por Patrícia Gebrim
Quando me sento em frente a este teclado sempre me pergunto o que poderia escrever que fosse mais significativo para você, que me lê do outro lado desta telinha que brilha à minha frente. No fundo sei que não se pode ensinar nada a ninguém, tampouco apontar direções. Cada um há que descobrir seus próprios passos. O que podemos fazer é compartilhar nossa própria caminhada, e contar que isso sirva, não como um guia, mas como uma inspiração para que cada um encontre seu próprio caminho.
Falando em liberdade… Como tantos de nós, tive a liberdade tolhida logo nos primeiros anos de minha vida. Fui moldada para ser uma “boa menina”. Por “boa menina”, entenda-se: obediente, não questionadora, cumpridora de ordens, uma pessoa que pensa nos outros e não em si mesma, e por aí vai… (Sei que vão compreender).
Segui o “script” por um bom tempo. Me submeti. Era uma pessoa afável, doce, suave e agradável, ao menos era o que me diziam. Fazia tudo “certo”, ao menos tentava, baseando minhas escolhas no que acreditava que era esperado de mim. Fui uma boa aluna, nunca “dei trabalho”, me esforçava para ser o melhor que podia e para não desapontar ninguém. No entanto, dentro de mim sentia um peso constante. O peso da autoexigência, o peso da falta de liberdade, o extremo cansaço de ter que agradar as pessoas e cumprir com as expectativas que o mundo lançava sobre mim.
Se você parar para pensar, vai perceber que o mundo sempre espera algo de nós, e nos julga de acordo com nossa capacidade de corresponder às suas expectativas. Família, amigos, relacionamentos profissionais e afetivos, as instituições ainda não estão prontas a aceitar nossa individualidade, a respeitar nossa liberdade. Ainda vivemos numa espécie de cegueira inconsciente onde uns se acreditam no direito de determinar a forma como os outros deveriam ser.
O fato é que, em determinado momento da minha vida, como se um fio esticado ao máximo tivesse se rompido, eu compreendi que precisava correr o risco de existir ou com certeza adoeceria, ou me perderia definitivamente de mim mesma. Precisava correr o risco de desapontar o mundo e ser exatamente como sou. Não é fácil se tomar uma decisão dessas. Não existe apoio ao nosso redor, quando começamos a existir. Pelo contrário, existe uma imensa pressão no sentido de nos levar de volta ao lugar onde antes estávamos. Corre-se o risco de ser julgado, excluído de vidas, círculos e instituições.
Tudo isso é preciso que saibamos, e que se sejamos capazes de suportar, se quisermos de fato existir. Existir como o ser que somos, e não como robôs, condicionados pelas programações alheias.
Para ser verdadeiramente livre, é preciso que se tenha feito as pazes com a própria solitude. Ouça: se você ainda não pode ficar em paz consigo mesmo, se não sabe cultivar esse estado de estar só, continuará sendo um escravo, em troca de migalhas de aceitação.
Optei por me libertar. Me peguei no colo com amor, abracei cada pedacinho de mim. Os feios, os bonitos, aqueles que eu ainda não conhecia. Acolhi a mim mesma com o amor mais lindo que fui capaz, e me banquei no mundo. Fiz isso sozinha. Passei a escolher minhas experiências com base na minha verdade, respeitando a mim mesma, compreendendo que muitos não gostariam de minhas escolhas.
Foi difícil. Mas algumas coisas interessantes aconteceram.
Algumas pessoas se afastaram de mim, é verdade. Mas outras puderam chegar, e com elas chegou uma luz de amor e aceitação que eu nunca havia visto antes.
A sensação de cansaço se foi, e comecei a acordar todos os dias com uma alegria, energia e vitalidade que eu nunca havia experimentado.
Uma porta de criatividade se escancarou e passei a me sentir guiada por algo lindo e maior, que passou a abrir os mais belos caminhos em minha vida.
Cada momento tornou-se mágico e passei a me sentir em contato direto com tudo o que vive. Passei a me sentir parte da vida, das montanhas, do céu, das florestas, da humanidade, de uma forma que nunca experienciara antes.
E o mais belo… Meu coração se abriu. Algo tão simples… Passei a aceitar as pessoas como são, sem julgamentos, permitindo-lhes “ser”, seja lá o que forem. Muitas coisas que antes me incomodavam nos outros, deixaram de me perturbar. Como se, ao aceitar a mim mesma, tivesse aprendido a aceitar também todas as outras pessoas. Tivesse compreendido a afirmação de que “somos todos um”.
Talvez isso seja amor, e com ele veio a mim uma imensa paz. Claro que há altos e baixos, momentos de maior e menor conexão, mas sinto-me cada vez mais sendo capaz de sustentar esse nível de vibração.
Essas têm sido minhas descobertas neste momento de minha vida.
As compartilho com carinho e com a confiança de que estamos todos nesse mesmo caminho, em direção a um estado no qual todos nós fluiremos pela vida em liberdade, amando e de fato respeitando uns aos outros.