por Roberto Affonso Santos
Os elevadores nos prédios comerciais, de grandes centros urbanos, vivem duas eras: Antes_das_TVs&Celulares (ATC) e Depois_das_TVs&Celulares (DTC), com seus impactos nas relações e comunicações humanas no trajeto de subida ou descida.
O mundo “ATC” era de papos, ainda que curtos, entediantes e inúteis de pessoas que adoram puxar papo com quem estiver pela frente (ou ao lado) e que parece escolher justamente aquele que menos quer papear. Dependendo do andar em que se trabalha e da velocidade do elevador, o papinho pode durar cerca de dois minutos – “Acho que vai chover, não?” ou “E seu time, ganhou no final de semana?” ou, quando não são duas pessoas totalmente desconhecidas, mas colegas de trabalho, as conversinhas podem incluir perguntas mais inúteis ou perigosas: “Você viu o novo Diretor que começou semana passada? Será que dura mais que seu antecessor?”, isto é, aquele sutil convite à armadilha da fofoca corporativa.
Na era “DTC” de elevador, apoiadas por seus Apps, Zaps e Mídias Sociais, os introvertidos que preferem se esquivar de papos com estranhos ou com fofoqueiros de plantão, se livraram de transtornos e chatices. Essas pessoas reservadas se mostram concentradas na última notícia do atentado em Paris que está passando na TV do elevador ou na mensagem que acabam de receber no celular – um álibi perfeito para se isolar e blindar de intrusos de sua individualidade.
No caso de papos rápidos de elevador, iniciados por pessoas desconhecidas, quando não adianta estar com os olhos grudados no vídeo da TV ou na tela do celular, cabem respostas curtas, simpáticas e educadas, pois nunca se sabe se aquela pessoa que o acompanha no elevador não será o próximo diretor de seu departamento.
Porém, mais importante do que preparar-se para as conversas vazias de elevador com desconhecidos, é a consideração dos papos de elevador ou na hora do cafezinho, com colegas de trabalho, seu chefe ou até um chefe do seu chefe. Pode ainda ser alguém novo em seu círculo de relações na empresa ou aqueles que já se conhece há muito tempo.
Nesses casos, deve-se considerar dois tipos de conversas. A primeira é aquela totalmente informal sobre assuntos externos ao mundo corporativo da sua empresa – falar de futebol, do show do U2 que você conseguiu ingresso, da ultima gracinha de sua filha de 2 anos etc. Neste campo podem-se incluir os temas de atualidade, como política e economia, ainda que sejam temas mais movediços que devemos tratar com moderação.
Elevator-speech
O segundo tipo de conversa de elevador e assemelhadas, é aquele que os americanos chamam de “elevator-speech” ou discurso de elevador de dois minutos. Nesse caso, estamos nos referindo a conversas estratégicas, estudadas e planejadas com algum objetivo de curto, médio ou longo prazo.
Muitas pessoas em processos de coaching reclamam porque não têm a mesma sorte de colegas que realizam muito menos, mas fazem tamanho estardalhaço, que são reconhecidos e promovidos. Essas pessoas não se dão conta que, na competição do mundo corporativo, o bom trabalho é necessário, mas não suficiente muitas vezes para se destacar e progredir nas pirâmides organizacionais.
Às vezes, essas pessoas têm tanta aversão a pessoas que fazem o marketing pessoal e autopromoção o tempo inteiro, que acabam indo para o outro extremo, e assim vão continuar reclamando ou se frustrando. A sabedoria sempre está no caminho do meio… Então, pensar e agir estrategicamente com relação à sua própria carreira, provavelmente terá de incluir algum esforço para falar de seu trabalho e vender suas ideias – e isso não se aplica apenas a seu chefe direto. É nesse contexto que se considera o “discurso de elevador”.
Nos dias de hoje, a atenção que as pessoas tendem a dispensar a outras é cada vez menor, a paciência das pessoas está se extinguindo rapidamente, salvo se tenham algum interesse pessoal com a conversa. A primeira impressão que causamos em outros – positiva ou negativa – acontece em segundos ou minutos da interação e, como dizia Danuza Leão, raramente temos uma segunda chance de causar uma boa primeira impressão. Por isso, o discurso de elevador deve ser programado e até ensaiado para acontecer em um a dois minutos.
Mas quando se usa essa abordagem?
1 – Você quer atrair visibilidade para um projeto de sua área para que obtenha reconhecimento e/ou recursos adicionais.
2 – Você quer vender uma ideia a seus superiores que envolve outras áreas e sabe que há outros projetos competindo pela atenção e recursos escassos da empresa.
3 – Há um processo de assessment interno para identificar potenciais candidatos a fazer parte de um banco de talentos para futuras sucessões gerenciais e você quer ser mais conhecido.
O denominador comum é que, nesses casos, há uma necessidade clara de se projetar de forma assertiva, diante da pessoa (ou pessoas), que será chave para se atingir o objetivo, ou pelo menos, para dar os passos certos nesta direção.
Estamos falando de conversas um a um, sem PowerPoint, sem relatórios, com objetividade e concisão. O “papo de elevador” não pode pretender esgotar o assunto; seu objetivo deve ser o de despertar o interesse do interlocutor para um outro papo, talvez mais demorado, para você apresentar os detalhes de seu posicionamento em um dos três casos acima.
Dessa forma, o papo estratégico, de elevador ou do cafezinho, deve ser preparado com o essencial da ideia para causar um impacto positivo durante aquele trajeto de subir ou descer no elevador ou na duração de um cafezinho.
Uma técnica de comunicação quando temos pressão de tempo, é começar pelo fim, falando dos benefícios ou retorno do investimento estimado com sua ideia ou com os projetos em que você e sua equipe estão envolvidos. Se houver tempo, você pode elencar os dois ou três argumentos mais importantes que sustentam sua ideia e finalizar, solicitando uma oportunidade para falar mais a respeito.
Importante frisar que não se trata de pensar no “elevator speech” como uma rotina diária – você não vai querer se transformar no chato que está sempre se vendendo ou vendendo alguma coisa em todas oportunidades e com todas as pessoas que encontrar. O uso estratégico e assertivo dessas oportunidades é o que as tornam um destaque na mente e ouvidos das outras pessoas.
Falar sobre o tempo e sobre o que se fez no final de semana ainda deve fazer parte de nossas viagens em ascensores, com ou sem TVs e celulares para nos desfocar e nos isolar dos outros viajantes.