por Nicole Witek
David Lynch: há 37 anos, medito duas vezes por dia Traduzo aqui do francês para o português a entrevista que o cineasta americano David Lynch – que estava em Paris para a gravação de um filme publicitário – concedeu a David Servan-Schreiber, neuropsiquiatra, fundador e diretor do centro de medicina integrativa na Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, e autor do livro “Curar” e de dois outros relacionados à cura do câncer.
A entrevista foi realizada em abril para a revista francesa *Psychologies (junho 2010).
David Servan-Schreiber – De onde vem seu interesse para a meditação?
David Lynch – Dos anos 1960. Na época, eu pensava que a meditação era uma moda estúpida e uma perda de tempo. Meu único interesse era na realização de filmes. Porém, ouvi uma frase que chamou minha atenção: “a verdadeira felicidade não está longe, nem fora da gente. A verdadeira felicidade está dentro”. Essa frase ecoava em mim, soava-me justo. Mas, infelizmente, ninguém podia dizer-me onde ficava esse “dentro”, nem como chegar lá! Sentia-me frustrado. Enquanto estava trabalhando no meu primeiro filme Labyrinth Man, recebi um telefonema da minha irmã que falava que havia começado a prática da meditação transcendental. Percebi em sua voz mais felicidade, mais confiança. Isso me tocou. Estávamos em 1973 e desde essa data, há 37 anos, medito duas vezes por dia.
David Servan-Schreiber – Como é essa forma particular de meditação?
David Lynch – Trata-se de uma variação antiga da meditação que foi atualizada por **Maharishi Mahesh Yogi. Parece como uma chave que abre a porta da transcendência, o nível mais profundo da vida. Cada um pode experimentar esse estado e sentir dentro de si um oceano de alegria pura, de consciência, de inteligência e de criatividade infinita.
David Servan-Schreiber – Como se atinge esse estado de plenitude?
David Lynch – É bem simples e sem esforço. Um mantra como um som, uma vibração, um pensamento, ajuda-lhe a direcionar sua consciência interior, a mergulhar naturalmente através de níveis do espírito cada vez mais sutis. Chegando à fronteira com o intelecto, você experimenta a consciência sem limites, vai em direção de uma maior alegria, charme e beleza.
David Servan-Schreiber – Como isso modificou seu modo de viver?
David Lynch – Existia em mim muita raiva, resmungava demais, sofria de ansiedade e descontava tudo isso em minha esposa. Duas semanas após o início da prática de meditação, minha esposa perguntou: “Para onde foi sua raiva?”. Essa raiva tinha simplesmente desaparecido. Meditar alimenta também os relacionamentos com os outros, ensina o perdão e a empatia. As pessoas parecem mais belas, mais simpáticas. Até as que ainda não conhecemos, quando em contato com elas, temos a impressão que já as conhecemos! É como se estivéssemos todos interligados.
David Servan-Schreiber – Você acha que essa meditação pode ser usada por seitas?
David Lynch – Essa meditação é um presente, uma vez dada, ela lhe pertence. Não se trata de uma seita, culto nem religião. É apenas uma técnica que você utiliza ou não: se você escolher usufruir dela, enriquecerá sua vida.
* www.psychologies.com – todas as crônicas de David Servan-Schreiber
** 1917-2008, sábio indiano que, entre outros fatos, foi o “guru”, o guia, o professor dos Beattles
www.mt-maharishi.com