanas e anêmicas como as indianas. Avaliações recentes elaboradas pelo Ministério da Saúde e pela Organização Pan Americana de Saúde, com base em entrevistas com milhares de crianças em todas as regiões, das capitais e do interior, confirmaram que 15% de meninos e meninas que vivem no Brasil estão obesos.

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Esse estudo mostra que uma em cada seis crianças até 10 anos de idade está com o peso pelo menos 20% acima do ideal. Na década de 80, apenas 3% delas eram obesas. Em matéria de adiposidade infantil, chegamos a nos igualar ao primeiro mundo pois nos Estados Unidos, o campeão no consumo de batatas fritas, hamburguers e refrigerantes a porcentagem de crianças obesas é de 20%.

O estudo do Ministério da Saúde mostra também que a anemia atinge quase metade das crianças brasileiras. É um índice similar ao da Índia, com a diferença de que lá, por motivos religiosos a maior parte da população impõe-se a proibição de comer carne e outros produtos de origem animal, e naturalmente, a absorção de ferro entre as crianças indianas é menor.

Durante anos, o grande drama nacional no Brasil era a falta de comida, que conduzia a um quadro de desnutrição infantil. Contudo, hoje a situação está se invertendo. O Brasil está deixando de ser um país de desnutridos para ser uma país de obesos.

Quando o Brasil enfrentava a desnutrição, o problema era de política pública. Hoje, tirando os bolsões de miséria, o maior responsável pelas deficiências alimentares não é o Estado, mas os pais, já que cabe a eles a tarefa de decidir o que as crianças vão comer.

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Entretanto, pesquisas que estudam os hábitos alimentares das crianças mostram que essa missão está sendo desempenhada com displicência. Os pais acham natural que seus filhos prefiram batata frita, salgadinhos, hamburguer, sorvete, etc… do que comer uma salada de cenoura, agrião ou um pedaço de peito de frango grelhado.

O problema é que a grande maioria das pessoas se esquece de que as crianças nascem sem saber qual é a exata diferença entre esses alimentos. Deveria haver estímulos e esforços dos pais no sentido de oferecer aos seus filhos alimentos saudáveis. O que se observa hoje é um excesso na oferta de alimentos altamente calóricos e pobres em nutrientes. Frutas, legumes e verduras quase nunca estão presentes nos cardápios.

Os resultados de todos esses erros alimentares são os altos índices de obesidade infantil e anemia, que trazem conseqüências seríssimas à saúde da criança. Em uma criança, a obesidade atrapalha o crescimento e pode provocar a má formação das articulações e dos quadris. A médio e longo prazo, poderão surgir hipertensão, colesterol elevado, diabetes e outros males cardíacos. Estimativas médicas mostram que oito de cada dez crianças obesas se tornam adultos gordos.

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Anemia

A anemia é igualmente um problema grave. A criança torna-se apática, cansada, sem apetite e com dificuldades de desenvolvimento intelectual. Uma observação interessante a se fazer é que a anemia não é sinônimo de criança que passa fome, mas sim da que não come o que deveria comer.

Anemia e obesidade: presentes em todas as classes sociais

Como o trabalho feito pelo Ministério da Saúde é nacional, é natural suspeitar que a obesidade e a anemia estejam mais concentradas em crianças de famílias menos educadas ou mais pobres. Pois saiba que as classes mais favorecidas, que têm informação e dinheiro para consultar um pediatra ou um nutricionista especializado, apresentam índices tão alarmantes quanto as menos favorecidas, tanto em obesidade como em índices de anemia.

Parece que hoje nos países em desenvolvimento, principalmente no Brasil, nossas crianças estão imitando as americanas à mesa. Nas grandes cidades, almoçar na lanchonete já virou hábito. Em casa, os pais entulham a geladeira de comida semi pronta industrializada, uma saída bastante prática, mas muito menos nutritiva.

O estudo do Ministério da Saúde e da Organização Pan-Americana de Saúde tem concentrado séria atenção na alimentação dos bebês de 6 meses a 2 anos e os resultados têm mostrado que o cardápio infantil já começa com "problemas" nos primeiros anos de vida, fase essencial para a formação de hábitos alimentares saudáveis.

A criança que aprende a comer bem até atingir 5 anos, diminui fortemente o risco de se tornar um adulto compulsivo por guloseimas. O motivo é que até essa idade, os pais e o pediatra mantém um controle mais rígido sobre a dieta da criança. Depois dessa fase, precisam contar com a ajuda das escolas. É por esse motivo que temos incentivado uma merenda escolar saudável, balanceada, nutritiva e gostosa, e temos buscado nas cantinas um parceiro para distribuir alimentos que venham complementar nutricionalmente a merenda escolar. Nossa intenção é interferir positivamente no programa, uma vez que na maioria das regiões do Brasil a merenda escolar é a única refeição que a criança tem acesso.

Alimentação saudável

Impor disciplina alimentar aos nossos filhos é uma missão que parece quase impossível, mas tem que ser encarada como um desafio. Há, no entanto, alguns pequenos truques que poderão ajudar os pais nessa difícil, mas gratificante missão.

O primeiro deles é tratar de definir um cardápio balanceado e variado para todas as refeições e, se o seu filho ou filha não quiser comer, o problema é dele (a). Mas deixe bem claro que não haverá dinheiro para lanches ou sorvete ou chocolate e que só haverá alimentação na próxima refeição.

Nunca devemos nos esquecer que é natural que a criança goste mais de um alimento do que de outro, mas temos que ter em mente que a cozinha da nossa casa não é um restaurante. A criança pode ter opção, porém quem tem que montar o cardápio são os pais.

Outra dica é dar bons exemplos. Se o pai bebe refrigerante durante as refeições, não adianta recomendar aos filhos que tomem sucos naturais de frutas. Da mesma forma os pais devem consumir verduras, legumes, etc… com satisfação para que os filhos sigam o modelo. Todo pai e toda mãe também já devem ter passado pela situação em que a criança recusa a comer cenoura ou brócolis. Mas ceder facilmente a um "não quero" é o primeiro passo para criar um pequeno ditador em casa.

Hoje já se sabe que os maus hábitos alimentares e o sedentarismo contribuem em parte para a obesidade infantil. Mas não é só isso. Estudos mostram que quando um dos pais é obeso, os filhos tem 50% de chances de também serem gordinhos. Quando os dois pais estão bem acima do peso, o risco pode chegar a 100%. O ideal é que a criança não entre na adolescência acima do peso. Estudos mostram que quando isso acontece ela tem 70% de chance de se tornar um adulto gordo.

A melhor forma de combater a obesidade infantil e brigar contra a balança seria associar dieta balanceada, exercícios e paciência. E a responsabilidade pelo sucesso do tratamento, como já dissemos, é sobretudo dos pais. São eles que devem escolher os cardápios dos meninos e programar as atividades físicas. A família deve ser reeducada para melhorar a qualidade das refeições consumidas e, exercício físico deve ser o "lema" de todos os componentes da casa.

Dicas

A criança deve comer de tudo, sem excesso. O importante é usar o bom senso dos pais:

1º) No café da manhã, troque a manteiga por requeijão light, o presunto gordo pelo magro ou por peito de peru.
2º) Prepare o lanche escolar do seu filho, caso a cantina da escola ainda não esteja oferecendo alimentos nutritivos.
3º) Se o seu filho não têm limites, marque um dia da semana para os excessos (guloseimas, refrigerantes, salgadinhos, etc).
4º) Não ofereça recompensas em troca de prato vazio (dá idéia à criança de que comer não é bom).
5º) Não ofereça sempre o mesmo tipo de comida. O cardápio deve ser variado, colorido.
6º)À tarde incentive a criança a deixar de lado as bolachas e os salgadinhos e explique a ela as vantagens da troca para frutas ou iogurtes.
7º) Incentive o exercício físico diminuindo as horas em frente à televisão.
8º) Não ameace a criança que não quer comer com castigo. Isso aumenta sua repulsa à comida. Haja como dissemos anteriormente, sem pressão e com calma.

Existe um conceito que " tudo o que você quiser fazer para o seu filho em termos de alimentação, faça-o enquanto ele estiver em seu ventre e nos primeiros anos de vida". Ensinando bons hábitos alimentares a seu filho nessa idade, com certeza você estará contribuindo para que ele seja um adulto saudável, livre da anemia e sem problemas com a balança.