por Danilo Baltieri
“Isso é normal ou devo procurar um profissional, pois fumei durante uns 7 anos.”
Resposta: Quando da parada ou redução do consumo de substâncias psicoativas, como é o caso de cocaína/crack, comumente ocorre a chamada síndrome de abstinência, caracterizada por sintomas físicos e psicológicos que afetam negativamente o usuário.
Didaticamente, a síndrome de abstinência pode ser classificada em aguda e protraída. A síndrome de abstinência protraída também é conhecida como crônica ou estendida. Na aguda, os sintomas surgem pouco tempo após a parada ou redução abrupta da substância psicoativa. Na protraída ou crônica, sintomas podem surgir semanas, meses ou mesmo anos após a parada do consumo da droga. Infelizmente, tais sintomas negativos podem impelir o usuário que está tentando manter-se abstinente a retornar ao consumo, como uma forma de abolir os sintomas.
No caso da síndrome de abstinência protraída, o profissional de saúde deve envidar esforços para investigar se os sintomas são realmente provenientes da parada do consumo da droga ou de uma outra condição médica coexistente.
Na verdade, o consumo repetitivo de substâncias psicoativas provoca modificações celulares, moleculares e neuroquímicas no cérebro, as quais afetam o comportamento e as emoções e podem persistir por tempo variável. Obviamente, os sintomas da síndrome de abstinência protraída não são idênticos para todas as substâncias, uma vez que cada substância psicoativa tem diferentes ações sobre o cérebro. No entanto, os sintomas têm significativa similaridade entre as diferentes drogas.
Os sintomas frequentemente atribuídos às síndromes de abstinência protraídas são anedonia (falta do prazer com as atividades diárias), fadiga, dificuldade para concentração e para tomada de decisões, prejuízo do sono, sintomas ansiosos, fissura pela droga e pobre controle impulsivo.
Também, é importante notar que nem todas as pessoas com problemas com o uso de substâncias psicoativas manifestam sintomas de síndrome de abstinência protraída ou crônica. Outrossim, naqueles onde tais sintomas aparecem, a intensidade é altamente variável.
Para indivíduos com esses sintomas, os profissionais de saúde devem:
a) Auxiliar os pacientes a desenvolver atitudes realistas diante do problema. Isso significa enfatizar que a recuperação é um processo longo; persistir no tratamento é essencial. Também, os profissionais de saúde devem ajudar os pacientes a identificar os sintomas e a estabelecer as melhores formas para manejá-los;
b) Avaliar e reavaliar criteriosamente a presença de outras doenças médicas. Isso é essencial. O portador de problemas atuais ou antigos com o uso de substâncias psicoativas pode apresentar uma miríade de problemas consequentes, desencadeantes ou mesmo independentes do uso das substâncias. Logo, a busca por auxílio médico é mandatória;
c) Aconselhar o portador de problemas com o uso de substâncias psicoativas a manter a participação em grupos de mútua ajuda;
d) Aconselhar o portador a ser ativo, evitando gatilhos que facilitem a recaída, desenvolvendo atividades para o alívio do estresse, desenvolvendo habilidades cognitivas para o manejo dos pensamentos negativos;
e) Prescrever medicações para aliviar os sintomas. Essa prescrição deve ser criteriosa e baseada em evidências científicas de efetividade.
Você está de parabéns por manter-se abstinente por 8 meses. Para continuar esse sucesso, você deve estar inserido em tratamento especializado. Seus sintomas de “batedeira” deverão ser adequadamente investigados para que um correto diagnóstico seja realizado.
Não perca tempo!