por Emilce Shrividya Starling
Muitas pessoas me escrevem contando sobre o sofrimento em seus relacionamentos com seus cônjuges, namorados (as) ou com parentes.
Sei que, com alguns conselhos, não posso ajudar a resolver conflitos ou desarmonias entre casais ou parentes, mas gostaria que refletissem sobre um assunto muito transformador e profundo que pode ajudar no autoconhecimento e a melhorar os relacionamentos.
O livro ‘Codependência nunca mais’, de Melody B. Ed. Record, explica parte do trabalho e pesquisa de Stephen Karpman: o Triângulo de Dramas de Karpman e os correspondentes papéis que as pessoas assumem:
salvador, perseguidor e vítima.
Ao compreender isso, a pessoa pode entender melhor sua atitude,seus comportamentos, a reação dos outros, principalmente dos familiares e amigos. Compreenderá o que permitiu que fizessem com ela e, como tentou controlar os outros, tentando “ajudá-los”.
Vamos falar um pouco de cada comportamento desse Triângulo e gostaria que você fosse fazendo uma autoanálise para ver se você se enquadra em alguns desses papéis em seus relacionamentos. Procurando lembrar-se com quem você agiu assim, e em quantas vezes.
A autoinvestigação é uma boa maneira de melhorar nossos relacionamentos, de desenvolver o autoconhecimento e autoestima.
Vamos então analisar esse Triângulo de Dramas de Karpman: salvador, perseguidor e vítima.
O salvador:
É aquele que ‘salva’ ou ‘toma conta’ do outro, tentando tirar as responsabilidades dele. Acha que o outro é incapaz e pensa que precisa poupá-lo das responsabilidades, e assim, “toma conta” e controla as iniciativas e ações dele.
Salvar, tomar conta são sinônimos. Fazemos isto sempre que assumimos a responsabilidade por outra pessoa – pelos seus comportamentos, pensamentos, decisões, emoções, problemas, crescimento, destino.
Ao assumir essa atitude de ‘tomar conta’, geralmente a pessoas faz o que não quer e, depois fica com raiva do outro porque se sente usada, se sente vítima, porque o outro não lhe agradeceu, ou nem deu valor ao que fez. Esse é o comportamento que algumas pessoas vivem.
Identifique agora se você faz algumas dessas ações que constituem ‘tomar conta’ ou controlar os outros:
• Fazer o que não quer fazer.
• Falar sim quando quer dizer não.
• Fazer coisas para os outros que eles são capazes de fazer e deveriam estar fazendo por eles mesmos.
• Ajudar os outros sem ter sido solicitado.
• Fazer além do que nos foi solicitado.
• Querer consertar os sentimentos dos outros.
• Pensar e falar pelas pessoas.
• Sofrer as consequências pelos outros.
• Resolver os problemas das outras pessoas.
• Não pedir o que precisamos ou desejamos.
• Nas atividades em conjunto, esforçar-se mais que as outras pessoas.
Por que alguém que assume o papel de ‘salvador’ age assim?
Porque ele não está consciente do que faz. Acredita que, de fato, está ‘ajudando’, que tem de ‘salvar’ e assumir a responsabilidade dos outros. Acredita que a pessoa que precisa ‘salvar’ não é responsável por si mesma. Mas, a não ser que tenha deficiência cerebral, uma séria deficiência física ou seja uma criança, a pessoa pode ser responsável por si mesma.
Temos que distinguir bem as ações de bondade, de altruísmo, de compaixão, de verdadeira ajuda. São virtudes maravilhosas que nos elevam como seres humanos e que todos nós devemos desenvolver.
Triangulo de dramas:
Depois que alguém ‘toma conta’, inevitavelmente, passa para a outra parte do triângulo: Torna-se o perseguidor. Fica magoado e ressentido com aquela pessoa que “ajudou.”. Fez algo que não queria e nem era sua responsabilidade. Ignorou sua própria vontade e necessidades e depois, ficou com raiva de si mesmo e dela.
A pessoa que foi ajudada, que seria a vítima, não agradece o que foi feito e nem reconhece o esforço que foi feito para ela. Não aceita os conselhos que o outro fala com tanta boa vontade. Nem se comporta como deveria. Desse modo, surgem as brigas, o mau-humor e, muitas vezes, a irritação e o ressentimento vêm com força total.
Nesses momentos de discussões, essa pessoa que permitiu que o outro ‘tomasse conta ‘ dela, volta-se contra ele. E, ocupa o papel de perseguidor. Reage à raiva, porque se sente incapaz e, porque o outro mostrou sua incompetência.
Desse modo, nesses relacionamentos os papéis mudam. Quem estava no papel de salvador, passa para o papel de vítima. Daí surgem os sentimentos de frustração, mágoa, tristeza. E, a pessoa se pergunta: “Por que isto sempre acontece comigo?” “Tento ajudar a todos, sou tão boa, mas por que não me tratam bem?”
Observe que, muitas vezes, você tem esses comportamentos com certas pessoas, porque elas têm o mesmo padrão mental desse Triângulo. Quando você começar a perceber isso, você não entra mais nesse joguinho de egos. Consegue se relacionar muito melhor com elas, ajudando-as realmente, deixando-as agir por si mesmas.
Essas mudanças de papéis, ora ser o salvador, ora o perseguidor, ora a vítima é um processo bem visível que nós precisamos começar a compreender para sermos mais livres.
Quantas vezes dizemos sim a alguém quando gostaríamos de dizer não. Com medo de magoar não sabemos dizer que não estamos dispostos ou que temos algo mais importante para fazer.
Muitas amizades e relacionamentos se acabam, porque o amigo fica tentando agradar sempre. Não preserva mais sua individualidade, seus gostos e aversões. Não faz mais o que quer, não vai mais onde gostaria de ir. Não pode mais sair sem avisar, pois está preso em um relacionamento cada vez mais controlador. Está sempre pronto para agradar, com medo de magoar e de perder a amizade.
Isso dura algum tempo, depois você fica sufocado. Você sente raiva. Daí surgem os conflitos e, muitas vezes se tornam inimigos.
Quando duas pessoas co-dependentes têm um relacionamento vão tentar se agradar o tempo todo. Esse relacionamento não é harmonioso, é cheio de discussões, cobranças, culpas, ressentimentos. É baseado no ego, e não no amor verdadeiro.
‘Tomar conta’ dos outros nos traz muitos problemas. Ao fazer coisas que não queremos fazer, colocamos de lado nossos desejos, necessidades e sentimentos. Nós nos ignoramos. Não assumimos a responsabilidade por nós mesmos.
É comum ver aquela esposa, mãe ou avó, sentindo-se deprimida, triste, vazia, sem entusiasmo pela vida. Geralmente, se entope de remédios para dormir, para ficar acordada, para suportar viver.
Sente-se vítima, pois doou sua vida para o marido, para os filhos, netos, sobrinhos, e ninguém reconhece seus sacrifícios, sua doação. Esqueceu-se de si mesma. Nunca teve tempo para si. Anulou-se totalmente para ajudá-los, só que não ajudou a si mesma. Não foi gentil consigo mesma. Não cuidou de si, nem se agradou. Tornou-se amarga.
A maioria dessas mulheres tem baixa autoestima. Não se sentem merecedoras de amor, e assim se conformam com o fato de que os outros necessitem delas. Como não se sentem bem sobre si mesmas, são compelidas a fazer algo para provar que são boas.
Existe também aquela pessoa que não gosta de receber, sente-se mais segura quando dá, pois se sente culpada de receber ajuda; não se acha merecedora de receber algo de alguém.
É importante entender que, se alguém dá mais do que recebe, fica deprimido, sente-se negligenciado, achando que não é amado ou que ninguém repara em suas necessidades.
É possível se identificar uma pessoa co-dependente com apenas alguns minutos de conversa. Ela lhe oferece conselhos sem você pedir. Já inicia um relacionamento assumindo responsabilidade pelo outro e querendo “ajudar”. Às vezes, sente-se rejeitada quando o outro não quer ser “ajudado.”
O pior papel desse triângulo é se sentir vítima. Acha que precisa de alguém para tomar conta de si mesma porque se sente desamparada e, não acredita em suas próprias potencialidades e capacidades.
Muitos co-dependentes uns dos outros receberam uma educação rígida e acreditaram no que lhe impuseram. Aprenderam que nunca poderiam dizer não, que era falta de educação expressar suas necessidades ou desejos, que deveriam ser sempre ‘bonzinhos’. Foram ensinados a ajudar os outros, mas não foram ensinados a se ajudarem, a ser responsáveis por eles mesmos.
Controlar os outros também não é um relacionamento saudável. Você acaba sendo controlado também, e essa atitude gera raiva, insatisfação, confusão e frustração. As pessoas “ajudadas” se tornam vítimas desamparadas, cheias de raiva e os ‘tomadores de conta’ se tornam vítimas delas.
Você pode ajudar, mas não resolva o problema do outro. Permita que ele desenvolva maturidade, assuma as responsabilidades de seus atos, crescendo e evoluindo espiritualmente. Deixe que ele aprenda com os próprios erros, desenvolvendo discernimento e sabedoria.
É bem diferente ser útil, gentil, evitar prejudicar os outros, sentir compaixão e generosidade. Nascemos para cultivar as boas qualidades que precisam ser lapidadas dentro de nós.
É preciso entender o equilíbrio em dar e receber. Você não pode dar demasiado sem receber, porque além de haver um desequilíbrio, você passa a exigir gratidão, carinho, atenção que as pessoas muitas vezes não têm para lhe dar.
Devemos compartilhar nosso tempo, habilidades, ajuda financeira, nossa boa vontade com equilíbrio. Devemos fazer isto com autoestima, altruísmo e bondade. Podemos renunciar a muitas coisas para fazer o outro feliz, mas não podemos renunciar ao que for essencial para nós. Fique em paz! Namaste! Deus em mim saúda Deus em você.