por José Paulo Gomes
Apesar das atividades físicas regulares serem essenciais à qualidade de vida, 45,9% dos brasileiros – ou 67 milhões de pessoas – são considerados sedentários, não dedicando nem 30 minutos em três dias da semana aos exercícios, como apontam dados do Ministério do Esporte.
Pesquisas realizadas em países de renda alta, já indicam a ampliação dos locais públicos e abertos para a prática de atividades físicas como saída para mudar essa realidade. Ciclovias, parques e praças incentivam um maior número de pessoas a se dedicarem a diferentes modalidades. No Brasil, um dos estudos pioneiros sobre o tema é realizado pelo professor Alex Antônio Florindo, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP.
A linha de pesquisa é parte do pós-doutorado de Florindo e teve como base um estudo coordenado primeiramente no distrito de Ermelino Matarazzo, na zona leste da capital – e que se estendeu para todo o município nos últimos dois anos. Em parceria com outros institutos da USP e pesquisadores de Melbourne, Austrália, o estudo procurou estabelecer uma relação entre a existência de ciclovias, parques e outros espaços públicos abertos em torno de domicílios com a regularidade da atividade física de seus habitantes.
Escolhidos por sorteio, participaram moradores de domicílios que haviam respondido às entrevistas do Inquérito de Saúde da Prefeitura de São Paulo em 2015 (mas divulgadas só agora), amostra considerada representativa para a amplitude e complexidade da cidade. A partir do ponto central das casas, traçavam-se raios de um quilômetro, um quilômetro e meio ou quinhentos metros para encontrar os locais públicos abertos na região e cruzá-los com as respostas dos moradores com relação à regularidade com que praticavam atividades físicas.
“Constatamos que a chance de um indivíduo praticar caminhada durante o seu tempo de lazer é maior quando ele tem à sua disposição pelo menos dois tipos de espaços públicos abertos em um raio de 500 metros de sua residência”, afirma Florindo. Porém, somente cerca de 32% dos moradores estariam enquadrados neste cenário ideal e, pior que isso, 22% do grupo amostral não possuía nenhum espaço público a 500 metros ou menos de casa.
A chance de um indivíduo praticar caminhada durante o seu tempo de lazer é maior quando ele tem à sua disposição pelo menos dois tipos de espaços públicos abertos em um raio de 500 metros de sua residência.
Contudo, a situação pode mudar nos próximos anos. Isso porque o que foi constatado na pesquisa vai ao encontro do que estabelece o novo plano diretor da cidade de São Paulo, aprovado em 2014. “O plano diretor pensa na ampliação dos espaços públicos e com a pesquisa é possível afirmar a importância da ampliação dessa áreas”, explica o professor.
No entanto, Florindo também lembra que a pesquisa ainda está em uma primeira fase e nos próximos anos e meses também levará em conta os aspectos longitudinais. Além disso, também é esperada a ampliação da especificidade dos dados, permitindo realizar comparações entre diferentes períodos para verificar a possibilidade de mudanças e variações.
Neste primeiro momento foram consideradas para a pesquisa 3.406 pessoas com idade superior a 18 anos de idade. O trabalho também contou com o apoio de Chester Luiz Galvão Cesar, da Faculdade de Saúde Pública (FSP); Moisés Goldbaum, da Faculdade de Medicina (FMUSP); Ligia Vizeu Barrozo, do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP; Billie Giles-Corti, do RMIT (Royal Melbourne Institute Technology), em Melbourne, Austrália; Gavin Turrell, do Australian Catholic University (AUC), também de Melbourne; Eduardo Queiroti Rodrigues, doutorando na FSP; e William Cabral-Miranda, doutorando na FFLCH.
Fonte: Jornal da USP