Samanta Obadia
Viajamos em nosso pensamento quase todo o tempo. Saímos do presente, revisitamos o passado e sonhamos com o futuro. Sair do lugar é sempre bom, mesmo que haja percalços no caminho.
Nossa mente não se contenta com o lugar que ocupa. Ela insiste em circular.
Também por isso, devemos nos deslocar de nossos hábitos. Andar por outras calçadas, observar outras pessoas, ouvir outros cantos. Ampliar nossa visão interna e externa.
As pessoas entediam-se de suas ocupações, esfriam seus relacionamentos, perdem a excitação pela vida. Porque se acostumam a ver do mesmo lugar. Não trocam de lado, não invertem os papéis, não se imaginam no espaço do outro.
Quando menina, eu fechava meus olhos no escuro para experimentar o lugar do cego, no desafio de caminhar sem ver. Ainda hoje, ao percorrer as ruas, observo as diferentes janelas e me imagino a partir daquela moldura, e penso como seria minha vida se eu vivesse ali.
Na escuta do outro, exercito minha capacidade de observar além do que me é dito. Exercito minha intuição para perceber a energia que o outro vive em sua experiência tão única.
Para viver é preciso não ter medo de se reinventar a cada instante, de maneira que o outro, mesmo igual, se surpreenda contigo e seja impelido a andar, a correr, a voar. O importante é sair do lugar. Pois, como disse Ugo Ojetti, escritor italiano, “o tédio é uma invenção dos preguiçosos”.