por Patricia Gebrim
Pode ser coincidência, mas tenho percebido nos últimos tempos, um aumento no número de casos em que uma pessoa que seguia seu caminho com aparente controle, de repente perde o rumo.
Seja por uma doença física ou psíquica que parece surgir do nada, seja por um cansaço que parece insuperável ou por uma vontade de fugir do mundo; de um momento para outro a vida balança e sai do eixo, como acontece com o pião quando começa a cair.
Surgem então sintomas que assustam não só a quem vê a própria vida ser virada de pernas para o ar, bem como a todos que convivem com a pessoa afetada por esse tsunami que brota de suas próprias profundezas. Sintomas físicos como dores de cabeça, dores nas costas, perda de equilíbrio, tonturas, palpitações. Sintomas psíquicos como uma tristeza avassaladora, ou a sensação de que estamos tão exaustos que não conseguiremos dar mais um passo sequer.
Irritabilidade, melancolia, pensamentos obsessivos e repetitivos que nos fazem querer "apagar" a cabeça para que, por um instante, possamos parar de pensar.
E segue-se a interminável busca por ajuda. Médicos, hospitais, psicólogos, psiquiatras. Exploramos todo o arsenal oferecido de ajudas e terapias, e ainda assim "a coisa" continua lá, como se uma rede tivesse sido jogada sobre a pessoa, aprisionando toda a sua alegria de viver, amortecendo seus sentidos, roubando sua energia e sua vida. Diagnósticos se seguem, e eu poderia citar uma infinidade deles. Síndrome do pânico (como é popularmente conhecido esse transtorno de ansiedade), depressão, transtorno bipolar, e assim por diante. Nomear pode ser importante, uma vez que um tratamento específico precisa ser oferecido. Mas não é essa abordagem que eu desejo dar a este artigo. Nada de aulas ou dissertações sobre psicopatologias e seus tratamentos. O que eu gostaria de questionar é:
– Por que isso vem acontecendo? O que está errado conosco? Por que estamos adoecendo?
Vivemos em um meio enlouquecedor? Talvez… Mas então estamos fadados a, agora ou daqui a pouco, adoecer? Então perderemos nossa alegria numa avalanche da qual não poderemos escapar? Recuso-me a acreditar que seja assim, a viver como se não tivesse escolha. Eu acredito que temos escolha.
Eu e você!
Não importa o quão doente esteja tudo ao nosso redor, temos escolha!
Outro dia eu estava lendo sobre pessoas que estiveram em um campo de concentração. Não posso imaginar meio mais agressivo do que esse. Muitos sucumbiam, perdiam-se de si mesmos. Mas outros, a despeito da aspereza mortal desse ambiente, sobreviviam dignamente. A dignidade de que falo vinha de dentro, uma vez que nada fora delas parecia fazer sentido algum.
Aquilo que pode nos ajudar a manter a sanidade está, agora mesmo, adormecido em nosso íntimo. Bem guardado no lugar mais sagrado que carregamos em nosso peito, existe uma força tão poderosa que não pode ser dissolvida ou corrompida, nem mesmo pelos desafios desse mundo insano, monstro devorador de almas. Claro que estou aqui falando de uma dimensão que está além dessa que conhecemos no dia a dia. Estou falando de uma dimensão espiritual, tantas vezes esquecida ou renegada pela ciência, sem a qual estamos fadados a ser engolidos por essa máquina destruidora de gente. Salvam-se aqueles que se descobrem detentores de asas, que conseguem elevar-se acima das questões mundanas e se conectar com um sentido maior que permeia tudo o que existe. Isso foi muito bem explicado por Viktor Frankl, psicólogo e psiquiatra austríaco, ele mesmo prisioneiro de um campo de concentração e criador da *logoterapia:
Quem tem um 'porquê' enfrenta qualquer 'como'.
Viktor Frankl
Assim, não importa o que esteja acontecendo em sua vida, não importa o tamanho de seus desafios. Busque um sentido maior. Eleve seu olhar, eleve seu coração. Procure se conectar com essa força que sustenta as estrelas nesse céu improvável. Procure conectar-se com o milagre da vida que se renova a cada respiração. Lembre-se de que existe algo que a ciência não explica, mas que seu coração pode sentir. Abra-se. Sinta. Preste atenção. Essa energia está agora mesmo ao seu redor, permeando tudo o que existe.
Não importa a sua crença ou religião, busque essa profundidade, porque só lá, no azul da sua alma, você saberá que, a despeito de todo o medo e de toda a dor, sua vida merece ser vivida.
Os deixo agora com Lenini.: "A vida é tão rara… tão rara…"
* Logoterapia: É um sistema teórico e prático de psicologia, criado pelo médico vienense Viktor Emil Frankl (1905-1997). Segundo Allport, "trata-se do movimento mais importante de nossos dias". A Logoterapia – Análise Existencial é conhecida como a terceira Escola Vienense de Psicoterapia, sendo a Psicanálise Freudiana, a primeira, e a Psicologia Individual de Adler, a segunda. É uma linha existencial- humanística e busca, a partir de sua antropologia, superar o psicologismo reducionista de outras linhas. "Para a Logoterapia, a busca do sentido na vida da pessoa é a principal força motivadora no ser humano.