por Emilce Shrividya Starling
Você pode se perguntar : “Por que a raiva de si mesmo e o sentimento de autodepreciação se enraízam tão fortemente em uma pessoa?”
Podem existir vários fatores, mas a principal razão é a falta de compreensão espiritual. Quando a pessoa recusa reconhecer a presença de Deus dentro dela, e dentro de todos os outros, ela fica aberta a todas as armadilhas do ego. Ela se torna prisioneira da mente negativa.
Além de negar sua natureza divina, ela se acha pecadora, se acha má e se identifica com cada negatividade que surge em sua mente. Ao se diminuir, ela acha que ninguém pode gostar dela. Vai se tornando amarga, triste e guardando muita raiva acumulada.
Ela se sente rejeitada pelos pais, pela família, pelos amigos. Sente que ninguém a aceita. Porém, ela não percebe que ela mesma se rejeita. Ela não gosta de si mesma e projeta isso para os outros. Não percebe suas qualidades, não se valoriza, não se acha merecedora de ser feliz.
Certo dia, uma aluna veio falar comigo: “Estou com um problema .Suas aulas de yoga estão me fazendo feliz. Sem motivo algum,sinto ondas de alegria me envolvendo durante meus afazeres. Mas, como posso me sentir feliz se tantas pessoas estão sofrendo?”
Então, lhe expliquei que essa alegria vem do Ser interior, fonte de toda paz e luz. E, que somos abençoadas de sentir esses sentimentos tão puros, somos abençoadas de nos conectar, através das práticas do yoga, com a divindade dentro de nós. Merecemos sentir essa felicidade e, somente assim, poderemos expandi-la aos outros e ajudá-los.
Em outra ocasião, outra aluna pediu para conversar comigo, antes da aula, sobre algo que eu tinha dito que a estava preocupando muito. Chegou bem séria, e me disse:
“Você falou que somos dignos e merecemos o melhor. Mas, eu sou pecadora. Sou cheia de defeitos. Sou má, como posso afirmar que sou digna?”
Com suavidade e muito amor, eu expliquei que ela é filha de Deus, que a divindade habita dentro dela. E, que ela estava se identificando erroneamente com o ego, achando que era o corpo e a mente transitórios. Eu lhe disse que ela precisava entender que além do ego, existe a Consciência do Ser interior, que é o poder divino por trás de todos os nossos pensamentos, sentimentos e ações.
A princípio, ela me ouvia com ar de desconfiança, mas na medida em que fui falando, seus olhos começaram a brilhar, um sorriso tímido começou a aparecer. Depois desse dia, o sorriso se abriu em seu rosto, tornando-a mais bonita e contente. Começou a progredir mais nas aulas, tanto na prática das posturas do yoga, como na sua atitude de entrega, conseguindo deslizar para dentro e conectar-se com o espaço de paz em seu próprio interior.
Alguns dizem:
“Não sou bom o suficiente em coisa alguma; por isso não gosto de mim mesmo.”
“ Minha mãe e meu pai me depreciam; portanto eu não gosto de mim”.
“Sou culpado de ter acontecido algo tão ruim para aquela pessoa, portanto não mereço ser feliz.”
“ Faço tudo errado, sou um desastrado, por isso eu me detesto. “
“ Não sou capaz de amar como acho que deveria; portanto não gosto de mim.”
“Não gosto de mim porque sou baixa e mais gorda que minhas amigas. “
“ Eu não tenho o corpo das artistas por isso ninguém pode gostar de mim,”
“Eu não sou feliz como as outras pessoas.” “
Eu só gostaria de mim se fosse mais alta, se tivesse o cabelo de outra maneira, se ….se …”
E, assim as pessoas ficam se comparando umas com as outras. Não percebem nem sua beleza externa, nem sua beleza interior. Ficam presas em padrões e não entendem que cada um tem sua maneira única de ser e de se manifestar.
A rejeição a si mesmo e autodepreciação se alimentam de pensamentos e sentimentos como esses. Se as pessoas pensarem assim, sempre se comparando com os outros, não se aceitando como são, criando metas pessoais que não podem ser cumpridas, estão se preparando para o fracasso e a infelicidade.
Entretanto, se elas usassem o discernimento e examinassem com sabedoria e aceitação seus defeitos e fraquezas, veriam que muitos deles nem são verdadeiros. São apenas pensamentos e sentimentos de carência e não têm força alguma. Apenas parecem ter força, parecem ser verdadeiros, porque permitiram ser manipuladas pelo ego negativo. Mas elas não precisam ficar nesse espaço de carência.
Se você sente alguns desses sentimentos negativos em relação a você mesmo, olhe para seu interior e perceba como você tem se subestimado. A rejeição a si mesmo não é sua única escolha. Descubra seus talentos, seu valor. Goste de você mesmo, com seus defeitos e qualidades.
Entenda que você tem o poder do Ser interior para fazer as mudanças que forem verdadeiramente necessárias. Você pode conquistar suas metas e aspirações. Pode quem pensa que pode.
Pare de sabotar seu potencial. Pare de permitir que a mente negativa faça sabotagem com você. Lembre-se: você tem escolhas. Pode escolher confiar em você. Pode escolher descobrir suas habilidades. Escolha gostar de você de maneira incondicional.
A própria natureza, tão rica e tão bela em sua diversidade, nos mostra isso. Um rosa é diferente até mesmo das outras rosas, tem seus espinhos e perfume, e mesmo assim são tão belas. Da mesma maneira, cada um tem sua nota musical, diferente e única, para fazer ressoar nessa orquestra universal.
Seja guerreiro como nos ensina o yoga. Lute incessantemente contra o jugo do ego negativo. Tenha aspirações elevadas e nobres. Lute contra a raiva de si mesmo. Lute contra a não aceitação de si mesmo. Lute contra o ressentimento e o sentimento de culpa. Saia do sofrimento da mente egoísta.
Compreenda que esses sentimentos negativos apenas aproximam mais você de sua própria tristeza, depressão, desânimo.
Qual é o antídoto para o veneno da autodepreciação, da autorrejeição?
O antídoto capaz de libertar você é o contentamento interior que vem da serenidade das práticas do yoga, do amor a Deus, do serviço altruístico, das boas ações feitas sem querer recompensas, da alegria de ser útil, do entusiasmo que vem do Ser interior.
Faça esforços para liberar o entusiasmo dentro de si, pratique suas ações com um coração contente e agradecido. Sinta-se renovado pelo contentamento no seu dia a dia. Abra-se para admirar as diferenças e a beleza da natureza. Em vez de se focar apenas em seus defeitos, descubra suas qualidades.
Baba Muktananda, um grande Mestre do yoga disse:
“Você não deve se diminuir olhando sempre suas faltas. Conheça seu próprio valor.” “Você deve livrar sua mente de sentimentos de culpa; isso é só uma fase da mente. Em vez disso, você deveria cantar o Nome divino.”
“Você não deveria identificar-se com as incontáveis fantasias e pensamentos que lhe surgem na mente a todo momento. Em vez disso, deveria identificar-se com a fonte de onde todas essas fantasias surgem. Essa fonte é o Ser interior, e o Ser interior habita em você. “
Assim, mesmo que esteja sofrendo, mesmo que esteja com problemas, ofereça um sorriso aos outros. Não importa o que esteja passando, medite, cante o Nome de Deus, busque refúgio no Ser interior, repita mentalmente o mantra Om Namah Shivaya, (Eu honro a divindade que habita em mim), várias vezes durante seu dia.
Não espere que sua mente fique feliz para ajudar aos outros. Não espere que tudo esteja bem para fazer algo de bom. Faça algo de bom agora. Seja mais contente agora. Fique em paz! Namaste! Deus em mim saúda Deus em você!