por Elisandra Vilella G. Sé
Ao longo da vida fazemos balanços de tudo que vivemos, dos ganhos e das perdas, mas na maturidade e na velhice é a fase que exercitamos mais o autoconhecimento e a auto-aceitação, realizamos a atividade reflexiva de rever experiências significativas, dos propósitos de vida, das metas alcançadas, o que dificultou ou facilitou o alcance de uma meta, etc.
Fazer revisão de vida é uma atividade reflexiva bastante importante que ajuda o ser humano a discernir seu interior, a se autoconhecer, a avaliar suas estratégias de enfrentamento diante dos eventos vividos. A revisão de vida é diferente de reminiscência, é uma forma de lembrança intencional e estruturada em torno dos eventos de vida.
A pessoa tem plena consciência e intenção de lembrar suas vivências significativas, trata-se de um verdadeiro mergulho interior para avaliar o sentido de vida. É a busca da compreensão do sentido pessoal, do senso de significado, da consciência da auto-realização e crescimento pessoal e da autoaceitação.
O que é reviver a vida?
Rever a vida é entrar em contato com sua historia, é “rebobinar a fita do seu filme”, é retrospecção com introspecção. É analisar como o ator desse filme atuou na história e foram feitas as cenas ao longo de toda a vida. É uma viagem através do tempo que permite o indivíduo rever seus propósitos, seus engajamentos, suas oportunidades significativas, projetos que lhe deram valor, relações profundas com pessoas, entusiasmos e interesses. Quando você revê o filme de sua vida, que são os seus quadros mentais, você vê aqueles agentes culturais comuns aos humanos: a família, os amigos, a escola, a faculdade, a religião, a espiritualidade, os grupos sociais, o trabalho… Enfim, tudo que envolve transmissão de valores, idéias e ideais. Toda essa avaliação contribui para o alcance do bem-estar psicológico na velhice. É assim que construímos nosso senso de significado e crescimento pessoal que dão dignidade e significado à existência diária do ser humano.
A revisão de vida inclui muita riqueza, muito valor, muitos estados afetivos positivos, frutos de muitos anos dedicados às metas de vida. Por meio dela descobrimos sentimentos de alegria, gratidão, justiça, conquistas, tensões, aborrecimentos, ansiedades, angústias, mas que ajudam o indivíduo a buscar o equilíbrio interno. Quando uma pessoa passou a vida exposta a fatores de risco, tais como álcool, drogas, doenças transmissíveis, dificuldades financeiras, problemas de saúde, a revisão de vida, leva o indivíduo a se perguntar por que foi assim e por que se expôs a tais riscos. Quando a pessoa se dá conta do caminho percorrido, dos marcos em suas vidas, das conquistas, esse processo de reconhecimento contribui para a busca da verdade, do sentido de vida, e estimula a criação de novas metas.
Esse trabalho reflexivo não é fácil, é muitas vezes árduo, mas é importante para negar as angústias e saber mesclar as alegrias e tristezas, fazer as boas colheitas dos resultados conquistados. É igual a fazer balanço de um ano que acabou e rever metas de ano novo. Mas aqui se trata de toda a extensão de uma vida.
Nesse processo de conscientização das experiências acumuladas, “passar a limpo” seus quadros mentais é vital para o bem-estar psicológico e alcançar saúde mental positiva, uma vez que os recortes das experiências vividas, as compensações, as seleções das escolhas, ajudam o indivíduo a tomar fôlego e sair mais fortalecido delas.
Na revisão de vida é preciso aceitar suas características, saber lidar com os acidentes, reconhecer os momentos de imprevistos, considerar os limites impostos, se os limites não forem respeitados, você pode se machucar, tentar achar novos caminhos, criar novas metas, encontrar novos propósitos, seguir o fluxo que a experiência lhe impôs e por fim se transformar. A revisão e a recriação é uma transformação.
Metáfora da lagarta e da borboleta
A relação do indivíduo com seu próprio desenvolvimento pode ser comparado à metáfora da lagarta e da borboleta, você pode escolher ser lagarta a vida toda e não passar pela transformação de lagarta para borboleta. A borboleta possui quatro fases de seu desenvolvimento e carregam consigo a ousadia de voar e pousar em vários jardins. O corpo é leve e mesmo assim ela consegue pousar na flor aberta de onde suga o néctar adocicado e na fase adulta elas preferem os lugares abertos com flores, bosques, prados, jardins e florestas pouco densas, sem muito frio e sem muito calor, o ambiente perfeito para sua sobrevivência.