por Danilo Baltieri
"Por que todo alcoólatra diz que para de beber a hora que desejar e nunca larga a bebida? Vale a pena ficar falando no assunto bebida? Ou é melhor a gente evitar para não tentar a pessoa a beber?"
Resposta: A Síndrome de Dependência de Álcool é uma doença crônica que apresenta sinais e sintomas categorizados por manuais médicos de diagnóstico.
Todo paciente que apresenta consumo inadequado de bebidas alcóolicas deve ser avaliado por médico especialista objetivando a realização do diagnóstico e do tratamento.
Os sinais e sintomas desta síndrome são: consumo recorrente da substância, evidência de tolerância (ou seja, consumo de doses progressivamente maiores para se atingir os mesmos efeitos anteriores), sinais de síndrome de abstinência (sintomas físicos e /ou psicológicos advindos da parada ou redução abrupta do consumo da substância), prejuízos sociais, escolares, financeiros, legais decorrentes do consumo, insucesso nas tentativas para cessar o consumo da droga, grande tempo despendido para obter a droga ou mesmo para se recuperar dos efeitos da mesma, o consumo da substância continua a despeito dos prejuízos evidentes. Três destes sinais podem perfazer o diagnóstico clínico da dependência de álcool.
Ocorre que muitos dependentes de álcool negam a existência dessa doença, evitando, assim, uma tomada de decisão no sentido de procurar um tratamento especializado. Dessa forma, dizer “largo quando quiser”, não deixa de ser um comentário corriqueiro entre pessoas que apresentam problemas com a bebida, mas ainda não estão preparadas para assumir esse fato. Amigos e familiares devem demonstrar ao alcoolista os prejuízos decorrentes desse consumo e incentivar a procura por tratamento. Não é recomendável qualquer tipo de pacto de silêncio.
É recomendável que os familiares participem ativamente do tratamento médico e psicológico do dependente, a fim de obter ajuda para si mesmos e angariar recursos efetivos para lidar com a situação. Também, nas situações onde o portador não deseja procurar tratamento médico e psicológico, os familiares podem por si mesmos procurar ajuda especializada.
Muitos dependentes químicos demoram a perceber que precisam de ajuda.
Cinco estágios motivacionais para o tratamento
Cinco estágios têm sido classicamente identificados no processo de tomada de decisão e motivação para tratamento entre dependentes de substâncias: pré-contemplação, contemplação, preparação, ação e manutenção.
1º) Estágio de pré-contemplação
No estágio de pré-contemplação, não há intenção de mudar os comportamentos relacionados ao consumo da bebida e, geralmente, a existência de problemas é completamente negada. Aqui, a negação é uma das principais características. Os pré-contempladores dificilmente procuram ajuda para iniciar seu processo de mudança, e, quando o fazem, em geral são impelidos por motivos externos, como, por exemplo, encaminhamento pela família, empregadores ou poder judicial.
2º) Estágio de contemplação
No estágio de contemplação, a pessoa admite ter um problema e considera a possibilidade de mudança, mostrando preocupação e uma clara avaliação entre as vantagens e as desvantagens da mudança. Aqui, a ambivalência predomina. Frequentemente, dúvidas sobre a necessidade de mudança surgem.
3º) Estágio de preparação
O estágio da preparação é marcado pela melhor conscientização do problema e o indivíduo organiza planos para modificar seu comportamento. O dependente assume para si mesmo e para outros a necessidade de mudanças. Nessa etapa, não há, necessariamente, ações, visto que as pessoas no estágio de preparação ainda não resolveram a sua ambivalência quanto à tomada de decisões.
4º) Estágio de ação
No estágio de ação, a pessoa inicia explicitamente a modificação de seus comportamentos. A ação exige grande energia pessoal e as mudanças realizadas nesse estágio são muito mais perceptíveis.
5º) Estágio de manutenção
O estágio de manutenção é o grande desafio. O comportamento modificado precisa ser estabilizado. É necessário um esforço constante do indivíduo para consolidar os ganhos conquistados nos outros estágios, principalmente no estágio de ação, além de um esforço contínuo para prevenir possíveis lapsos e recaídas.
Lembro que as recaídas fazem parte do tratamento. Elas devem servir como estímulo para que o dependente identifique as falhas no seu comportamento e continue o processo de mudanças preteritamente assumidas.
Abaixo, forneço interessante referência sobre o tema:
Szupszynski, K. P. R.; Oliveira, M. S. (2008). O Modelo Trans-teórico no tratamento da dependência química. Psicol. teor. prat. 10 (1): 162-173.
Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA). Como falar sobre uso de álcool com seus filhos. Disponível em: http://www.cisa.org.br/materiais