Por Elisandra Villela Gasparetto Sé
Nos dicionários, nas definições clássicas de solidão, encontramos o seguintes conceitos solidão é a condição de ser só, estar só; um estado emocional que inclui isolamento, tristeza, apatia, insatisfação com a vida, o qual é provocado pela ausência de contatos e relacionamentos importantes, agradáveis, satisfatórios e significativos.
Entretanto, o que causa esse estado emocional não é o fato de a pessoa estar fisicamente sozinha, mas o de estar privada de um ou vários relacionamentos que gostaria de ter. A experiência de isolamento social implica escassez de relacionamentos significativos e satisfatórios no que se refere à qualidade dos vários tipos de relacionamentos que uma pessoa pode ter. O isolamento emocional, por sua vez, refere-se ao modo como as pessoas se sentem em relação a elas mesmas, com os relacionamentos que têm. Tanto o isolamento social quanto o emocional pode fazer parte da experiência de solidão.
O ser humano não vive sozinho, vive em grupo, em interação com outras pessoas de seu círculo familiar e de amigos, mas toda condição de vida oferece situações para que as pessoas experimentem a solidão em algum momento ao longo da vida. Resta saber se essa é uma condição que ocorre com mais frequência na velhice ou não. E a solidão entre os jovens, seria diferente da solidão experenciada pelos idosos?
Estudiosos têm se preocupado em estudar a solidão na velhice, por que as condições da vida moderna favorecem seu aparecimento. Ficar sozinho ou viver sozinho não significa sentir solidão, muitas pessoas podem utilizar recursos sociais, mantendo autonomia e independência e uma rede satisfatória de amigos e se envolver em atividades produtivas e de lazer.
No âmbito filosófico, a solidão existencial reflete a busca por si mesmo, são momentos de reflexão e introspecção que muitas pessoas têm o prazer de vivenciar. É um exercício de autoconsciência emocional, e refletir sobre a própria solidão e sobre as próprias emoções é buscar as origens da solidão e controlar as emoções numa perspectiva equilibrada da vida e de experiências. É a chamada de solidão positiva, que muitas vezes dá vazão à criatividade e a temperança. Está relacionada também com o estado de ânimo.
A pesquisadora e médica Liz Miller (2011) sugere que os estados de ânimo afetam o que escolhemos fazer, o que sentimos, como pensamos, como nos comportamos e como nos comunicamos. Já a solidão crônica é de origem patológica, que pode levar à depressão, à apatia, ao distresse (estresse excessivo), ao isolamento social e outros transtornos psicológicos.
A solidão é um tema muito comentado e explorado também na literatura, nos romances, nas músicas, no cinema e na filosofia.
Descrever a solidão e os sentimentos experimentados pelas pessoas de várias idades fez com que estudiosos também se interessasse pelo assunto. Para muitos pesquisadores, é tema bastante complexo e cheio de estigmas e com conotação negativa na velhice. É muito comum as pessoas relacionarem velhice com solidão, como se o processo de envelhecer, se aposentar e o fenômeno da viuvez fossem necessariamente levar à pessoa a uma vida solitária e triste.
Segundo pesquisas gerontológicas, a solidão não é permanente na vida do idoso, o sofrimento pode ser momentâneo e a maioria das pessoas busca resiliência para superar frustrações, estresse, estados de ânimos, para lidar com perdas e conseguem reorganizarem suas vidas. Mesmo as pessoas vivendo sozinhas, elas não deixam de ter suas redes de relações sociais, familiares e ter o seu comboio social. De modo geral, os idosos buscam uma vida satisfatória, com bem-estar e qualidade de vida; ressignificam seus papéis sociais e buscam um propósito de vida.
Estudo realizado com 20 mulheres brasileiras entre 61 e 84 anos, que moravam sozinhas há 10 anos, investigou a experiência de se viver só. Elas responderam que viver só foi uma decisão pessoal e que não sentiam solidão ou desamparo. Elas disseram que conseguiam equilibrar seus sentimentos e emoções. Relataram satisfação na vida e se dedicavam ao amadurecimento espiritual, às atividades de lazer, sociais e culturais. Apenas três relataram sentir solidão emocional, mas se sentiam também satisfeitas com a vida (CAPITANINI e NERI, 2004).
As atividades sociais servem como indicador de envolvimento social. Atividades também voluntárias, filantrópicas, engajamento em causas assistenciais atuam como fatores de proteção da solidão emocional. É importante que a pessoa saia do isolamento e não dei deixe a solidão consumir sua resistência. Os relacionamentos sociais são importantes para o bem-estar físico e mental na velhice. Amigos, parentes, vizinhos tem um papel muito significativo na vida de todos. A vida é para ser usufruída e não deixar ela te usufruir. Ame seu destino, não vamos repetir a mesma vida eternamente. Não dá para querer a mesma vida sempre. Não deixe nada por viver.
O poeta e compositor Vinicius de Moraes relata em seus versos “A maior solidão é a do ser que não ama. A maior solidão é a dor do ser que se ausenta, que se defende, que se fecha, que se recusa a participar da vida humana”.
A maior solidão é a do homem encerrado em si mesmo, no absoluto de si mesmo, o que não dá a quem pede o que ele pode dar de amor, de amizade, de socorro. E principalmente, gostar de si mesmo, cuidar da autoestima e ter autoconfiança.