Paixão no setting terapêutico

por Eduardo Yabusaki

Depoimento de uma leitora:   

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“Estou apaixonada pelo meu terapeuta, sinto um desejo muito forte, mas não consigo aceitar isso, pois não sei nada sobre ele e ele, nada poderá fazer… Além do mais, me sinto ridícula, pois ele é mais jovem. O que fazer quando isso acontece?”

O ambiente terapêutico é favorável à interação próxima entre as pessoas envolvidas e esse pode gerar grande respeito e admiração pelas partes, bem como despertar desejos e expectativas que transcendem à convivência terapêutica e profissional.

Afinal de contas, estamos falando de um ambiente em que muita afetividade acaba sendo exposta, tanto do tarapeutizando (paciente) como do terapeuta em que a troca de informações, experiências e intimidade acabam fazendo parte do processo de pensamento, exposição e exploração afetiva, bem como, avaliação, reflexão e aprofundamento em diferentes aspectos que envolvem vivências e a cognição de cada indivíduo.

Nesse processo de desenvolvimento, reorganização e redirecionamento de vida, é natural que o terapeutizando se torne mais sensível e atento às características virtuosas de seu terapeuta, que vêm à tona, naturalmente, no processo de desenvolvimento e crescimento pessoal.

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Cabe fundamentalmente ao terapeuta tomar todos os cuidados éticos e técnicos, independentemente de sua abordagem teórica, observando e cuidando para que esse processo de envolvimento e ‘apaixonamento’ não seja correspondido, ou sequer, seja despertado ou alimentado, portanto, é de total responsabilidade dele – terapeuta – não permitir que esses sentimentos tenham a menor chance de evoluir. Entretanto, por mais que haja todo esse cuidado e atenção do terapeuta, isso não significa que a paixão não vá ou não possa vir a acontecer.

A grande questão e se ainda assim acontecer, o que fazer?

Deixar rolar e alimentar ainda mais os sentimentos?

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Que atitude tomar?

Manifestar ao terapeuta e ver o que acontece?

Abandonar a terapia?
 
Bem, seguem     algumas dicas:

1. É importante ter claro que esta é uma situação completamente comum e que pode acontecer com qualquer pessoa, portanto, não fique se martirizando, ou se culpando e recriminando. Relaxe para resolver…

2. Lembre-se que você só conhece parte da personalidade e de como seu terapeuta de fato é. Na terapia você está convivendo com o lado da vida dele em que ele é competente e pessoalmente mostra o seu melhor.

3. Não se veja ridícula ou inferiorizada, viver sentimentos tão bons como a paixão, desejo, afeto e carinho, são saudáveis e agradáveis, portanto o que precisa é direcioná-los para outra pessoa em um relacionamento viável. Lembrando também que idade está na cabeça e não no corpo físico.

4. Não fique nutrindo seus sentimentos de forma platônica, isso sim não fará bem, pois viverá um processo infindável de fantasias hipotéticas e que não vão acrescentar nada a você, portanto, manifeste essa 'apaixonite' para o seu terapeuta, para que ele possa intervir nessa questão e barrá-la para a continuidade de seu processo terapêutico.

5. Se depois disso tudo, ainda assim a paixão persistir, será preciso avaliar com ele a validade da continuidade da terapia ou não. Portanto, não nutra ou sofra em silêncio.

Atenção!
Este texto não substitui uma consulta ou acompanhamento de um psicólogo e não se caracteriza como sendo um atendimento.