Histórias de amor sempre fizeram parte do imaginário das pessoas. Histórias de amor inspiraram artistas, poetas, escritores, músicos. Histórias de amor adoeceram pessoas. Histórias de amor enlouquecem homens e mulheres. Histórias de amor revelam o que há de melhor e pior em nós mesmos.
É amor ou paixão?
Sanford nos diz que “a experiência de apaixonar-se equivale a tornar-se aberto aos assuntos do coração de maneira maravilhosa. Pode ser um prelúdio de uma expansão valiosa da personalidade e da vida emocional.[…] apaixonar-se é uma experiência natural e bela.” Mas Sanford também nos alerta que “os relacionamentos baseados exclusivamente no estado de paixão nunca duram. Apaixonar-se é próprio para os deuses […] o relacionamento humano entre duas pessoas apaixonadas não resiste ao teste de realidade, ele só consegue sobreviver num mundo de fantasia.”
Ainda segundo Sanford, o relacionamento amoroso verdadeiro “nos leva a amadurecer, estimulando expectativas realistas em relação a outras pessoas. Significa aceitar a responsabilidade por nossa própria felicidade ou infelicidade, sem esperar que a outra pessoa nos faça felizes.”
A beleza desse encontro se dá quando percebemos que é uma excelente oportunidade de revermos nossa própria alma. É um mergulho nas partes mais profundas de nós mesmos.
Se quisermos apenas satisfazer nossa carência infantil, então vamos esperar passivamente que o ser amado cuide de nós como nossos pais deveriam ter cuidado. Mas se tomarmos consciência de um chamado para evoluirmos como seres humanos, então receberemos esse encontro como uma inspiração.
A grande “obra-prima” da nossa vida pode acontecer nessa interação alquímica, na relação amorosa entre duas pessoas. Jung nos diz que o processo de integração da Ânima e do Animus, na tentativa de tornar-se inteiro poderia ser chamado de “obra- prima”. A explicação mais simples de Jung para Ânima e Animus é: “o elemento masculino na mulher é chamado de Animus, e o elemento feminino no homem corresponde a Ânima.” Talvez fique mais fácil visualizar essa imagem no símbolo do Yin e Yang do taoísmo. Há uma parte do masculino no feminino, e vice-versa. Esse simbolismo existe em muitas culturas milenares, e dessa interação de opostos podemos chegar a estados de transcendência.
É uma tarefa fácil? Não.
Relacionamentos entre opostos sempre dão muito trabalho. Mas a verdadeira história de amor fala muito mais de nós do que do outro. Cada pessoa precisa tomar consciência dessa obra-prima que está sendo construída internamente. É um processo interno, intenso, por vezes doloroso e com certeza trabalhoso. O diálogo interno e externo interagem o tempo todo.
O amadurecimento da alma traz a consciência de que é necessário nos responsabilizarmos por nossa própria vida. A Ânima e o Animus que ressoam dentro e fora da gente podem nos inspirar a enfrentarmos essa jornada. Não importa se a relação é homossexual, heterossexual, ou de outra natureza. O outro é sempre outro. E cabe a nós esse mergulho intenso e profundo… conectando-nos ao amor sagrado e incondicional, a meta máxima que nos liberta da dor e do sofrimento.
Sanford, J. A. Os parceiros invisíveis: o masculino e o feminino dentro de cada um de nós. São Paulo: Paulus, 1987.